A Base da Vitória
Apenas uma palavra, ou duas, em relação à base da vitória neste conflito. A base da vitória aqui em 1 Reis 18 foi sem dúvida alguma o altar, e em Efésios a base é a mesma. Antes de você alcançar sua posição nos lugares celestiais para o conflito e triunfo celestial, você precisa passar pelos primeiros capítulos de Efésios e reconhecer que uma morte aconteceu, que um altar estava ali, e que, tendo morrido, você foi ‘vivificados e ressuscitados juntamente...'. Todos os aspectos da cruz, do altar, estão implícitos no início da carta aos Efésios, de modo que tanto na representação como naquilo que é representado, a base da vitória é a cruz, o altar. Elias pegou doze pedras, e a constituição do altar com doze pedras imediatamente traz o aspecto administrativo em relação ao altar, pois doze é o número da administração. O altar formado por doze pedras torna-se o instrumento administrativo, o princípio governamental neste conflito nas mãos de Deus. O governo está na cruz, e pela cruz, pois ’pela cruz Ele triunfou, e em Sua cruz Ele despojou os principados e potestades, e os expôs publicamente’. Eu me pergunto se, ao ler esses fragmentos de 1 Reis 18, você ficou impressionado com os termos: “…conforme o número das tribos dos filhos de Jacó, a quem veio a palavra do Senhor, dizendo: Israel será o teu nome”. O que significa isto? Bem, Israel significa ‘um príncipe com Deus’, assim, no verso 31 nós temos os filhos de um príncipe de Deus representados no altar, na cruz.
Simbolicamente isto nos fala muito claramente da base de nossa chegada a nossa posição de príncipes, de nossa posição governamental em Cristo, que é o Príncipe com Deus. Ele é maior que Israel, pois Ele é o Príncipe com Deus, e nós somos filhos Nele e participamos da Sua Realeza. Isto nos traz para uma posição de autoridade espiritual em Cristo nos lugares celestiais, mas tudo está ligado ao altar, à cruz. A cruz é a base da vitória, e isto é confirmado novamente, não apenas pelo testemunho do céu, a Palavra de Deus, mas pelo testemunho do inferno. Satanás é uma testemunha não usual, relutante – e às vezes eu me pergunto se ele é uma testemunha inconsciente – da verdade neste sentido, pois está perfeitamente claro que ele odiava a cruz, e tentou num primeiro momento manter o Senhor Jesus longe dela: “...isto de modo algum acontecerá a Ti. Porém Jesus virou-se e disse: Para trás de Mim Satanás." Este é Satanás tentando manter o Senhor Jesus longe da cruz, e então, tendo fracassado, ele tentou tirá-Lo da cruz: “Se Tu és o Filho de Deus, desça da cruz”. Aquelas sugestões sutis "... deixe-O descer da cruz e iremos crer Nele.” Foi para ser crido pelo mundo que Ele tinha vindo, mas, não, o segundo método do inimigo não teve êxito.
O inimigo, tendo fracassado ao longo dessas linhas, e tendo a cruz sido efetivada apesar dele, irá procurar agora mudar e alterar a pregação da cruz, a fim de torná-la sem efeito. Ele irá fazer com que as pessoas preguem sobre ela, e na própria pregação, a tornem vazia. Isto é extraordinariamente sutil! É, também, para que possamos reconhecer quão longe o inimigo irá. Ele irá promover a pregação da cruz, e a cruz pregada pela sua instigação e sob a sua influência é tornada ineficaz. O Apóstolo nos fala disto em sua primeira carta aos Coríntios, que a cruz pregada na sabedoria dos homens torna-se sem efeito, ou vazia. Homens pregando a cruz em sua própria sabedoria estão simplesmente tirando o verdadeiro significado e poder da cruz. Oh, sim, você ouve muito sobre o caminho da cruz, mas não é o caminho da cruz. O próprio poder da cruz reside em seu registro contra o inimigo e todas as suas obras. Contra o pecado como um princípio, e contra o mal como um estado, uma natureza. O poder da cruz é retirado quando você fala sobre os heróis da cruz, e sobre o caminho da cruz como, bem, qualquer homem que negue a si mesmo e renuncia a sua vida por seu País está na mesma categoria que Jesus Cristo, que, afinal de contas, renunciou a Sua vida como qualquer soldado tem feito. Esta é a cruz no modernismo.
Outra coisa que o inimigo procura fazer em relação a cruz é manter os cristãos ignorantes de seu pleno significado. É um grande dia para o Senhor, e um terrível dia para o inimigo, quando um cristão recebe revelação do significado pleno do Calvário. Este dia marca um novo pedaço da história no campo do conflito. Você pode enfrentar certo tipo de oposição no terreno da obra substitutiva do Senhor Jesus, mas, acredite, você irá enfrentar dez vezes mais quando chegar no terreno da obra representativa do Senhor Jesus, e quando você assumir o seu lugar na identificação com Cristo na morte, no sepultamento e na ressurreição no sentido espiritual. Aí começa uma nova história de conflito, de batalha e de antagonismo satânico, porém, você entrou num campo novo e num lugar novo, e você tem novos poderes a seu dispor. O inimigo perdeu seu terreno. Multidões creem na obra substitutiva e se alegram nela, mas ainda estão se movendo na energia do homem natural, mesmo como cristãos. Não representam uma ameaça ao inimigo naqueles níveis mais elevados, mas, quando a cruz é aceita desta maneira e plantada em nossas vidas de modo que a vida natural é colocada de lado - "Estou crucificado com Cristo e vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim” – então há um novo campo de significado para o Senhor e de significado para o inimigo, e por isso, um novo campo de conflito. O inimigo está pronto para tirar este lado da cruz dos cristãos, e dissemos anteriormente, e é verdade, que você frequentemente enfrenta mais oposição nesta linha por parte de cristãos do que de quaisquer outros. É algo estranho. Imediatamente ao seguir com o Senhor em toda plenitude do significado do Calvário, você descobre que a sua principal dificuldade está no campo dos cristãos, e, via de regra, cristãos ‘oficiais’. Os líderes não aceitarão isto, e você descobre que o seu caminho fica infinitamente mais difícil. É verdade que o inimigo de fato odeia a plenitude da cruz, e ele irá procurar de todos os meios destruir o seu valor para os crentes, ocultar o seu significado deles, e, se possível fazê-los abandonar a posição e descer da cruz, ou persuadi-los a não aceitá-la.
Bem, este é o seu testemunho do valor da cruz! Ele é uma testemunha do seu significado. A cruz, então é a base da vitória, e o inimigo sabe disto muito bem.
Não irei mais longe por ora. Precisamos tomar isto, pensar sobre isto e aplicá-lo, mas lembre-se deste ponto grande e conclusivo: Satanás é um inimigo derrotado para todo aquele que realmente está crucificado com o Senhor Jesus Cristo, porque o Calvário não significa a Sua derrota, e, assim como fomos plantados na morte de Cristo, assim também permanecemos com Ele naquela derrota do inimigo, naquela vitória do Senhor Jesus. Assim, embora ele possa rugir, esbravejar, lutar, afligir, pressionar e assediar, o fato que permanece é que para aquele que é um com Cristo em Sua cruz, Satanás é um inimigo derrotado.
Extraído do livro "Em Contato com o Trono" - T.Austin-Sparks