segunda-feira, 11 de abril de 2016

Como Usar a Cruz

Alguns dos melhores escritores sobre santidade concordam em que há um eu legítimo que se distingue do eu carnal. A cruz não se destina apenas a afastar aquilo que está em direta contradição com Deus, a que chamamos mente carnal. Serve também para remover toda a vida da natureza e do ego, que não poderia classificar-se como rebelião contra Deus, mas que, não obstante, pelo fato de pertencer ao eu em vez de pertencer a Deus, não pode ser usada pelo Criador e deve, portanto, ser posta de lado. 

Quanto a este ponto, George D. Watson, escritor dos primeiros tempos do movimento de santidade disse:

Há não somente morte para o pecado, mas em muitas coisas há uma morte mais profunda do ego—uma crucificação nos detalhes e nas minúcias da vida—depois que a alma é santificada. Esta crucificação mais profunda do ego é o desdobramento e a aplicação de todos os princípios da auto-renúncia com que a alma concordou em sua plena consagração. 

Jó foi um homem perfeito e morto para todo pecado; mas em seus grandes sofrimentos ele morreu para sua própria vida religiosa; morreu para suas afeições domésticas; morreu para sua teologia, para todas as suas opiniões da providência de Deus; morreu para muitas coisas que, em si mesmas, não eram pecado, mas impediam-no de maior união com Deus.

Pedro, depois de santificado e cheio do Espírito, precisou de uma visão especial vinda do céu que o matasse para sua teologia tradicional e para seu forte igrejismo judaico. O maior grau de auto-renúncia, de crucificação e de rendição a Deus, ocorre após a pureza do coração. Há um número enorme de coisas que não são pecaminosas; não obstante, o apego a elas impede uma maior plenitude do Espírito Santo e uma mais ampla cooperação com Deus. 

A sabedoria infinita toma-nos pela mão, e dispõe as coisas para levar-nos através de crucificação profunda, interior, às nossas melhores partes, nossa sublime razão, nossas mais brilhantes esperanças, nossas acariciadas afeições, nossas opiniões religiosas, nossa mais sincera amizade, nosso zelo piedoso, nossa impetuosidade espiritual, nossa arrogância espiritual, nossa estreita cultura, nosso credo e igrejismo, nosso sucesso, nossas experiências religiosas, nossos confortos espirituais; a crucificação continua até que estejamos mortos e desligados de todas as criaturas, de todos os santos, de todos os pensamentos, de todas as esperanças, de todos os planos, de todos os ternos anseios do coração, de todas as preferências; mortos para todos os problemas, todas as tristezas, todos os desapontamentos; igualmente mortos para todo louvor ou culpa, sucesso ou fracasso, confortos ou aborrecimentos; mortos para todos os climas e nacionalidades; mortos para todo desejo, exceto de Cristo. 

Há inúmeros graus de crucificação interior nessas várias linhas. Talvez não haja uma só pessoa santificada em dez mil que atinja esse grau de morte do ego que Paulo e Madame Guyon e santos semelhantes atingiram.

Eu gostaria de acrescentar que eles atingiram esses graus mais profundos de morte do ego por meio da cruz em seus fatigantes aspectos diários. É muito fácil usar a cruz ao redor do pescoço ou numa peça de vestuário sem pôr em prática a morte que ela simboliza em nossos relacionamentos pessoais diários e em nossas atitudes. É aí que ela realmente conta.


Extraído do livro “O Seu Destino é a Cruz” de Paul. Billheimer

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