segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Em Contato com o Trono - Capítulo 3 / parte 4

A Base da Vitória

Apenas uma palavra, ou duas, em relação à base da vitória neste conflito. A base da vitória aqui em 1 Reis 18 foi sem dúvida alguma o altar, e em Efésios a base é a mesma. Antes de você alcançar sua posição nos lugares celestiais para o conflito e triunfo celestial, você precisa passar pelos primeiros capítulos de Efésios e reconhecer que uma morte aconteceu, que um altar estava ali, e que, tendo morrido, você foi ‘vivificados e ressuscitados juntamente...'. Todos os aspectos da cruz, do altar, estão implícitos no início da carta aos Efésios, de modo que tanto na representação como naquilo que é representado, a base da vitória é a cruz, o altar. Elias pegou doze pedras, e a constituição do altar com doze pedras imediatamente traz o aspecto administrativo em relação ao altar, pois doze é o número da administração. O altar formado por doze pedras torna-se o instrumento administrativo, o princípio governamental neste conflito nas mãos de Deus. O governo está na cruz, e pela cruz, pois ’pela cruz Ele triunfou, e em Sua cruz Ele despojou os principados e potestades, e os expôs publicamente’. Eu me pergunto se, ao ler esses fragmentos de 1 Reis 18, você ficou impressionado com os termos: “…conforme o número das tribos dos filhos de Jacó, a quem veio a palavra do Senhor, dizendo: Israel será o teu nome”. O que significa isto? Bem, Israel significa ‘um príncipe com Deus’, assim, no verso 31 nós temos os filhos de um príncipe de Deus representados no altar, na cruz.
Simbolicamente isto nos fala muito claramente da base de nossa chegada a nossa posição de príncipes, de nossa posição governamental em Cristo, que é o Príncipe com Deus. Ele é maior que Israel, pois Ele é o Príncipe com Deus, e nós somos filhos Nele e participamos da Sua Realeza. Isto nos traz para uma posição de autoridade espiritual em Cristo nos lugares celestiais, mas tudo está ligado ao altar, à cruz. A cruz é a base da vitória, e isto é confirmado novamente, não apenas pelo testemunho do céu, a Palavra de Deus, mas pelo testemunho do inferno. Satanás é uma testemunha não usual, relutante – e às vezes eu me pergunto se ele é uma testemunha inconsciente – da verdade neste sentido, pois está perfeitamente claro que ele odiava a cruz, e tentou num primeiro momento manter o Senhor Jesus longe dela: “...isto de modo algum acontecerá a Ti. Porém Jesus virou-se e disse: Para trás de Mim Satanás." Este é Satanás tentando manter o Senhor Jesus longe da cruz, e então, tendo fracassado, ele tentou tirá-Lo da cruz: “Se Tu és o Filho de Deus, desça da cruz”. Aquelas sugestões sutis "... deixe-O descer da cruz e iremos crer Nele.” Foi para ser crido pelo mundo que Ele tinha vindo, mas, não, o segundo método do inimigo não teve êxito.

O inimigo, tendo fracassado ao longo dessas linhas, e tendo a cruz sido efetivada apesar dele, irá procurar agora mudar e alterar a pregação da cruz, a fim de torná-la sem efeito. Ele irá fazer com que as pessoas preguem sobre ela, e na própria pregação, a tornem vazia. Isto é extraordinariamente sutil! É, também, para que possamos reconhecer quão longe o inimigo irá. Ele irá promover a pregação da cruz, e a cruz pregada pela sua instigação e sob a sua influência é tornada ineficaz. O Apóstolo nos fala disto em sua primeira carta aos Coríntios, que a cruz pregada na sabedoria dos homens torna-se sem efeito, ou vazia. Homens pregando a cruz em sua própria sabedoria estão simplesmente tirando o verdadeiro significado e poder da cruz. Oh, sim, você ouve muito sobre o caminho da cruz, mas não é o caminho da cruz. O próprio poder da cruz reside em seu registro contra o inimigo e todas as suas obras. Contra o pecado como um princípio, e contra o mal como um estado, uma natureza. O poder da cruz é retirado quando você fala sobre os heróis da cruz, e sobre o caminho da cruz como, bem, qualquer homem que negue a si mesmo e renuncia a sua vida por seu País está na mesma categoria que Jesus Cristo, que, afinal de contas, renunciou a Sua vida como qualquer soldado tem feito. Esta é a cruz no modernismo.

Outra coisa que o inimigo procura fazer em relação a cruz é manter os cristãos ignorantes de seu pleno significado. É um grande dia para o Senhor, e um terrível dia para o inimigo, quando um cristão recebe revelação do significado pleno do Calvário. Este dia marca um novo pedaço da história no campo do conflito. Você pode enfrentar certo tipo de oposição no terreno da obra substitutiva do Senhor Jesus, mas, acredite, você irá enfrentar dez vezes mais quando chegar no terreno da obra representativa do Senhor Jesus, e quando você assumir o seu lugar na identificação com Cristo na morte, no sepultamento e na ressurreição no sentido espiritual. Aí começa uma nova história de conflito, de batalha e de antagonismo satânico, porém, você entrou num campo novo e num lugar novo, e você tem novos poderes a seu dispor. O inimigo perdeu seu terreno. Multidões creem na obra substitutiva e se alegram nela, mas ainda estão se movendo na energia do homem natural, mesmo como cristãos. Não representam uma ameaça ao inimigo naqueles níveis mais elevados, mas, quando a cruz é aceita desta maneira e plantada em nossas vidas de modo que a vida natural é colocada de lado - "Estou crucificado com Cristo e vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim” – então há um novo campo de significado para o Senhor e de significado para o inimigo, e por isso, um novo campo de conflito. O inimigo está pronto para tirar este lado da cruz dos cristãos, e dissemos anteriormente, e é verdade, que você frequentemente enfrenta mais oposição nesta linha por parte de cristãos do que de quaisquer outros. É algo estranho. Imediatamente ao seguir com o Senhor em toda plenitude do significado do Calvário, você descobre que a sua principal dificuldade está no campo dos cristãos, e, via de regra, cristãos ‘oficiais’. Os líderes não aceitarão isto, e você descobre que o seu caminho fica infinitamente mais difícil. É verdade que o inimigo de fato odeia a plenitude da cruz, e ele irá procurar de todos os meios destruir o seu valor para os crentes, ocultar o seu significado deles, e, se possível fazê-los abandonar a posição e descer da cruz, ou persuadi-los a não aceitá-la.

Bem, este é o seu testemunho do valor da cruz! Ele é uma testemunha do seu significado. A cruz, então é a base da vitória, e o inimigo sabe disto muito bem.
Não irei mais longe por ora. Precisamos tomar isto, pensar sobre isto e aplicá-lo, mas lembre-se deste ponto grande e conclusivo: Satanás é um inimigo derrotado para todo aquele que realmente está crucificado com o Senhor Jesus Cristo, porque o Calvário não significa a Sua derrota, e, assim como fomos plantados na morte de Cristo, assim também permanecemos com Ele naquela derrota do inimigo, naquela vitória do Senhor Jesus. Assim, embora ele possa rugir, esbravejar, lutar, afligir, pressionar e assediar, o fato que permanece é que para aquele que é um com Cristo em Sua cruz, Satanás é um inimigo derrotado.

Extraído do livro "Em Contato com o Trono" - T.Austin-Sparks


sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Em Contato com o Trono - Capítulo 3 / Parte 3

O Valor Estratégico da Vigilância

Aqui nós realmente sentimos, caro amigo, que você e eu temos que fazer o que Neemias fez, e o que o Apóstolo nesta mesma porção nos exorta a fazer: "Vigiai”; "vigiai pois," porque como você percebe em ambas as conexões, são as astúcias do inimigo que estão em vista. São as atividades sutis do inimigo, e vigiar contra as astúcias do inimigo na prática irá, pelo menos numa direção, significar o seguinte: que devemos nos certificar de que os rumores que ouvimos e que as informações que chegam até nós são absolutamente fidedignas. Devemos nos certificar – “provar todas as coisas". Podemos nos dividir por um rumor, e nos separar por uma informação. Podemos ser colocados em discórdia ou nos separar por causa de uma simples insinuação. Nesses dias, quando a atmosfera está sobrecarregada de medo e suspeita, você precisa apenas sugerir a possibilidade de alguém estar ‘doente’ e uma brecha espiritual de comunhão é criada e uma fenda é feita. Se apenas vigiássemos e nos certificássemos, descobriríamos que grande parte daquilo foi desnecessário e injustificado, e representou uma grande perda para o próprio Senhor e para o Seu povo, pois quando chegamos para pinçar e peneirar aquelas coisas, descobrimos que não há nada nelas, ou, se há alguma coisa, existe uma explicação e não podemos falhar, em toda honestidade de coração, em aceitar aquilo como sendo correto. É assim que geralmente as coisas funcionam.

Mas, oh! Vigiar contra essas astúcias do Diabo! Seus métodos de romper a vida coorporativa do povo do Senhor estão além do nosso poder para enumerar, e é aí que a oração e a vigilância são necessários. A oração deve resultar em inteligência sobre as astúcias do inimigo, e ‘vigiar em oração’ é vigiar e orar para que você consiga descobrir em oração o que o inimigo está buscando e como ele está trabalhando.

Não queremos ficar obcecados com o inimigo, sempre tendo os nossos olhos nele, mas precisamos reconhecer os fatos como eles são. Esses fatos são que durante esses quase dois milênios o inimigo tem trabalhado incessantemente no seu grande negócio que é destruir a comunhão do povo de Deus. Isto é verdade? Isto é história? Se é verdade, o que significa? Que você jamais pode ter algo que realmente, em alguma medida, represente aquilo que é precioso para o Senhor - algo com característica espiritual, que incorpore algum elemento precioso do Seu testemunho – sem que seja o único objetivo da malignidade satânica rachar, causar cismas e divisões de alguma forma, por verdades ou por mentiras. Isto é história, e certamente isto revela o segredo, de que uma Igreja em comunhão, um Corpo bem ajustado e ligado, que se move junto na vontade de Deus, é uma grande ameaça aos principados espirituais e dominadores que há no universo.

Assim, é para isto que devemos voltar a nossa atenção. Vamos nos dispor à comunhão espiritual! Isto não significa se comprometer com coisas que são contrárias à Palavra de Deus, e não significa descer de nenhuma posição espiritual dada pelo Senhor, por muito custo. Devemos estar onde Neemias estava quando seus inimigos diziam: "Desça e vamos discutir esta questão. Precisamos conferenciar a respeito." Neemias disse: "Estou fazendo uma grande obra de modo que não posso descer." Não podemos descer para  discutir as coisas que estão além do ponto da discussão quanto a necessidade espiritual. Porém, caro amigo, qualquer posição espiritual alcançada através de muito custo e de profunda obra interior da cruz deve ser assumida somente em relação a todos os santos. Não pode estar dissociada da relação com os santos, nem podem aqueles que possuem esta posição serem tornados em alguma coisa separados do resto. Não! Seja qual for a diferença de posição espiritual em relação ao grau, a comunhão com todos os santos precisa ser obtida e mantida no que for possível, e deve ser buscada. Eu realmente quero colocar isto a você cada vez mais, da mesma forma como é colocado sobre o meu próprio coração, porque o propósito do Senhor em dar luz e verdade pode ser impedido se a recepção desta posição constituir aqueles que a tem como sendo algo separado do resto dos santos. O Senhor tem dado isto para o Corpo; e se for mantido em separado, então o propósito para o qual Ele deu foi perdido. Guarde isto no coração definitivamente!


Assim a ocasião do conflito é a Igreja, pela razão de sua chamada e vocação celestial. Isto não é uma coisa particular, nem algo local: É universal. O Corpo de Cristo é uma realidade universal.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Em Contato com o Trono - Capítulo 3 / parte 2

A Igreja – a Ocasião do Conflito

Qual é a ocasião do conflito? Para que é o conflito? Bem, a partir do contexto em ambas as passagens de 1 Reis 18 e Efésios 6, você vê que a ocasião do conflito é a Igreja. A Igreja é o objeto imediato em vista. Em 1 Reis 18, naturalmente, é o povo de Deus. E a questão da oração de Elias é que os seus corações pudessem voltar atrás. O povo do Senhor está em vista e a sua oração é em favor deste povo, assim ele traz todos eles para perto e os envolve nesta questão, e os associa a isto, porque este é assunto deles. Sabemos que aquilo que está em vista na carta aos Efésios é a Igreja, que é o Seu Corpo, e ela é a ocasião do conflito. É uma batalha nos lugares celestiais em relação a Igreja, o Corpo de Cristo.

Há duas coisas a serem ditas a respeito disso. Primeiro, que não é meramente uma questão pessoal, mas uma questão coletiva, coorporativa. Este conflito diz respeito ao Corpo de Cristo, e o conflito de cada indivíduo é um conflito relacionado ao restante dos santos, de modo que há aquela relatividade espiritual que significa que, se um membro sofre, o Corpo como um todo também sofre espiritualmente. Ele pode não saber por que, nem estar consciente de seu sofrimento particular, mas, em relação à Cabeça, há uma perda a todo o Corpo quando um membro é vencido. O conflito está relacionado; e assim, o inimigo procura isolar os membros do Corpo e trazer tal pressão sobre eles, a fim de esmagá-los, pois ele sabe que não é apenas o valor de um membro isolado, mas a relatividade de cada membro. É por isso que há tanta ênfase espiritual por parte da inteligência do Espírito Santo sobre a necessidade de se orar por todos os santos, pela oração coorporativa, pela oração de comunhão do povo do Senhor. Há perda para Cristo, o Cabeça, se não houver esta oração por todos os santos.


Cristo em Glória – o Objeto do Conflito

Outra coisa a ser dita sobre isto é que a coisa mais importante não é a Igreja como o Corpo, embora esta seja a ocasião imediata. Não devemos colocar a Igreja, o Corpo de Cristo, no lugar de preeminência. Ela é uma ocasião, mas não é o objetivo final. A Igreja, o Corpo de Cristo, é o Seu instrumento, Seu vaso para o Seu testemunho. Seu testemunho está depositado no Corpo. E foi assim que em Sua ressurreição e no Pentecostes o testemunho de Sua vitória, o testemunho de Sua exaltação, o testemunho de Sua glorificação e o testemunho de Sua autoridade universal no céu e na terra foi depositado na Igreja. Como o templo no Velho Testamento era o relicário da glória de Deus, assim o Corpo de Cristo no Novo Testamento é o relicário de Sua glória, de Seu testemunho e de Seu Nome. É, finalmente, para atacar esta glória, este Nome, e esta exaltação que o inimigo concentra sua atenção no vaso eleito, na Igreja, o Corpo de Cristo. E assim a Igreja se torna a ocasião do conflito, embora não o fim, mas o inimigo chega a Cristo, ao Nome e a glória através do Corpo. Sabemos que isto era verdadeiro no Velho Testamento.

Quando Israel estava em estado de declínio, a glória a honra do Senhor, o Seu Nome e a Sua majestade ficavam encobertos, anuviados e perdidos de vista. Quando a vida espiritual de Israel estava em ascendência, então o testemunho de Jeová era mantido em plena força. No Novo Testamento, e em nosso próprio tempo, nesta era do Novo Testamento, a maneira de o inimigo desonrar o Senhor é destruindo a vida de oração do povo do Senhor, ou quebrando a comunhão dos santos.


Assim a Igreja, o Corpo, torna-se a ocasião do conflito por causa daquilo que está em sua vocação divinamente ordenada, propósito e objetivo. O ódio amargo do inimigo e a violenta oposição estão direcionados contra a vida coorporativa do povo do Senhor. Ele irá procurar de qualquer maneira destruir isto, romper a comunhão dos santos, colocar o povo do Senhor uns contra os outros, e introduzir coisas fragmentadas – mas, oh, quão sutis são os seus caminhos nisto!

Extraído do livro "Em Contato com o Trono" - T.Austin-Sparks

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Em Contato com o Trono - Capítulo 3 / Parte 1

Capítulo 3 – Oração como Batalha (continuação)

Ler: 1 Reis 18:30-32, 36-38, 42-45 / Tiago 5:17-18 / Efésios 6:18.

Observamos que aquilo que é verdadeiro sobre a atividade do inimigo ao longo da linha da prevenção da oração é, também, verdade ao longo da linha de sua interrupção. Eu não quero dizer que apenas enquanto você estiver orando você terá interrupções, mas que o inimigo tem uma maneira sutil de interferir na continuidade da vida de oração. Você triunfalmente pode garantir períodos de oração por talvez uma semana, ou mais, e, então, algo é introduzido que interrompe aquela continuidade, a ponto de você perdê-la, e você descobre que, após um período de tempo, uma batalha tremenda tem que ser travada para se recuperar aquela vida de oração. 

Para muitos de nós a história é de uma vida irregular de oração, cheia de remendos, uma história repleta da necessidade de ocasionalmente recuperar o terreno perdido após um revés – a interrupção do inimigo. Assim temos que prestar atenção aí, e vigiar especialmente contra reações a períodos de oração intensa, afrouxando e sentindo que agora, após aquele tempo ardoroso, podemos tomar um feriado espiritual. 

Há sempre um perigo muito grande aí, como provou Davi. Num tempo quando os reis saíam para guerrear, ele subiu ao terraço. Então, aquilo que o inimigo não pode prevenir ou interromper, ele finalmente irá destruir. Isto é, ele irá direcionar sua atenção para arruinar a vida de oração. Nós podemos ter tempos fortes, ou uma série de tempos fortes, mas, se o inimigo não puder atacar diretamente a nossa vida de oração, estará sempre pronto a arruiná-la por outro ângulo que não pareça estar imediatamente relacionado a ela, mas pelo qual somos indiretamente mutilados. Nossa vida de oração pode ser muito forte, boa e consistente, porém, algo acontece em algum outro departamento de nossa vida, talvez num relacionamento em alguma outra parte, e, quando vamos orar, descobrimos que aquilo representa um golpe direto em nossa vida de oração, e não conseguimos prosseguir até que aquilo seja tratado.

Precisamos reconhecer que todas essas coisas são apenas esforços do inimigo, é um esquema altamente organizado para destruir, seja direta ou indiretamente, a nossa vida de oração, ou para interferir nela. Assim, descobriremos que a nossa vida de oração é o ponto focal de tudo.

É quando realmente chegamos para orar, ao real negócio da oração, que descobrimos onde estamos exatamente em todos os relacionamentos da nossa vida. A iniquidade que acolhemos em nossos corações pode não ter nada a ver diretamente com a nossa vida de oração, porém ela vem indiretamente como um golpe terrível sobre nós. Coisas que podem ser menos importantes podem vencer a nossa vida de oração. O inimigo está sempre colocando essas coisas ao nosso redor para destrui-la. Percebemos o estado das coisas quando chegamos para orar. Podemos não reconhecer no momento o que determinada coisa significa, seja lá o que possa ser. Pode ser um relacionamento interrompido, um relacionamento hostil, um propósito alheio, ou uma brecha em algum lugar, e podemos não reconhecer exatamente o que aquilo significa até que chegamos para assumir a nossa forte vida de oração. Então descobrimos que aquilo afetou a parte vital da oração e não podemos prosseguir. Aquilo está lá, e assim somos roubados; e, então, descobrimos que tem havido uma obra sutil na circunferência da nossa vida que golpeia o próprio centro. O inimigo iria destruir a nossa vida de oração, iria, por assim dizer, jogar coisas nela a partir do exterior para torná-la impossível. Penso que você é capaz de entender aquilo que quero dizer, pois a experiência confirma isto.

A Universalidade da Oração

Agora vamos nos estender um pouco mais neste conflito espiritual. Essas passagens que lemos nos mostram uma posição muito abrangente. Em 1 Reis 18 a história da batalha de Elias no monte Carmelo é, sem dúvida alguma, uma ilustração do Velho Testamento da verdade do Novo Testamento, especialmente de Efésios 6. Essas duas coisas caminham juntas como tipo e antítipo, como parte e contraparte, e o que é comum a ambos é que a esfera do conflito são os lugares celestiais. O que Tiago diz conduz toda esta questão para os céus: o abrir e fechar dos céus, o governo dos céus. Os céus são o principal objetivo em vista aqui, e este conflito se relaciona com o céu e com os lugares celestiais: “Nossa luta está...nos lugares celestiais.” O conflito de Elias era de um modo muito real um conflito nos céus onde as forças celestiais estavam envolvidas. Isto, penso eu, é patente, e isto é um aspecto comum nessas duas porções da Palavra.

Este particular conflito espiritual no qual você e eu somos encontrados quando chegamos ao pleno propósito e testemunho de Deus em Cristo, está, em sua última análise, relacionada ao governo dos céus. Quem irá governar os céus? Há os principados, as potestades, os dominadores deste mundo tenebroso e as hostes espirituais da maldade que têm assumido o lugar de governo. Eles estão num lugar que foi usurpado, pois este não é o propósito eterno de Deus, nem é Sua vontade. Cristo é o Cabeça, e Sua Igreja com Seus membros são, no propósito de Deus, chamados para governar nos céus, para governar a partir dos céus. É uma questão de saber o que são os céus nesta questão, se eles devem ser satânicos, ou a expressão do absoluto senhorio do Senhor Jesus na Igreja e por meio dela, que é o Seu Corpo. São os lugares celestiais, as realidades governantes, que estão envolvidas, e é lá que se dá o nosso conflito. Esta é a esfera desta batalha, e nossa vida de oração tem a ver com isto. Não tem a ver meramente com os incidentes de nossas vidas aqui na terra. Oh, que o povo de Deus possa reconhecer a imensidão disso, pois muito frequentemente a generalidade de nossa oração está no campo de coisas meramente triviais, e uma grande parte do tempo é tomada para se dizer ao Senhor tudo sobre essas pequenas coisas de nossa vida ordinária e terrena que, embora possam ser importantes para nós, e possam ter valor em nossa vida terrena, não tocam as coisas mais importantes no propósito de Deus.

Há uma grande diferença entre orar pelas coisas de baixo e orar contra as forças imensas do universo, alcançando as coisas celestiais. O povo do Senhor precisa ser levantado em oração para onde o poderoso, celestial, eterno e universal são afetados, tocados e obtidos. Há uma grande necessidade de sermos levados à nossa posição celestial em questão de oração, onde as questões realmente espirituais que estão por trás das outras sejam tocadas. 

Geralmente o Senhor não permite que nossas orações sejam eficazes em detalhes meramente terrenos de nossas vidas porque Ele quer que enxerguemos que há algo por trás dessas coisas que importam muito mais.

Você algumas vezes ora para que algo aconteça, para que uma mudança aconteça, ou para que um evento cesse, porém nada acontece. O Senhor busca – após você ter se lançado tão plenamente quanto possa sobre a questão – mostrar-lhe que há uma chave espiritual para aquela situação, e Ele não pode simplesmente fazer a coisa terrena para você, pois aquilo não seria de modo algum para o seu aumento de inteligência espiritual, compreensão, conhecimento ou valor, e estaria simplesmente fazendo coisas porque você que foram pedidas a Ele. Ele está tentando te instruir e ensinar, para que você entre na possessão de situações espirituais.


Bem, são os lugares celestiais a esfera deste conflito.

Extraído do livro "Em Contato com o Trono" - T.Austin-Sparks

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Em Contato com o Trono - Capítulo 2 / parte 3

O que Está Envolvido na Oração

Não ocorre a você, te atingindo com força considerável, que esta resistência à vida de oração por parte do inimigo implica, ou ainda, positivamente declara e proclama que a glória e a honra do Senhor, Seu nome e Seu testemunho são proeminentemente assegurados pela oração? Se este é o ponto focal da atividade do inimigo, então significa que os interesses mais elevados do Senhor são servidos pela oração. Isto coloca a oração em primeiro lugar. Isto, novamente, não é novidade para você, mas sim uma ênfase a mais sobre o fato de que o inimigo está sempre tentando colocar a oração em último lugar. Ele irá tentar apresentar qualquer outra coisa relacionada ao Senhor antes da oração, e colocar a oração em último lugar. E não importa como você coloca a questão, ou o que você diz para o povo de Deus sobre isto, você não consegue leva-los a compreender. 'Oh, é apenas uma reunião de oração esta noite!’ No domingo à noite, quando há o ministério da Palavra e a pregação, você terá uma presença maciça, mas na reunião noturna de oração você vai para corredor lateral que estará, talvez, com pouco mais da metade da capacidade. E isto considerando que no domingo à noite você tenha dito que o nosso principal ministério é a oração e que tudo mais desaparece se a nossa vida de oração fracassar! Você pode falar tudo o que quiser ao longo desta linha, você pode enfatizar e acentuar isto, porém, não faz qualquer diferença. Devo confessar que fico muitas vezes perplexo com o fato de que muitas pessoas realmente espirituais – e dou a elas esse crédito – se espremam em reuniões de pregações e conferências, mas sejam raramente vistas numa reunião de oração, e deixem tão poucos sustentando a vida da oração coorporativa da assembleia.

Sim, é assim, como se ouvir uma pregação fosse a coisa principal, e como se obter ensino bíblico fosse mais do que tudo. Não, caro amigo! Não absolutamente! Tudo isso pode se tornar vital, vivo e eficaz desde que nossa vida de oração, individualmente e corporativamente, seja mantida forte e em primeiro lugar. Assim, receba tudo o que for de correção na palavra, pois é verdade, não é? Oh, todos nós temos sido culpados. Todos nós temos que dizer a nós mesmos: 'Você é a pessoa!' Precisamos realmente ter a mesma estimativa que o Senhor tem sobre o valor da oração, e, percorrendo através da Palavra, você vai descobrir que Ele estima a oração em valor maior do que qualquer outra coisa em Seu povo. Olhe para a própria vida Dele! Oh, espantoso que Ele na qualidade de Filho de Deus, em tudo o que Ele era, pudesse ainda manter tal vida de oração! "De manhã bem cedo, quando ainda estava escuro," ou "continuou durante toda a noite." Sim, Ele orava!

E tem ocorrido a você que algumas das revelações mais gloriosas da verdade que temos na Bíblia vieram em orações? Leia aquelas orações de Paulo em Efésios e Colossenses! "Por esta causa eu me ponho de joelhos diante do Pai…", e daí ele prossegue dando-nos a sua oração, e nesta oração você tem uma revelação que é incomparável. Veio em oração, de modo que o ensino que você tem está baseado na vida de oração de um homem. Sua luz, em seu verdadeiro valor, vem da oração, e não há nenhuma luz de real valor que não seja nascida de oração. Todo o valor da verdade depende da oração que está por trás dela, de modo que nossas conferências, nossas reuniões, nossas palestras, e toda a verdade que recebemos, permanece algo muito negativo se não houver uma vida de oração proporcional da nossa parte em relação a ela. Temos que orar antes e orar depois, e sinto que após uma conferência a coisa a fazer é começar a orar mais do que nunca no terreno do que foi dito, e apresentar tudo ao Senhor. Se fizéssemos isto, quanto mais fruto haveria a partir de nossas conferências! Ao invés de ter a verdade em nossos cadernos, deveríamos tê-la em nossas vidas. Ao invés de tanta verdade com a qual estamos agora familiarizados, estaríamos entrando no poder operante dessa verdade, se nos voltássemos ao Senhor em oração. Ninguém está mais consciente desta necessidade, de ter as coisas ditas a Ele nesta questão, do que eu neste momento, mas nós estamos falando juntos dessas coisas e creio que todos nós estamos guardando-as no coração. Oh, como será o dia quando, não por causa de números a reunião de oração ficar tão lotada como qualquer conferência! (não por uma questão de contar as cabeças, mas pelo causa do reconhecimento do lugar proeminente da oração). Apenas é necessário anos que tenhamos a compreensão do valor que Deus dá a oração, e iremos nos referir a ela como sendo pelo menos tão importante quanto qualquer conferência. Que o Senhor leve isto a queimar em nossos corações, pois esta é a obra proeminente – a oração.


Apesar de não ser algo grande o que foi dito, é muito importante, e vamos nos lembrar da palavra em relação a determinação do inimigo em impedir a oração. Vamos prosseguir para mostrar a você que, se o inimigo não puder impedi-la, ele irá tentar interrompê-la; e, se ele não puder interrompê-la, ele tentará destruí-la posteriormente. Há outros aspectos, mas vimos, talvez, o suficiente para nos colocar em uma posição muito definida em relação a nossa vida de oração em assumi-la em nome do Senhor.

Extraído do livro "Em Contato com o Trono" - T.Austin-Sparks

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Em Contato com o Trono - Capítulo 2 / parte 2

A Vida de Oração – O Alvo do Inimigo

Isso tudo é preliminar. O ponto que estamos chegando de importância básica para nós, haja vista a natureza da nossa guerra, é que o campo desta batalha é a oração. Quando o Apóstolo Paulo nos mostrou a completa armadura de Deus, em todas as suas partes, e nos exortou a nos revestirmos dela e a resistirmos, ele estende o terreno sob os nossos pés e diz: “com toda oração e súplica no Espírito, vigiando nisto com toda a perseverança por todos os santos”. O campo de batalha dessa luta é a oração. O que quero dizer é o seguinte: que esta batalha é vencida no terreno da oração, onde essas forças são enfrentadas e derrotadas. Sendo assim, o principal objetivo do inimigo é a vida de oração do cristão. Este é o ponto focal de toda a atenção e estratégia do inimigo.

Se não disséssemos mais nada, este é o ponto supremo para nossa compreensão e reconhecimento. Dissemos a coisa mais importante que podia ser dita nesse sentido. O ponto focal de toda a atenção e estratégia do inimigo é a vida de oração do cristão. Se ele puder destruir isto de alguma maneira, ele ganhou o dia, derrotou os santos e frustrou os propósitos de Deus. O inimigo combate de maneira persistente, enérgica, violenta e astuta a vida de oração do cristão. Ele combate de várias formas. Primeiro ele combate ao longo de linhas preventivas, na direção da prevenção, e deve haver uma tremenda batalha e conflito para começar a orar - não apenas orar, mas ter a oração, começar a oração – e não há nada em toda gama de sua perspicácia, de sua astúcia, de sua artimanha, e de sua desenvoltura que o inimigo não irá explorar para impedir a verdadeira oração espiritual. Penso que provavelmente será suficiente para nós nos concentrarmos sobre isso agora mesmo.

A Batalha da Oração

Estou muito certo de que tenho a concordância da maioria do povo do Senhor, quando digo que uma das coisas mais difíceis, se não a mais difícil, é ser capaz de chegar à oração, de nos entregarmos à oração. Quando contemplamos a oração, encontramos uma hoste de dificuldades inesperadas e imprevistas que de repente surgem como forças de tocaia que se lançam sobre nós. Tudo para impedir a oração! Não estou dizendo algo que você não sabe, mas estou dizendo isto a fim de que você reconheça de maneira clara, definitiva e deliberada, e enfrente o fato de que não são apenas as circunstâncias ordinárias que impedem a sua oração, mas um esquema intencional, bem colocado pelo inimigo. O inimigo, ao invés de se opor, irá promover ocupação com mil e uma coisas para o Senhor, se por meio disso ele puder impedir a oração. Ele não se importa com o quão ocupados estejamos na obra do Senhor, nem com o quão frequentemente estejamos pregando, conduzindo reuniões, e fazendo a obra do Senhor, como quer que você a chame. Ele sabe muito bem que toda a obra para o Senhor que não é fundamentada na oração espiritual triunfante irá valer muito pouco, ou nada, no longo prazo e irá sucumbir. Digo que ele não se importa com a sua obra. Trabalhe para o Senhor tão duro quanto possa, mas, se você deixar a oração, não irá ter muito êxito. Uma das sutilezas do inimigo é nos fazer ficar ocupados, tão ocupados, tão em movimento e sobrecarregados com – como pensamos – as coisas do Senhor e com a obra do Senhor, que nossa oração fica reduzida e limitada, se não quase que inteiramente descartada; e o Senhor jamais irá aceitar a desculpa: ‘Senhor, estou muito envolvido em Teus negócios para orar’. O Senhor jamais aceita uma atitude como essa.

Você irá se lembrar que quando os filhos de Israel começaram a falar sobre seu êxodo do Egito, e a contemplá-lo, a reação do inimigo foi dobrar o serviço deles, isto é, fazê-los ficar tão ocupados com o serviço que não haveria mais tempo algum para contemplar um êxodo. Imediatamente ao você começar a contemplar ou a se propor a uma vida de oração mais plena, o inimigo lança um novo esquema para mantê-lo mais ocupado, acumulando o serviço e as demandas de modo que você não tenha tempo ou oportunidade para orar.

Penso que devemos enfrentar isto muito decisivamente. Naturalmente há muitos argumentos sobre o dever, a obrigação e a responsabilidade, e isto às vezes soa como que, se colocar algumas coisas de lado para orar seria negligenciar o dever, ou faltar com a obrigação, ou com a responsabilidade, mas há um momento em que devemos lançar essas questões sobre o Senhor, e orar.

Certo, evidentemente, é muito difícil aplicar isso. Há sempre riscos em dizer algo assim, porque sempre há pessoas que estão mais do que prontas para abandonar as suas responsabilidades, ou que não gostam de assumir responsabilidades seriamente. Elas simplesmente estariam prontas e felizes para transferir suas tarefas domésticas para outra pessoa enquanto cultivassem uma vida devocional. O Senhor precisa salvaguardar esta palavra. Mas nós temos que reconhecer o seguinte: que o inimigo irá construir os seus melhores argumentos sobre responsabilidade, sobre o dever para nos impedir de orar, e há um momento em que, se virmos que a oração está completamente descartada, ou reduzida a ponto que seja completamente inadequada para uma vida espiritual ascendente e de vitória, temos que dizer: ‘Senhor, vou entregar a responsabilidade a Ti enquanto oro, confio que o Senhor não irá permitir que a minha interrupção por este momento tenha resultados danosos, e que o Senhor irá guardar esta hora de oração – em que busco por Tua glória - da invasão do inimigo’.

O princípio do dízimo realmente funciona, até mesmo neste terreno. Dê a Deus a Sua porção, o Seu espaço, e você irá descobrir que quando você tiver dado ao Senhor o Seu décimo, você será capaz de fazer mais com os nove décimos do que você poderia fazer com os dez. Este princípio funciona. Mas há uma batalha para orar, e a necessidade é de um forte, poderoso, deliberado e determinado permanecer em Cristo, pela vitória de Sua Cruz, para começar a orar, trazer o valor pleno da vitória da cruz do Senhor Jesus para garantir a oração e remover o inimigo do terreno da oração, de modo que este esteja guardado. É como Samá, quando ficou no terreno cheio de lentilhas com a espada em suas mãos e, sozinho, lutou contra os Filisteus e salvou aquele terreno de lentilhas, e o Senhor operou um grande livramento. O terreno de lentilhas pode representar o nosso terreno de oração, que precisa ser defendido contra o inimigo na plenitude da vitória do Calvário. Há uma luta para orar. Temos, temo eu, muito frequentemente aceitado a situação de que não é possível orar agora mesmo, ou que as coisas são tais que torna quase que fora de questão orar. Sim, elas serão, se o Diabo tiver o seu espaço; elas serão sempre tais de modo a tornar a oração fora de questão. Esta é uma de suas táticas. Temos que limpar o terreno para a oração na vitória do Seu nome e da Sua Cruz. A Cruz é tão eficaz em guardar o momento da oração, se nós a aplicarmos, como é em qualquer outra área.

Porém, temos que conduzir a oração no terreno da vitória. Temos que assumir esta atitude, e iremos achar mais e mais necessário assim fazer: 'Agora preciso orar. Tudo torna a oração impossível no lado humano, mas, Senhor, suplico na vitória do Calvário por um tempo de oração, um espaço livre para oração’. Temos que permanecer nesta vitória, o que pode significar ter que perseverar antes de chegarmos lá. Não são apenas as muitas coisas que podem nos pressionar ao longo da linha das circunstâncias e acontecimentos externos, para não deixar nenhum espaço para a oração. Quão verdadeiro é que, quando realmente caímos de joelhos, ainda assim a oração é resistida! Pode não ser nada exterior. Pode não ter campainha ou telefone tocando, nem alguma pessoa chamando. Podemos estar confinados no silêncio do nosso próprio quarto e estarmos de joelhos, e, então, uma poderosa atividade perturbadora começa. Pode não ser física. Podemos subitamente desenvolver uma consciência física que não estava ali momentos antes, e isto irá ameaçar todo o nosso momento de oração, de modo que descobrimos que fisicamente temos que levantar um tremendo fardo, um fardo opressivo. Podemos até desenvolver sintomas de doenças das quais não tínhamos consciências antes. São fatos. E, então, condições mentais podem aparecer, as quais simplesmente não existiam antes. Oh, imediatamente, uma invasão de mil e uma coisas que não nos incomodavam até aquele momento! A mente fica ocupada com reflexão e com coisas que não nos incomodavam até então. E o que dizer sobre aquele senso de dormência, de frieza, de distância e irrealidade que desce sobre você em alguns momentos? Se você orar audivelmente, sua voz parece estranha e distante, e você parece estar falando ao vento. Todas essas coisas, e muitas outras, sobrevêm quando nos propomos a orar. Elas surgem bem no início, e por um momento nós enfrentamos todo tipo de desencorajamento e restrição para orar, e, se tomarmos os primeiros cinco, dez ou quinze minutos como nosso critério, iremos desistir, iremos parar e continuar com outra coisa.

Sim, o inimigo está pronto para impedir a oração, e há uma fase da batalha que tem que ser vencida a fim de se conseguir orar. Novamente digo, isto não é nada novo para você – a menos, naturalmente, que você nunca tenha tido uma vida de oração, ou seja alguém que nunca assumiu seriamente o negócio da oração. Mas não estou falando tudo isto para informá-lo. Estou falando isto para você e para mim mesmo, a fim de que possamos reconhecer que isto é uma coisa que nos chama para a batalha. Entrar na oração é a batalha dos santos, e não apenas vencer na oração. Há este aspecto da atividade do inimigo que é o de impedir a oração, e conseguir isto é uma batalha. Tem que haver um ‘permanecer firme’, um assumir de posição, um resistir em oração em favor da oração.


Espero que a menção de tudo isto, que é tão real nas suas experiências, venha a ter, contudo, o efeito desejado de fazê-lo reconhecer que no futuro, a sua vida de oração não irá se desenvolver se o inimigo puder impedi-la, e se você for obtê-la, e se ela for se desenvolver então você terá que aguentar firme. Ela não irá simplesmente surgir. Você não será simplesmente lançado nela. Você nunca se encontrará sendo levado a uma poderosa vida de oração, nem caminhará com facilidade em direção a ela. Você irá descobrir que há conflito e batalha para consegui-la, que todo tipo de coisas será utilizado pelo inimigo para impedi-la, e tudo o que ele tem ao seu comando sobrenatural será usado. Você e eu, caro amigo, temos que lutar pela nossa vida de oração, e, quanto mais avançarmos com o Senhor espiritualmente, mais descobriremos que acontece dessa maneira. O ponto não é que o inimigo esteja pronto para nos impedir de ter uma vida pessoal de oração. Não é contra isto que ele se opõe. É contra o testemunho do Senhor Jesus, que está muito intimamente ligado à vida de oração do povo do Senhor, que ele luta. Você e eu, como indivíduos, como seres humanos, não significamos nada para o inimigo. É aquilo que está associado a nós, e naquilo que estamos associados a Cristo – Seu senhorio e Sua glória.

Extraído do livro "Em Contato com o Trono" - T.Austin-Sparks

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Em Contato com o Trono - Capítulo 2 / Parte 1

Capítulo 2 – Oração de Guerra

Ler: Neemias 4:9,17,20. Efésios 6:18.

A vida cristã tem sido muito frequentemente comparada a uma guerra, e o apelo para entrar e aderir às fileiras e entrar na batalha do Senhor tem sido feito. Mas há uma irregularidade a respeito de tal apelo, porque, embora seja verdade que existe esta batalha e companhia militante, a real consciência dessa luta, dessa batalha, não existe até que sejamos salvos e estejamos ‘do lado do Senhor’. Quem não é convertido não sabe nada sobre esta batalha. Para eles, ela é algo meramente relatado, algo do que se fala, objetivo – que está fora deles, algo sobre o qual eles possuem ideias completamente erradas. Não passaremos a conhecer a realidade da batalha e a sua real natureza até que estejamos realmente em Cristo.

Não estamos interessados aqui neste momento somente com a guerra da vida cristã no sentido geral e comum. É com aquela guerra que está especialmente ligada e relacionada ao pleno testemunho do Senhor Jesus. A concepção geral da batalha cristã é que ela se relaciona com os males, os erros, os vícios e as coisas neste mundo e com as condições humanas que deveriam ser de outra maneira. E é aí que encontramos a concepção equivocada de homens e mulheres não convertidos. Eles pensam que entrar para o exército cristão significa sair em batalha contra as maldades, os erros, e os vícios que abundam neste mundo. Mas quando você realmente entra em contato com o pleno testemunho do Senhor Jesus, logo desenvolve uma outra consciência: aquela de que não é meramente contra maldades, erros, e pecados que você tem lutado, mas contra forças espirituais – forças inteligentes, astutas, venenosas e maliciosas – que estão por trás de tudo mais. É nesta guerra que estamos interessados agora, aquela que está relacionada ao pleno testemunho do Senhor Jesus, ao Seu absoluto e perfeito senhorio neste universo, e esta guerra não é contra coisas, mas contra entidades espirituais chefiadas por um grande personagem espiritual, o maligno.

Conflito Espiritual Implica uma Posição Espiritual

Esta guerra está relacionada a uma posição. É uma consciência que somente chega a nós em um determinado terreno. Você pode ser um cristão, e como cristão pode perceber adversidades, dificuldades, oposições e coisas que tornam a vida cristã difícil e cheia de conflitos, desafiando todos os aspectos combativos da vida. Contudo, você pode ainda não ter entrado nas últimas coisas do testemunho do Senhor Jesus e no campo final da batalha dos santos. 

Mas, se você, como crente, chegar à revelação da plenitude de Cristo em Seu senhorio pessoal, à grandeza da obra de Sua cruz e à luz da Igreja que é o Seu Corpo, então você entra imediatamente em um novo campo de conflito, a característica da batalha muda. Então você começa a desenvolver uma consciência, ou uma nova consciência começa a crescer em você, de que você está enfrentando algo muito mais sinistro, muito mais inteligentemente maligno do que aqueles males que abundam no mundo. Você fica cada vez mais consciente de que é diretamente contra o maligno e suas forças que você está lidando.

Mas esta consciência está ligada a uma posição específica, e a experiência dos crentes é que o quanto mais eles avançam com o Senhor (o que significa transcender do terreno para o celestial, cada vez mais para longe da velha criação em direção à nova vida criada, da carne para o espírito) mais intimamente eles entram em contato com as últimas forças espirituais do universo, e o conflito assume novas formas e a guerra assume uma nova característica. É uma guerra associada a uma posição específica alcançada pelo cristão, e à consciência que entra em cena somente num certo campo. É, em ampla medida, uma guerra espiritual, e, sendo assim, ela pressupõe um estado espiritual da parte do cristão.

Para colocar isto de outra maneira: quanto mais espirituais nos tornamos, mais espiritual se torna a guerra; e mais espiritual a guerra passa a ser em nossa consciência, de modo que poderemos perceber que temos nos tornado mais espirituais. Quando somos carnais nossa guerra é carnal - e eu me refiro a crentes, e não a descrentes. O infiel não é chamado de carnal. Ele é natural. Quando somos crentes carnais, nossa guerra e nossas armas são carnais. Isto é, enfrentamos os homens em seus próprios níveis e respondemos as provocações deles com aquilo que eles nos provocam. Se eles vêm com argumento, nós respondemos com argumento; se eles vêm com a razão, nós os enfrentamos com a razão; se eles vêm com a força do temperamento, nós reagimos a eles no calor da carne; e se eles vêm a nós com críticas, bem, nós damos a eles aquilo que eles dão a nós, enfrentando-os sempre em seus próprios níveis.


Isto é uma guerra carnal, é usar armas carnais. Quando cessamos de ser carnais e deixamos todo o terreno carnal, nos tornando completamente espirituais, nos encontramos em um novo terreno que está por detrás dos homens, lidando diretamente com forças espirituais e não meramente com forças carnais. Entramos em contato com algo que está por trás do homem carnal. O homem carnal é completamente impotente na presença de um homem espiritual pela simples razão de ele não conseguir fazer com que o homem espiritual desça para o seu nível. Por isso ele fica desarmado e, mais cedo ou mais tarde, terá que reconhecer que o homem espiritual é seu superior. Mas a superioridade não ocorre apenas porque o homem espiritual está em um novo nível. É que ele não está enfrentando o homem natural, mas as forças por detrás dele. Agora é guerra espiritual. Cessamos de lutar após a carne; cessamos de lutar contra o homem; cessamos de batalhar contra a carne; nossa guerra se dá num outro terreno. Isto representa avanço espiritual, crescimento espiritual, e representa espiritualidade. E quando nós entramos na guerra espiritual, um novo estado é pressuposto. Nesse terreno os recursos naturais do homem são completamente inúteis. Eles são descartados porque para esta guerra somente o equipamento espiritual é admitido e é eficaz. A guerra, então, é com armas espirituais, recursos espirituais. Em Efésios 6 nos vemos nos lugares celestiais, lutando, não contra carne e sangue, mas com os principados e potestades, porém equipados com a armadura espiritual, a armadura de Deus.

Extraído do Livro "Em Contato com o Trono" - T.Austin-Sparks