quinta-feira, 12 de maio de 2016

Mansidão, a Condição Principal para Ser Guiado

Enquanto a perversidade impede a direção, a mansidão a assegura. Aqui está a advertência de Deus para o perverso: 

Instruir-te-ei e te ensinarei o caminho que deves seguir; e, sob as minhas vistas, te darei conselho. Não sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento, os quais com freios e cabrestos são dominados; de outra sorte não te obedecem.”
Salmo 32:8,9

Aqui está a promessa ao manso:

Guiará os mansos em justiça e aos mansos ensinará o seu caminho.” (ARC)
Salmo 25:9

Em relação a este verso, Dr. Arthur T. Pierson escreveu o seguinte no livro George Muller de Bristol, pp. 185-187:

Ao cuidadosamente pesar uma questão, muitos discípulos falham e tendem a ficar impacientes com a demora em tomar decisões. O impulso muito frequentemente agita, e planos da própria vontade seduzem, conduzindo-os a erros falsos e até desastrosos. A vida é muito preciosa para arriscar-se a tal falha. Nos foi dada uma promessa de grande significado:
Guiará os mansos em justiça e aos mansos ensinará o seu caminho.” (ARC)
Salmo 25:9

Há uma dupla ênfase sobre a mansidão como uma condição para ser guiado e aprender. A Mansidão é uma verdadeira preferencia pela vontade de Deus. Onde este santo hábito mental existe, mesmo não havendo qualquer sinal exterior, haverá um reconhecimento interior e escolha pela vontade de Deus. , Deus guia, não por sinais visíveis, mas por influência no discernimento. Esperar diante do Senhor, pesando honestamente em medidas cada consideração contra ou a favor de um curso proposto, aliados a uma prontidão para ver para qual caminho o predomínio direciona, é um estado de espírito e de coração no qual alguém é capacitado para receber direção. Então Deus toca as escalas e faz com que a balança penda para Sua vontade. Mas nossas mãos devem estar fora da balança, caso contrário não podemos esperar uma interposição Dele em nosso favor. Para retornar à figura sobre a qual o capítulo se inicia, a alma mansa simples e humildemente espera, e observa o mover do Pilar.

Um sinal seguro deste espírito de mansidão é o completo descanso quando são encarados os aparentes obstáculos para qualquer plano proposto ou curso. Enquanto estamos esperando e desejando apenas conhecer e fazer a vontade de Deus, obstáculos não trarão ansiedade, mas um tipo de prazer, como que possibilitando nova oportunidade para interposição divina. Se é o Pilar de Deus que estamos seguindo, o Mar Vermelho não vai nos assustar, por que vai prover uma nova cena para a demonstração do poder dAquele que pode fazer as águas se empilharem em montões, e se tornarem paredes ao nosso redor, à medida que vamos através do mar em terra seca. 

O Sr. Muller aprendeu essa rara lição, e no seu caso ele disse: “Eu tive uma satisfação secreta nas grandes dificuldades do caminho. Longe de ser abatido por elas, elas traziam deleite para a minha alma; porque eu só desejava fazer a vontade de Deus naqueles assuntos.”

Aqui é revelado outro segredo da vida santa. Para aquele que sempre coloca o Senhor diante de si, e para quem a vontade de Deus é seu deleite, existe o hábito da alma de antecipadamente liquidar as mil dificuldades e desconcertantes questões diante de si. 

O caso em questão é uma ilustração da bênção encontrada por essa mansa preferência pelo prazer do Senhor. Se é da vontade de Deus que uma viagem Continental seja feita neste tempo, dificuldades não devem desanimar; porque as dificuldades não podem ser de Deus, e, se não são de Deus, elas não devem tirar-nos do descanso, porque, em resposta à oração, elas serão removidas. Se, por outro lado, esta visita proposta ao Continente não é plano de Deus, mas apenas o fruto da vontade própria; se alguma motivação sutil secreta e egoísta estiver nos dirigindo, então nesse caso os obstáculos podem ser interferências de Deus, designados para ser Seus passos. No último caso, Mr. Muller julgou corretamente que dificuldades no caminho certamente o iriam irritar e aborrecer; e que ele não gostaria de olhar para elas, ou buscaria removê-las por seus próprios esforços. Ao invés de dar a ele uma satisfação interior de dar a Deus uma oportunidade de intervir a seu favor, essas circunstâncias iriam trazer irritação e aborrecimento, como que impedindo a vontade própria de levar em frente seus planos.  

Essa discriminação deve estar estabelecida em qualquer mente espiritual, para que haja discernimento. Cada filho de Deus deve calibrar cuidadosamente a medida de sua entrega à vontade de Deus, em qualquer assunto, pela medida da impaciência que sente nos obstáculos do caminho. Por isso, na proporção que a vontade própria o agita, qualquer coisa que aparentemente se opõe ou impede seus planos vai o incomidar e irritar, ao invés da calma entrega de todos esses impedimentos ao Senhor, para que Ele lide com eles como desejar, de acordo com Seus caminhos e Seu tempo. A vontade forte do discípulo vai se posicionar para remover esse empecilhos pelo seus próprio esquemas e esforços, com impaciência e na energia da carne, não tolerando nenhum atraso. 

Sempre que Satanás age como impedimento (1 Ts 2:18), os obstáculos que ele coloca no nosso caminho não devem nos desanimar; pois Deus permite que as coisas se atrasem e nos detenham por um tempo, apenas parar testar nossa paciência e fé, e o impedimento satânico será tratado pelo Ajudador divino que vai varrer todos os obstáculos, como o sopro da Sua boca.  


Um estudo atento da vida de George Muller nos traz a impressionante lição que, através de mais de setenta anos de caminhada como Cristão e como ativo servo de Deus, ele parece nunca ter perdido ou ter tido de rever seus caminhos. Isso deveria ser a experiência Cristã normal. A vereda do justo (o homem que estuda para fazer sempre e apenas o que é reto diante de Deus) é comparada a uma luz brilhando, subindo firmemente do nascer do sol até o meio dia (Pv 4:18). O sol nunca hesitou, perdeu seu caminho, ou teve que perder tempo para retomar seu verdadeiro curso. Mas essa vida só pode ser vivida pela incessante direção e energia divinas, assim como é Deus que sustenta o sol em seu caminho.

Traduzido do livro "Divine Guidance" (Direção Divina) de G.H.Lang

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Sendo Conduzidos

O Exemplo de Israel como Encorajamento

O Salmo 107, em sua concepção original, é uma previsão dos últimos dias da presente era da história humana. Isto pode ser atestado no versículo 3, que descreve o ajuntamento do povo de Israel dos quatro cantos do planeta. No passado, eles foram tirados do Egito para Canaã, do oeste para o leste. Depois do cativeiro da Babilônia, alguns da nação foram trazidos de volta para a Palestina, do leste para oeste. Mas ainda não aconteceu deles serem ajuntados na sua cidade do leste e do oeste, do norte e do sul. Isso está por acontecer, como predito por Isaías (45:5,6; 49:12). Os judeus foram dirigidos por Deus no passado e novamente o serão no futuro, assim como são todos aqueles que andam humildemente com Ele. 

Do versículo 4 em diante, o profeta volta a contar as experiências pelas quais Israel está sendo e ainda será conduzido, para acarretar neste alegre ajuntamento. Apesar de aprendermos que a direção de Deus já está à nossa disposição, e irá continuar assim até que homens de fé sejam trazidos para o Seu propósito para eles. Não há necessidade de vagar sem rumo através da vida, como perdido em um deserto. Deus vai nos guiar, se nos deixarmos conduzir.

A Direção Descrita
Conduziu-os pelo caminho direito, para que fossem à cidade em que habitassem.
Sl 107:7

As duas frases concisas citadas no versículo citado acima, cobrem quase que todo o tópico da direção divina:


1. “Conduziu-os”. Quem conduziu? Ninguém menos que Jeová, o eterno, fiel, poderoso, vigilante Deus. Portanto aqueles que seriam guiados por Ele, deveriam O honrar como Deus, com total confiança e obediência.


2. “Conduziu-os”. O Líder vai adiante; o conduzido O segue. Isto praticamente cobre todas as condições para ser dirigido. Algumas delas serão notadas no devido tempo.

3. “Conduziu-os”. Quem? Aqueles que sabiam que estavam perdidos no deserto, que estavam famintos, sedentos, desmaiados, atribulados, angustiados, incapazes, e aqueles que clamaram a Deus (vs. 4-6).

4. “Conduziu-os pelo caminho”, uma estrada. Nenhum outro olho além do Dele viu nenhuma estrada; aquele era um lugar selvagem, deserto, sem trilhas, uma região impossível para o homem, onde facilmente ele iria se perder e morrer. Mas Deus viu um caminho ‘através de’ e ‘para além’ dele.

5. “Conduziu-os pelo caminho direito”. Direito aqui não é no sentido de uma linha direta, ou o ponto mais curto entre dois pontos, mas o caminho direto, ou: “O menor caminho para você é assim e assim; é mais longo, mas é mais direto; siga em frente, não vire, o caminho mais curto é mais difícil de encontrar e é mais duro.” O caminho de Deus é sempre o único caminho certo, o caminho verdadeiramente reto. Veja a palavra em Esdras 8:21. O caminho da Assíria para Canaã era, na verdade, um grande desvio, norte-oeste, oeste e sul; mas era o caminho direito sob as condições da viagem. 

6. “Conduziu-os pelo caminho direito, para que fossem”. Aquele que vai escapar do deserto deve seguir em frente. Letargia da alma é fatal. Aquele que se estabelece não pode ser conduzido; não precisa de um guia. Contentamento com este mundo, satisfação com o presente, impede o direcionamento. Assim temos o mortal perigo da prosperidade terrena e facilidade,  conduzem à sonolência no deserto.

7. Conduziu-os ... para ... à cidade”. A jornada longa demanda um espírito de peregrino, um avanço incessante e persistente resistência contra o desejo de dormir neste vale encantado: nós não temos cidade permanente, mas buscamos a que há de vir, portanto, deixemo-nos levar (Hb.13:14; 6:1). Mas Deus está conduzindo peregrinos à uma cidade – lugar de estabilidade, de permanente segurança e paz, para um reino que não pode ser abalado. Ele sabe a única rota de lá: a fé segue fervorosamente, serenamente.

8. Esta é uma “cidade de habitação”, de residência permanente. Eles não sairão mais dali. A peregrinação, o deserto serão passado, apesar do enriquecido aprendizado e conhecimento de Deus permanecerem: a cidade de Deus foi ganha; onde Ele tem Sua casa será o lar daqueles que se deixaram conduzir:
Oh felizes peregrinosOlhem para os céus acimaOnde uma leve afliçãoLeva a um prêmio assim.(Neale)


Traduzido do livro "Divine Guidance" (Direção Divina) de G.H.Lang

terça-feira, 10 de maio de 2016

Direção Divina

A direção de Deus nos assuntos do homem é um fato importante na história, e um grande tema da Bíblia.  

O homem é naturalmente míope e não pode ver sequer o amanhã. De fato, ele nem sempre vê o que está acontecendo diante de seus olhos. Como consequência, o homem não pode dispor de forma sábia no dia de hoje o que se encaixará amanhã. Frequentemente, mesmo seus melhores planos saem do controle. 

Assim, como retratado no Salmo 107, no versículo 4, ele vaga em um deserto, por ermos caminhos. Aquele que teve a oportunidade de atravessar um deserto vai apreciar, como esse autor, a facilidade fatal do caminho ser perdido, e a grande dificuldade de encontra-lo de novo. 

Assim é a vida humana, especialmente em relação ao seu objetivo, que é a eternidade. Nenhum dos filhos de Adão sabe por si mesmo hoje qual o melhor caminho como preparação para amanhã, ou o verdadeiro caminho para leva-lo finalmente à eternidade abençoada. 

Quão importante então, e quão urgente, é a necessidade de direção divina. Quão confortador é para a mente do viajante estar sob os cuidados de um guia que conhece todo o país, e cada curva do caminho a sua frente. Quão tolo é se atrapalhar em ordenar negócios pessoais, ao invés de se beneficiar do perfeito conhecimento e invencível poder de Deus, o Infalível. Foi o mais sábio de todos os filhos dos homens quem disse:

Confia no SENHOR de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas.”
(Pv.3:5,6)

Direção é um assunto individual. Ninguém pode andar seguramente por uma luz concedida a outro. Estas páginas não serão como um guia santo dando direções autoritárias que os penitentes devem seguir. O objetivo é demonstrar princípios e condições que se atribuem à direção de Deus, conforme ilustrado por incidentes das Escrituras e da experiência, de forma que sirva de ajuda a cada um para obter a direção que será necessária de tempo em tempo. 

O Salmo 107, em sua concepção original, é uma previsão dos últimos dias da presente era da história humana. Isto pode ser atestado no versículo 3, que descreve o ajuntamento do povo de Israel dos quatro cantos do planeta. No passado, eles foram tirados do Egito para Canaã, do oeste para o leste. Depois do cativeiro da Babilônia, alguns da nação foram trazidos de volta para a Palestina, do leste para oeste. Mas ainda não aconteceu deles serem ajuntados na sua cidade do leste e do oeste, do norte e do sul. Isso está por acontecer, como predito por Isaías (45:5,6; 49:12). Os judeus foram dirigidos por Deus no passado e novamente o serão no futuro, assim como são todos aqueles que andam humildemente com Ele. 


Do versículo 4 em diante, o profeta volta a contar as experiências pelas quais Israel está sendo e ainda será conduzido, para acarretar neste alegre ajuntamento. Apesar de aprendermos que a direção de Deus já está à nossa disposição, e irá continuar assim até que homens de fé sejam trazidos para o Seu propósito para eles. Não há necessidade de vagar sem rumo através da vida, como perdido em um deserto. Deus vai nos guiar, se nos deixarmos conduzir.

Traduzido do livro "Divine Guidance" (Direção Divina) de G.H.Lang

sábado, 7 de maio de 2016

Contemplando o Senhor

“Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade. E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.” 
2 Co 3:18

O apóstolo diz nesse texto, “todos nós, com rosto desvendado, contemplando, por espelho…”. Os revisores tiveram alguma dificuldade aqui, assim como os tradutores da Versão Autorizada (em inglês), e eles não conseguiram chegar a um consenso em sua dificuldade. Eles não sabiam exatamente o que Paulo quer dizer, então colocaram de formas diferentes em suas traduções o que está no texto, e o que está na margem. Será que o apóstolo queria dizer que nós éramos um espelho? Que aquela imagem é lançada sobre nós como um espelho, e então retorna - será que é isso que o apóstolo quis dizer? Ou será que ele queria dizer que Cristo é o espelho, e estamos olhando para Ele, e Ele está refletindo a glória de Deus? Eu penso que é isso que ele quis dizer. Ele falou sobre a “glória de Deus na face de Jesus Cristo” - e eu penso que a palavra “face” realmente eqüivale  a “espelho”. Eu sei que não é a mesma palavra grega no original, mas é uma outra palavra com o sentido; está “na face de Jesus Cristo”. “E contemplando, como na Face de Jesus Cristo” - é o que o apóstolo está dizendo aqui. 

Portanto a palavra “contemplando” é muito forte; não é só dar uma olhada, mas “fixar o nosso olhar”. É isso que o Novo Testamento quer dizer por contemplando, contemplar. 

Todos, fixando nossos olhos em Cristo, na medida que Ele reflete na Sua própria Pessoa a glória de Deus, a satisfação de Deus, a intenção de Deus em perfeição. O ponto aqui é que eu e você devemos contemplar o Senhor Jesus no espírito, e estar ocupados com Ele. Devemos ter nosso Santo dos Santos para onde nos retiramos com Ele. Devemos ter um lugar secreto onde passamos tempo com Ele. Não me refiro a uma ocasião especial em algumas épocas, mas devemos buscar, a medida que nos movemos, sempre O MANTER DIANTE DE NÓS. Olhando para o Senhor Jesus, contemplando-O, devemos ser mudados na mesma imagem.  O Espírito Santo vai operar quando estivermos ocupados com isso. 

Você se torna semelhante aquilo pelo qual é obcecado, aquilo que te ocupa. Isso não é verdade? Você vê pessoas ocupadas com algumas coisas, e logo você vê o caráter mudando de acordo com a sua obsessão. Eles vão se tornando semelhantes àquilo que se torna sua obsessão; eles vão mudando, ficando diferentes. Algo os capturou, e eles não conseguem pensar em outra coisa, e isso vai mudando seu caráter. O apóstolo Paulo disse, “para mim o viver é Cristo - estar ocupado com Ele”. Apesar de não ser a palavra mais adequada, seria muito bom que Ele se tornasse a nossa “obsessão”, nossa contínua ocupação. Se permanecermos firmes com nosso olhar Nele, o Espírito nos transforma na mesma imagem.


Traduzido do livro “Men whose eyes have seen the King” - T.Austin-Spark (parte do capítulo 4)

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Cristo, Nossa Porção

Não há nada tão vital ou tão básico à nossa vida Cristã e para a vida da igreja, nada tão real como o desfrute prático de Cristo. Este desfrute não é Cristo em doutrina ou em conhecimento, mas Cristo em vida, no Espírito e em realidade. Ele é uma Pessoa viva com quem podemos nos relacionar. 

Colossenses 1:12 diz, “Dando graças ao Pai, que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz”. A Versão King James utilizou a palavra “herança”, mas o tradução mais adequada da palavra usada no original grego é "porção". O próprio Cristo é a porção dos santos. Deus nos deu Cristo como um presente (Jo. 3:16), e este presente é nossa porção. Após me tornar um Cristão, durante vários anos, sabia que Cristo era meu Salvador (Atos 5:31), Senhor (Atos 2:36) e vida (Cl. 3:4). Porém, não percebi que Cristo era a porção dos santos. Cristo como a porção dos santos não é tão simples ou pequeno. Como nossa porção, Ele está relacionado a Deus, a criação e a nova criação. A nova criação é a igreja como o Corpo de Cristo. Cristo é a imagem do Deus invisível (Cl. 1:15). Deus é invisível (Jo. 1:18; 1 Tim. 1:14-17; 6:16), contudo Cristo é a imagem, a expressão exata, a explicação e definição do Deus invisível. Sem Ele não podemos conhecer ou ver a Deus. 

Colossenses 2:6-7 diz, “Ora, como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele, nele radicados, e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graças”. Nesta curta oração, há dois verbos significativos: “receber” e “caminhar”. Como você recebeu a Cristo, andai Nele. A frase “andar Nele” não é tão simples. Nós caminhamos, não com Ele ou de acordo com Ele, mas Nele. Caminhar é viver, agir, se comportar de todo nosso ser. Embora as palavras mencionadas nestes versículos sejam simples, o pensamento transmitido revela muitos mistérios que são difíceis de entender. Podemos conhecer estas palavras simples, contudo precisamos perguntar se temos ou não a experiência revelada aqui. O que significa em nossa experiência andar Nele, estando arraigados e alicerçados Nele? Precisamos ser esses que andam, que vivem e que se movem em Cristo. 

O que significa andar Nele (Cl. 2:6)? Significa simplesmente andar no espírito. Quando você anda no espírito, vive no espírito, faz coisas no espírito, se move pelo espírito e mantém seu ser no espírito, toda sua vida será mudada. Não há nenhuma necessidade de corrigir ou melhorar seu comportamento. Apenas permaneça no espírito, e você verá a mudança em sua vida. Haverá uma mudança automática e inconsciente. Não preste atenção a sua fraqueza. Se esqueça de suas fraquezas, problemas e envolvimentos, e simplesmente se volte ao espírito. 

Suponhamos que precisamos de descanso, paz, ou conforto. Como poderíamos desfrutar de Cristo como descanso, paz, ou conforto? Alguns diriam, de uma maneira muito natural, que teríamos que confiar no Senhor e orar para que Ele nos conforte e nos conceda a Sua paz interior. Isto certamente não é errado. Porém, o segredo para desfrutar Cristo não é praticar desta maneira; pelo contrário, é permanecer no espírito. Aprenda a permanecer no espírito vigiando e orando (Mt. 26:41; Cl. 4:2; Ef. 6:18). Você terá paz quando vigiar e orar para permanecer no espírito. Às vezes quando estamos numa situação difícil, precisamos de paz e conforto. Podemos ter tentado desfrutar Cristo como sua paz, mas talvez tenhamos falhado. A razão para este fracasso é que estávamos fora do espírito, tentando desfrutar Cristo. O jeito certo é permanecer no espírito, voltar ao espírito; então, teremos paz e descanso. É muito simples. 

Suponha que precise de orientação. Sempre que estou fora do espírito, estou vagando, sem saber para onde ir ou qual o caminho certo a tomar. Quanto mais eu considerar em minha mente, mais confuso ficarei. Do mesmo modo, quanto mais eu permanecer em minha mente, considerando qual é a decisão adequada a tomar, mais indeciso e hesitante ficarei. Mas quando esqueço da minha própria orientação ou maneira certa, e simplesmente vigio e oro, enquanto permaneço no espírito, fica claro o caminho que preciso tomar. 

O problema é que é muito fácil estarmos fora do nosso espírito. Quando estamos deprimidos ou “fora dele”, não temos como sairmos do espírito porque já estamos fora do espírito. Se nós considerarmos nosso andar diário, dia a dia, de manhã à noite, perceberemos que freqüentemente não estamos no espírito. Se conferirmos nossa vida diária, concluiremos que a maior parte do tempo estamos em nossa mente, não em nosso espírito. Quando estamos na mente, não temos paz, não temos a presença de Cristo, e estamos em trevas. Mas quando nos voltamos ao nosso espírito, imediatamente as coisas se tornam claras para nós, e estão temos a orientação, a paz, a paciência,e a unção interior. Esta experiência é muito simples, contudo nós a tornamos muito complicada. Ao invés de nos voltamos ao espírito, preferimos permanecer em nossa mente, com nossas considerações, pedindo ao Senhor para nos ajudar em nossas questões e fazer esta ou aquela coisa para nós. 

Nós precisamos nos voltar ao espírito todo o tempo. Esta é a única maneira de desfrutarmos Cristo todo o tempo. Talvez você esteja a ponto de discutir com sua esposa ou dizer algo aos irmãos. Não fique tentando não discutir ou tentando falar a melhor palavra, mas volte-se ao espírito. Espontaneamente, você saberá responder a sua esposa. Você também saberá o jeito certo para falar com seus filhos ou para ter comunhão com os irmãos. Quando nós estamos no espírito, temos certo ponto de vista; quando estamos em nossa mente, temos outro ponto de vista. Nós somos as mesmas pessoas, com o mesmo ambiente, contudo nossas opiniões e decisões variam dependendo de onde estamos — no espírito ou na mente. 

O modo prático para desfrutar Cristo é voltar simplesmente ao espírito a todo o tempo, permanecendo lá para contatar o Senhor. Não há nenhuma necessidade de pedir-Lhe para te ajudar ou para fazer algo para você. Apenas contate-O, olhe para Ele, agradeça-O, louve-O e adore-O. Esqueça de seus problemas, pontos fracos e circunstâncias. Simplesmente permaneça no espírito para contatá-Lo, olhe para Ele, agradeça-O, louve-O e adore-O. Você verá a diferença. 

Aprenda a fazer uma coisa — volte-se para o espírito todo o tempo. Permaneça no espírito para contatar o Senhor. Você verá o quanto Ele é para você. Ele é tudo o que você precisa, tal como paz, orientação e sabedoria. Nosso problema é que ficamos fora do espírito a maior parte do tempo. Precisamos perceber a artimanha do inimigo e temos que vigiar e orar para sempre permanecer no espírito. Se temos que pedir ao Senhor que nos ajude em alguma coisa, devemos Lhe pedir dia e noite, “Senhor, me ajude a permanecer no espírito. Ajude-me a guardar-me no espírito. Ajude-me a continuar no espírito”. O Senhor é tão rico e ilimitado, contudo nós não podemos desfrutá-Lo fora do espírito. Há somente um lugar e somente uma maneira pela qual podemos desfrutá-Lo, isto é, temos que nos voltar ao espírito e lá permanecer, contatando-O a todo o tempo. Precisamos fazer isto a todo o tempo, de manhã à noite, olhando para o Senhor para que possamos permanecer no espírito. 

Extraído do livro "Cristo Nossa Porção" de Witness Lee

terça-feira, 3 de maio de 2016

Cristo é o Único Poder para Livramento

Carta escrita por Hudson Taylor a uma irmã:

“Agradeço muito sua apreciada e longa carta...Acho que você não nos tinha escrito uma carta destas desde nossa volta à China. Sei que com você acontece o mesmo que comigo – não é que você não queira, é que não pode. A mente e o corpo só aguentam até um limite certo de esforços ou trabalhos. 

Quanto ao trabalho – o meu nunca foi tanto, de tamanha responsabilidade ou dificuldade, mas o peso e a tensão desapareceram. Este último mês (ou mais de um mês) tem sido, talvez, o mais feliz de minha vida, e quero muito contar-lhe um pouco o que o Senhor fez por minha alma. Não sei até onde poderei tornar-me claro no assunto, pois nada há de novo, ou estranho, ou maravilhoso – e ao mesmo tempo está tudo diferente e novo!..

Quem sabe posso explicar se voltar atrás um pouco. Bem, mana, minha mente labutava muito nestes últimos seis a oito meses, sentindo a necessidade de maior santidade, vida e poder de alma, para mim e para a Missão. Mas em primeiro lugar estava minha necessidade pessoal. Senti a ingratidão, o perigo e o pecado de não viver ainda mais perto de Deus. Orei, agonizei, jejuei, esforçava-me, tomava decisões, lia a Palavra com maior diligência, procurava passar mais tempo meditando – mas tudo em vão. Todos os dias, quase hora por hora, a consciência do pecado me oprimia.

Bem sabia eu que, se conseguisse permanecer em Cristo, tudo estaria vem, mas não podia. Começava o dia com oração, resolvido a não tirar dEle os olhos nem por um momento, mas a pressão das obrigações, às vezes muito difíceis, e as constantes interrupções que tendem a impacientar-nos, faziam com que eu me esquecesse dEle. Também, aqui, o clima age de tal modo sobre os nervos, que as tentações à irritabilidade, pensamentos duros, e às vezes palavras ásperas são mais difíceis de controlar. Cada dia trazia seu registro de pecado, fracasso, e falta de poder. ‘O querer o bem’ estava ‘em mim’ mas como efetuá-lo, não conseguia descobrir.

E então veio a pergunta: não haveria salvamento? Teria que ser assim até o fim – constante conflito, e, muitas vezes, a derrota? Como eu poderia pregar sinceramente àqueles que receberam a Jesus, Ele ‘deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus’ (i.e., semelhantes a Deus) quando não era assim em minha própria experiência? Em vez de tornar-me mais forte, parecia enfraquecer-me cada vez mais, e ter menos poder contra o pecado; naturalmente, pois a fé e até mesmo a esperança fraquejavam. Eu tinha horror a mim mesmo, ao meu pecado, e todavia não ganhava terreno contra isto. Sentia que eu era filho de Deus. Seu Espírito clamava em meu coração, apesar de tudo: ‘Aba, Pai’. Mas eu não tinha força de espécie alguma para erguer-me à altura de exercer meus privilégios de filho.

Achei que a santidade, a santidade prática, seria gradativamente alcançada por meio de um emprego diligente dos meios de graça. Nada havia que eu desejasse tanto quanto a santidade, nada de que eu tanto necessitasse; mas longe de alcança-la mesmo em parte, quanto mais eu a buscava, mais ela fugia do meu alcance, ao pode de sentir ameaçada de morte a esperança existente em mim; e comecei a imaginar se – talvez para tornar mais doce o céu – Deus não o dava nesta vida. Não acho que eu tentava obtê-la com minhas próprias forças. Sabia que eu não tinha esse poder. Falei isso ao Senhor, e pedi-Lhe assistência e poder. Às vezes eu quase cria que Ele haveria de me guardar e suster; mas, olhando para trás, ao entardecer – ah! Só havia pecados e derrotas para confessar e chorar diante de Deus.

Não quero dar a impressão de ter sido esta a única experiência daqueles longos e exaustivos meses. Mas foi um estado de alma bastante frequente que quase terminou em desespero. Entretanto, Cristo nunca me pareceu tão precioso! Um Salvador que podia e queria salvar este pecador!.. E às vezes havia períodos não só de paz como também de gozo no Senhor; porém duravam, pouco, e ainda assim fazia-se sentir em mim a triste falta de poder. Oh! Como o Senhor foi bom em dar um fim a este conflito!

E o tempo todo eu tinha certeza de que em Cristo havia tudo que eu precisava, mas o que eu me perguntava então era – como obtê-lo? Ele tão rico, eu tão pobre; Ele tão forte, eu tão fraco. Em sabia que havia fartura na raiz e no tronco, mas como fazê-la passar para o meu raminho desnutrido, era a questão. Fui vendo como que um raio de luz, e percebi que a fé era o único requisito, a única exigência – o instrumento pelo qual eu poderia me apossar de Sua plenitude, tornando-a minha. Mas eu não tinha essa fé.

Lutei para obter fé, mas não a recebia; tentei exercitá-la, porém em vão. E ao ver mais e mais a maravilhosa abundância de graça que se deposita em Jesus, a plenitude da perfeição de nosso precioso Salvador, a minha culpa e incapacidade pareciam aumentar. Os pecados cometidos pareciam-me insignificantes comparados ao pecado da incredulidade que causava aos outros; que recusava confiar que Deus cumpre a Sua Palavra e fazê-Lo mentiroso! Eu achava ser a incredulidade o pecado que condena o mundo; e eu o possuía. Orava por mais fé, e não recebia. O que devia fazer?

Quando a agonia da alma em que me encontrava chegou ao auge, uma frase de uma carta escrita por um querido amigo McCarthy, agiu para remover as escamas de meus olhos, e o Espírito de Deus me revelou a verdade de nossa união com Jesus como nunca antes a tinha conhecido. McCarthy, que fora abalado pelo mesmo sentimento de fracasso que eu, enxergara a luz primeiro, escreveu assim (cito de memória):

Como fazer para que a fé se fortaleça? Não lutando por ela, mas, sim, descansando sobre Aquele que é fiel.

E lendo, compreendi perfeitamente! ‘Se somos infiéis, Ele permanece fiel’. Olhei para Jesus e vi (e quando vi, ah, que gozo senti!) que Ele disse: ‘Nunca o deixarei’.

- Oh! está o descanso! Pensei. Lutei em vão para descansar nEle. Não lutarei mais. Pois Ele não promete ficar comigo – nunca me deixar, nunca me desamparar? E sabe, mana, nunca o Senhor há de me deixar.

Não foi só isto que Ele me mostrou, esta foi uma fração do todo. Enquanto eu pensava na Videira e nas varas, quanta luz o Espírito bendito derramou em minha alma! Como parecia errado eu querer tirar a seiva, a plenitude dEle! Vi então que Jesus não só nunca me deixará, mas que eu sou membro do Seu Corpo, da Sua carne e de Seus ossos. A videira não é só a raiz, mas tudo – raiz, tronco, galhos, raminhos, folhas e frutos. E Jesus não é só isto – Ele é solo e sol, ar e chuva, e dez mil vezes mais do que tudo que já sonhei, desejei ou precisei. Ah! O gozo de ver esta verdade! Oro para que os olhos de seu entendimento possam também ser esclarecidos, para que você conheça e experimente as riquezas a nós concedidas, gratuitamente, em Cristo. 

Ah! Minha cara irmã, é uma coisa esplêndida ser realmente um com o Salvador ressurreto e exaltado, ser membro de Cristo! Pense no que isto implica. Cristo pode ser rico e eu pobre? Sua mão direita pode ser rica e a esquerda pobre? Ou sua cabeça bem nutrida enquanto o corpo morre de fome? E mais, pense no que significa a oração. Será que o funcionário do Banco pode dizer a um cliente: - 'Foi só a sua mão, não foi o Sr.que preenchei aquele cheque'; ou então: - 'Não posso pagar essa quantia à sua mão, só ao Sr.mesmo?' Do mesmo modo, nossas orações não podem ser desacreditadas se não são oferecidas em nome de Jesus (e.e., não só por causa de Jesus, por amor de Jesus, mas na base de que nós somos dEle, membros Seus) contanto que fiquemos dentro dos limites de Cristo – o que é um limite razoavelmente amplo! Se pedirmos qualquer coisa contrária às Escrituras, ou que não esteja de acordo com a vontade de Deus, Cristo mesmo não faria isso. Mas ‘se pedirmos alguma coisa segundo a Sua vontade...obteremos os pedidos que Lhe temos feito’.

A parte mais doce, se é que podemos dizer que uma parte seja mais doce que a outra, é o descanso que decorre da plena identificação com Cristo. Agora já não estou mais ansioso sobre coisa alguma, quando reconheço isso; pois Ele, estou certo, é em tudo capaz de realizar a Sua vontade, e Sua vontade é a minha. Não importa onde Ele me coloque, nem como. Isto é antes para Ele do que para mim considerar; pois no lugar mais fácil Ele tem de dar-me Sua graça, e no lugar mais difícil, Sua graça me basta. Para o meu servo, por exemplo, não fará diferença que eu o mande sair para comprar algumas coisas de pouco valor, ou artigos muito caros. Em qualquer caso, ele me procurará para eu lhe car o dinheiro e para me trazer as compras. Assim, se Deus me coloca em sérias perplexidades, não precisa me dar muita orientação? Se em posições de grande dificuldade, abundante graça? Em circunstâncias de fortes pressões e provas, grande força? Não há o perigo de que os Seus recursos sejam insuficientes para qualquer emergência! E os Seus recursos são meus, pois Ele é meu, está comigo, habita em mim.

E desde que Cristo tem assim habitado, pela fé, no meu coração, como me sinto feliz! Gostaria de poder falar-lhe, ao invés de estar escrevendo. Não é que eu seja melhor do que fui. Em certo sentido, não desejo ser, nem estou procurando isso.  Mas eu estou morto e sepultado com Cristo – sim, e ressuscitado também! E agora Cristo vive em mim, ‘e esse  viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a Si mesmo se entregou por mim’...
Agora preciso terminar. Não disse a metade do que gostaria, nem disse como gostaria, se tivesse mais tempo. Que Deus lhe dê a apropriação dessas verdades benditas. Não continuemos a dizer, em efeito: “Quem subirá ao céu? (isto é, para trazer do alto a Cristo)”. Em outras palavras, não consideremos que Ele esteja longe, quando Deus nos fez com Ele, membros de Seu próprio corpo. Nem devemos olhar essa experiência, essas verdades, como sendo para uns poucos. São o direito e patrimônio de todos os filhos de Deus, e ninguém pode prescindir deles sem estar desonrando o seu Senhor, Cristo! Ele é o único poder para o livramento do pecado ou para o serviço verdadeiro”.


Extraído do livro “O Segredo Espiritual de Hudson Taylor” (Editora Mundo Cristão)