segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Em Contato com o Trono - Capítulo 2 / parte 2

A Vida de Oração – O Alvo do Inimigo

Isso tudo é preliminar. O ponto que estamos chegando de importância básica para nós, haja vista a natureza da nossa guerra, é que o campo desta batalha é a oração. Quando o Apóstolo Paulo nos mostrou a completa armadura de Deus, em todas as suas partes, e nos exortou a nos revestirmos dela e a resistirmos, ele estende o terreno sob os nossos pés e diz: “com toda oração e súplica no Espírito, vigiando nisto com toda a perseverança por todos os santos”. O campo de batalha dessa luta é a oração. O que quero dizer é o seguinte: que esta batalha é vencida no terreno da oração, onde essas forças são enfrentadas e derrotadas. Sendo assim, o principal objetivo do inimigo é a vida de oração do cristão. Este é o ponto focal de toda a atenção e estratégia do inimigo.

Se não disséssemos mais nada, este é o ponto supremo para nossa compreensão e reconhecimento. Dissemos a coisa mais importante que podia ser dita nesse sentido. O ponto focal de toda a atenção e estratégia do inimigo é a vida de oração do cristão. Se ele puder destruir isto de alguma maneira, ele ganhou o dia, derrotou os santos e frustrou os propósitos de Deus. O inimigo combate de maneira persistente, enérgica, violenta e astuta a vida de oração do cristão. Ele combate de várias formas. Primeiro ele combate ao longo de linhas preventivas, na direção da prevenção, e deve haver uma tremenda batalha e conflito para começar a orar - não apenas orar, mas ter a oração, começar a oração – e não há nada em toda gama de sua perspicácia, de sua astúcia, de sua artimanha, e de sua desenvoltura que o inimigo não irá explorar para impedir a verdadeira oração espiritual. Penso que provavelmente será suficiente para nós nos concentrarmos sobre isso agora mesmo.

A Batalha da Oração

Estou muito certo de que tenho a concordância da maioria do povo do Senhor, quando digo que uma das coisas mais difíceis, se não a mais difícil, é ser capaz de chegar à oração, de nos entregarmos à oração. Quando contemplamos a oração, encontramos uma hoste de dificuldades inesperadas e imprevistas que de repente surgem como forças de tocaia que se lançam sobre nós. Tudo para impedir a oração! Não estou dizendo algo que você não sabe, mas estou dizendo isto a fim de que você reconheça de maneira clara, definitiva e deliberada, e enfrente o fato de que não são apenas as circunstâncias ordinárias que impedem a sua oração, mas um esquema intencional, bem colocado pelo inimigo. O inimigo, ao invés de se opor, irá promover ocupação com mil e uma coisas para o Senhor, se por meio disso ele puder impedir a oração. Ele não se importa com o quão ocupados estejamos na obra do Senhor, nem com o quão frequentemente estejamos pregando, conduzindo reuniões, e fazendo a obra do Senhor, como quer que você a chame. Ele sabe muito bem que toda a obra para o Senhor que não é fundamentada na oração espiritual triunfante irá valer muito pouco, ou nada, no longo prazo e irá sucumbir. Digo que ele não se importa com a sua obra. Trabalhe para o Senhor tão duro quanto possa, mas, se você deixar a oração, não irá ter muito êxito. Uma das sutilezas do inimigo é nos fazer ficar ocupados, tão ocupados, tão em movimento e sobrecarregados com – como pensamos – as coisas do Senhor e com a obra do Senhor, que nossa oração fica reduzida e limitada, se não quase que inteiramente descartada; e o Senhor jamais irá aceitar a desculpa: ‘Senhor, estou muito envolvido em Teus negócios para orar’. O Senhor jamais aceita uma atitude como essa.

Você irá se lembrar que quando os filhos de Israel começaram a falar sobre seu êxodo do Egito, e a contemplá-lo, a reação do inimigo foi dobrar o serviço deles, isto é, fazê-los ficar tão ocupados com o serviço que não haveria mais tempo algum para contemplar um êxodo. Imediatamente ao você começar a contemplar ou a se propor a uma vida de oração mais plena, o inimigo lança um novo esquema para mantê-lo mais ocupado, acumulando o serviço e as demandas de modo que você não tenha tempo ou oportunidade para orar.

Penso que devemos enfrentar isto muito decisivamente. Naturalmente há muitos argumentos sobre o dever, a obrigação e a responsabilidade, e isto às vezes soa como que, se colocar algumas coisas de lado para orar seria negligenciar o dever, ou faltar com a obrigação, ou com a responsabilidade, mas há um momento em que devemos lançar essas questões sobre o Senhor, e orar.

Certo, evidentemente, é muito difícil aplicar isso. Há sempre riscos em dizer algo assim, porque sempre há pessoas que estão mais do que prontas para abandonar as suas responsabilidades, ou que não gostam de assumir responsabilidades seriamente. Elas simplesmente estariam prontas e felizes para transferir suas tarefas domésticas para outra pessoa enquanto cultivassem uma vida devocional. O Senhor precisa salvaguardar esta palavra. Mas nós temos que reconhecer o seguinte: que o inimigo irá construir os seus melhores argumentos sobre responsabilidade, sobre o dever para nos impedir de orar, e há um momento em que, se virmos que a oração está completamente descartada, ou reduzida a ponto que seja completamente inadequada para uma vida espiritual ascendente e de vitória, temos que dizer: ‘Senhor, vou entregar a responsabilidade a Ti enquanto oro, confio que o Senhor não irá permitir que a minha interrupção por este momento tenha resultados danosos, e que o Senhor irá guardar esta hora de oração – em que busco por Tua glória - da invasão do inimigo’.

O princípio do dízimo realmente funciona, até mesmo neste terreno. Dê a Deus a Sua porção, o Seu espaço, e você irá descobrir que quando você tiver dado ao Senhor o Seu décimo, você será capaz de fazer mais com os nove décimos do que você poderia fazer com os dez. Este princípio funciona. Mas há uma batalha para orar, e a necessidade é de um forte, poderoso, deliberado e determinado permanecer em Cristo, pela vitória de Sua Cruz, para começar a orar, trazer o valor pleno da vitória da cruz do Senhor Jesus para garantir a oração e remover o inimigo do terreno da oração, de modo que este esteja guardado. É como Samá, quando ficou no terreno cheio de lentilhas com a espada em suas mãos e, sozinho, lutou contra os Filisteus e salvou aquele terreno de lentilhas, e o Senhor operou um grande livramento. O terreno de lentilhas pode representar o nosso terreno de oração, que precisa ser defendido contra o inimigo na plenitude da vitória do Calvário. Há uma luta para orar. Temos, temo eu, muito frequentemente aceitado a situação de que não é possível orar agora mesmo, ou que as coisas são tais que torna quase que fora de questão orar. Sim, elas serão, se o Diabo tiver o seu espaço; elas serão sempre tais de modo a tornar a oração fora de questão. Esta é uma de suas táticas. Temos que limpar o terreno para a oração na vitória do Seu nome e da Sua Cruz. A Cruz é tão eficaz em guardar o momento da oração, se nós a aplicarmos, como é em qualquer outra área.

Porém, temos que conduzir a oração no terreno da vitória. Temos que assumir esta atitude, e iremos achar mais e mais necessário assim fazer: 'Agora preciso orar. Tudo torna a oração impossível no lado humano, mas, Senhor, suplico na vitória do Calvário por um tempo de oração, um espaço livre para oração’. Temos que permanecer nesta vitória, o que pode significar ter que perseverar antes de chegarmos lá. Não são apenas as muitas coisas que podem nos pressionar ao longo da linha das circunstâncias e acontecimentos externos, para não deixar nenhum espaço para a oração. Quão verdadeiro é que, quando realmente caímos de joelhos, ainda assim a oração é resistida! Pode não ser nada exterior. Pode não ter campainha ou telefone tocando, nem alguma pessoa chamando. Podemos estar confinados no silêncio do nosso próprio quarto e estarmos de joelhos, e, então, uma poderosa atividade perturbadora começa. Pode não ser física. Podemos subitamente desenvolver uma consciência física que não estava ali momentos antes, e isto irá ameaçar todo o nosso momento de oração, de modo que descobrimos que fisicamente temos que levantar um tremendo fardo, um fardo opressivo. Podemos até desenvolver sintomas de doenças das quais não tínhamos consciências antes. São fatos. E, então, condições mentais podem aparecer, as quais simplesmente não existiam antes. Oh, imediatamente, uma invasão de mil e uma coisas que não nos incomodavam até aquele momento! A mente fica ocupada com reflexão e com coisas que não nos incomodavam até então. E o que dizer sobre aquele senso de dormência, de frieza, de distância e irrealidade que desce sobre você em alguns momentos? Se você orar audivelmente, sua voz parece estranha e distante, e você parece estar falando ao vento. Todas essas coisas, e muitas outras, sobrevêm quando nos propomos a orar. Elas surgem bem no início, e por um momento nós enfrentamos todo tipo de desencorajamento e restrição para orar, e, se tomarmos os primeiros cinco, dez ou quinze minutos como nosso critério, iremos desistir, iremos parar e continuar com outra coisa.

Sim, o inimigo está pronto para impedir a oração, e há uma fase da batalha que tem que ser vencida a fim de se conseguir orar. Novamente digo, isto não é nada novo para você – a menos, naturalmente, que você nunca tenha tido uma vida de oração, ou seja alguém que nunca assumiu seriamente o negócio da oração. Mas não estou falando tudo isto para informá-lo. Estou falando isto para você e para mim mesmo, a fim de que possamos reconhecer que isto é uma coisa que nos chama para a batalha. Entrar na oração é a batalha dos santos, e não apenas vencer na oração. Há este aspecto da atividade do inimigo que é o de impedir a oração, e conseguir isto é uma batalha. Tem que haver um ‘permanecer firme’, um assumir de posição, um resistir em oração em favor da oração.


Espero que a menção de tudo isto, que é tão real nas suas experiências, venha a ter, contudo, o efeito desejado de fazê-lo reconhecer que no futuro, a sua vida de oração não irá se desenvolver se o inimigo puder impedi-la, e se você for obtê-la, e se ela for se desenvolver então você terá que aguentar firme. Ela não irá simplesmente surgir. Você não será simplesmente lançado nela. Você nunca se encontrará sendo levado a uma poderosa vida de oração, nem caminhará com facilidade em direção a ela. Você irá descobrir que há conflito e batalha para consegui-la, que todo tipo de coisas será utilizado pelo inimigo para impedi-la, e tudo o que ele tem ao seu comando sobrenatural será usado. Você e eu, caro amigo, temos que lutar pela nossa vida de oração, e, quanto mais avançarmos com o Senhor espiritualmente, mais descobriremos que acontece dessa maneira. O ponto não é que o inimigo esteja pronto para nos impedir de ter uma vida pessoal de oração. Não é contra isto que ele se opõe. É contra o testemunho do Senhor Jesus, que está muito intimamente ligado à vida de oração do povo do Senhor, que ele luta. Você e eu, como indivíduos, como seres humanos, não significamos nada para o inimigo. É aquilo que está associado a nós, e naquilo que estamos associados a Cristo – Seu senhorio e Sua glória.

Extraído do livro "Em Contato com o Trono" - T.Austin-Sparks

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