sexta-feira, 5 de junho de 2015

Encontrar, comer e alegrar-se

Quando as tuas palavras foram encontradas, eu as comi; elas são a minha alegria e o meu júbilo [...].” (Jeremias 15:16)

Temos aqui três coisas: encontrar a Palavra de Deus. Só a encontram aqueles que a procuram diligentemente. Depois, o comer. É a apropriação pessoal para o nosso sustento, é absorvemos no íntimo do ser as palavras de Deus. “[...] Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt.4:4). Temos em seguida a alegria. Temos aqui as três coisas: encontrar, apropriar-se e alegrar-se. Comer é a ideia central. Vem precedida de encontrar, e é seguida da alegria. Comer é o único propósito e utilidade do encontrar, é a causa e a vida do alegrar-se...

Para bem compreender a diferença entre o comer e o encontrar as palavras de Deus, compare o trigo guardado no celeiro com o pão sobre a mesa. Todo o trabalho diligente em semear, colher e guardar o trigo no celeiro, toda a recompensa pelo trabalho, tudo isso de nada vale ao homem se ele não se alimentar diariamente do pão que seu corpo necessita. No encontrar, no colher e no guardar, procura-se a maior quantidade e a maior rapidez possível – e essas coisas têm que ser feitas. No comer acontece justamente o contrário – aqui é a porção pequena e a continuação vagarosa e incessante que caracteriza a apropriação.

Você percebe a aplicação que essa ilustração tem ao estudo das Escrituras em sua hora tranquila matinal? Você precisa achar as palavras de Deus e, em meditação, conhece-las a fundo, de tal modo que elas fiquem armazenadas em sua mente e sua memória, para o seu próprio uso e para o uso de outros. Nesse trabalho é possível que haja muitas vezes uma grande alegria, a alegria da colheita ou a alegria da vitória, a alegria do tesouro adquirido ou das dificuldades vencidas. Entretanto, é preciso que nos lembremos de que o encontrar e possuir as palavras de Deus ainda não é o comê-las, pois somente o comer traz vida divina e força para a alma.

O fato de estar ocupado em conseguir o bom trigo e o fato de possuí-lo não alimenta o homem. O fato de estar profundamente interessado no conhecimento da vontade de Deus não vai, por isso só, alimentar a alma. “Quando as tuas palavras foram encontradas”, foi a primeira parte. “Eu as comi”, foi o que trouxe alegria e gozo. 

O que é comer? O trigo, cultivado pelo agricultor que muito se alegrou em possuí-lo, não pode alimentar o seu corpo enquanto não o tomar e comer. É preciso que ele o assimile tão bem que se torne parte do seu corpo, entrando em seu sangue e formando a sua própria carne. Isso tem de ser feito em pequena quantidade de cada vez, duas ou três vezes ao dia, todos os dias do ano. É essa a lei do comer. Não é a soma da verdade que eu extraio da Palavra de Deus, não é o interesse ou o sucesso do meu estudo bíblico, nem é a maior clareza ou a maior quantidade dos conhecimentos adquiridos que me asseguram a saúde e o crescimento espiritual....Jesus disse: “[...] A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e concluir a sua obra” (João 4:34).

É preciso tomar uma pequena porção da Palavra de Deus – alguma ordem explícita para a nova vida – recebe-la em sua vontade e em seu coração, submeter-se de modo absoluto à ordem divina...é preciso comer a palavra para que ela permaneça no mais íntimo do ser e se torne parte integrante da vida....Seja uma verdade ou seja uma promessa, aquilo que você come torna-se parte de você; você o leva por onde quer que vá como uma parte da vida que você vive.

...Você pode colher e armazenar trigo para muitos e muitos anos. Mas você não pode ingerir quantidade suficiente de pão que o alimente por vários dias....é preciso que o comer da Palavra de Deus seja feito em pequenas porções, e na quantidade que a alma possa receber e digerir. E isso diariamente, ano após ano. George Muller diz que aprendeu que não devia parar de ler a Palavra enquanto não se sentisse feliz em Deus. Só então ele se sentia preparado para enfrentar o seu dia de trabalho.

Extraído do livro “A Vida Interior” – Andrew Murray.

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