quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Um Sinal

“Dize: Eu sou vosso sinal”. Ezequiel 12:11

A concepção mental do significado do que é consagração é: ser abençoado e se tornar uma benção. Essa não é uma concepção verdadeira, se pararmos apenas por aí. Estas passagens que destacamos contém uma proposição, que é o principio básico e central da consagração, que é se entregar ao Senhor. E qual é esse princípio? Que o Senhor possa nos tornar um sinal. Essas passagens contém esta lei, que temos frequentemente assinalado, de que Deus, em Seu eterno propósito, determina que o método para Sua realização seja por uma encarnação de Si mesmo. Isto é, por meio de uma manifestação de Si mesmo na carne. Ele deseja fazer algo por meio dessa encarnação que seja um sinal para o universo, que signifique algo de infinita Sua Sabedoria, Poder e Soberania - usar essa forma de homem, para que nela possa fazer coisas e dizer: “Olhe isso e aprenda”. Por meio daquilo que Ele faz naquele instrumento, está tornando ele um sinal, com significado não apenas para o homem, mas para os anjos das duas hierarquias, a divina e a satânica. Como exemplificado em Jó, Ele faz algo para que todo o exército de anjos e demônios olhe e aprenda, para que eles se tornem sábios. Portanto, em cada esfera, entre os homens e nas esferas celestiais, as inferiores e superiores, Deus deve ser capaz de fazer algo naqueles que são Dele, que possa ser o meio de instruir, conscientizar, informar e demostrar.

Moisés foi um sinal aos Filhos de Israel. Ele desobedeceu a Deus, por isso Ele teve que atuar imediatamente, e, uma vez que Moisés estava em posição tão proeminente perante o povo, sua desobediência deveria ser publicamente punida. Por meio desse julgamento ele se tornou um sinal para os Israelitas, para que eles não viessem a considerar levianamente o pecado da desobediência. No que tange a nós, deverá muitas vezes haver uma pública demonstração e juízo da carne, para a advertência de outros, assim também como para a vindicação da Verdade em sua viva manifestação. Moisés foi um sinal de Deus. Tem um preço ser um sinal de Deus. Estamos dispostos? Quão grande foi o custo para Moisés! - mas – o que veio depois disso!

Podemos ver que este é um principio no trato divino conosco, conforme ilustrado nas seguintes escrituras: 

Ez 12:6  “fiz de você um sinal” 
Ez 12:11 “Sou teu sinal” 
Ez 24:24 “Lhes será um sinal, vocês farão o que ele fez e saberão que eu sou o Senhor”
At 1:8 “E serão minhas testemunhas” 
2Co 3:2 “Vós sois a nossa carta...conhecida e lida por todos os homens” 
2Co 3:3 “Sendo manifestos como carta de Cristo” 
1Co 4:1 “Que os homens nos considerem, pois, como ministros de Cristo” 
1Co 2:15 “Viemos a ser um espetáculo para o mundo, tanto diante de anjos como de homens”   
Ef 3:10 “Para que agora seja manifestada, por meio da igreja, aos principados e potestades nas regiões celestes, a multiforme sabedoria de Deus” 
2Co 2:15 “Porque para Deus somos o aroma de Cristo entre os que estão sendo salvos e os que estão perecendo”  

Acredito que o Senhor nestes dias está buscando e reunindo um povo que sejam Seu sinal para a Casa espiritual de Israel – que certamente serão poucos, o que não quer dizer que o Senhor não possa fazer isto com todos os que são Seus. Seus testemunhos podem não ser de que a Casa de Israel está totalmente errada; mas de que existe uma vida maior e mais profunda em Deus, para a qual Ele os teria chamado. Quando uma pessoa sente esse encargo tantos nestes dias, entenderá o significado disto: quando o Senhor chama um povo, pode ser um pequeno grupo, Ele coloca Sua mão sobre alguém aqui e outro ali, e os ajunta um por um a uma companhia pequena desses que serão um sinal especial para Sua casa. Ele lida com eles em maneiras completamente diferentes das que Ele lida com outras pessoas, e diz: “Farei uma coisa nova”.

Não adianta você fazer comparações com outros. Eles podem, em seus caminhos, ter um certo zelo e benção de Deus sobre eles; mas isso não quer dizer que a maneira que o Senhor está conduzindo você é errada; e não ouse discutir pelos caminhos que outras pessoas vão. Este é o caminho do Senhor para você. Não pare para fazer comparações. Nós tropeçamos nisso muitas vezes, nós que temo-nos dado inteiramente a Deus, e então temos estas experiências e provas excepcionais a enfrentar – o impacto total da ira do inimigo. Olhamos a nossa volta para outros que têm um caminho mais fácil, porque eles não estão seguindo pelo nosso caminho. De imediato, ao fazermos isso, tudo começa a desabar sob nossos pés. O ponto é, o Senhor tem Sua roda dentro da Roda [Ez 1:16], Seu instrumento com o qual Ele deseja manifestar um sinal especial para Seu povo de Sua Sabedoria, Seu Poder, Sua Graça, Seus Métodos, Seu Propósito, e assim revelar a Si mesmo através deles para outros. Não tenha, por nenhum momento, o pensamento de alguém estando em um pedestal, estando em isolamento, como que especial para o Senhor. Isso simplesmente significa descer mais profundo para a morte, e humilhação diante do mundo, mais do que qualquer outro. E porque o Senhor nos leva mais fundo, Ele pode revelar algo maior.

Podemos dizer, ao encerrarmos a nossa permanência nas linhas e associações mais antigas, que Deus está nos levando a um caminho que é não usual, o qual é, se preferir assim dizer, peculiar; e está realizando algo que sabemos não ter sido feito em nenhum outro lugar. A medida que o Senhor nos conduz em comunhão, acredito que é para que, em fazendo isso - com tudo o seu custo, sua dor, toda a necessidade da destruição de cada pedaço da carne, orgulho e arrogância, e do desejo pela aprovação dos homens e todo esse tipo de coisa – Ele busque esses que vão segui-Lo, a fim de que possa torná-los um Sinal, algo espiritual, poderosamente espiritual. Isso não quer dizer que os homens irão aplaudir, não que os homens irão aprovar, mas que possa, porventura, ser um impacto de Deus desde o Seu Trono sobre o trono de Satanás, neste últimos dias. Esse é o peso da Palavra do Senhor: “Filho do homem, tenho feito você um Sinal”; “Diga a eles, Eu sou teu Sinal”.

Assumo que nós, que estamos reunidos neste lugar nesta noite, somos todos povo do Senhor. Praticamente todos nós estamos nesta comunhão do Espírito, tendo nos entregado para seguir com o Senhor por todo o caminho. Me parece que este é o momento em que devemos encarar a implicação desta palavra; se estamos indo pelo caminho popular, ou pelo impopular; de se iremos ser o Sinal do Senhor. Quando Paulo proferiu estas palavras: “Deus nos fez ser por último, um espetáculo”, ele estava considerando os feriados dos Romanos, quando eles se reuniam para um dia de esporte; e tudo já tinha acabado, a última coisa que acontecia era colocarem na arena, criminosos que eram tornados em esporte para coroar o feriado, para que pessoas rissem, zombassem, ridicularizassem, fizessem piada; e Paulo diz: “por último, somos feitos um espetáculo” - o mundo ri. Assim como o mundo riu de Neemias na construção dos muros de Jerusalém.

“Deus nos fez um espetáculo”. Estamos prontos para ser feitos um “Sinal”? Aquilo do que o mundo ri? A cruz do Senhor Jesus tem provado que tem sempre sido o superlativo da sabedoria e do poder de Deus. No momento, o compartilhar da cruz é o teste real. O Mestre suportou a cruz, e desprezou a vergonha, a fim de ser feito um sinal. Houve alguma vez algum Sinal mais glorioso e poderoso do que aquela cruz?

Então o nosso Mestre chegou até o fim e disse: “por causa deles Eu me consagro a Mim mesmo, por causa deles Me entrego à completa consagração; e essa consagração é a cruz; Estou disposto a ser feito um “espetáculo” para os homens, demônios e anjos, por causa deles”. O Senhor quer que sejamos Sinais. Digo isso com respiração suspensa, sabendo pouco do que isto significa, mas sabendo também que Sua Graça é suficiente. Amados, Ele está apenas procurando reunir uma companhia de pessoas na qual Ele possa fazer um Sinal, não apenas de sofrimento e aflição, mas de Poder e Glória, para mostrar a outros Sua Sabedoria, Sua força, Sua Soberania, Sua Graça. Será que você dirá, nesse terreno: “Sou do Senhor. A Teus pés me lanço; para sofrer, viver ou morrer, por meu Senhor crucificado?” Isto é o que quer dizer ser Suas testemunhas. “Vocês serão Minhas Testemunhas” - não quer dizer sair e falar; significa o Senhor operando em nossas vidas, e outros olhando, e dizendo: “Essa é a Mente de Deus; esse é o Caminho de Deus; essa é a Vontade de Deus”. E a medida que Ele faz isso, demônios aprendem quem Deus é, a Glória de Deus, a Soberania de Deus; os anjos curvam-se por causa de Seus feitos na Igreja, e O glorificam em nosso favor.

Que Ele possa nos levar a dar nosso assentimento e consentimento num novo e fresco ato de entrega e consagração individual, e coletiva, nestes próximos dias.


T.Austin-Sparks - Primeiramente publicado na revista “Um Testemunho e Uma Testemunha”, Jan-Fev 1927, Vol 5-1

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A Solução que Abrange Tudo

"Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; porque morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus." Cl 3:2,3

Através de sua carta vejo que sua amiga está cheia de boas intenções em realçar a Deus, mas ela quer avançar mais rápido do que a própria graça. Um cristão não vira santo, de repente, não importando quanto tempo ele persevere para isso ou diga que tem experiência. Recomendo que ela fique aos seus cuidados. Devemos nos ajudar uns aos outros e nos encorajarmos, sobretudo através de nossos bons exemplos.

Sempre que possível, devemos lembrar que a nossa única tarefa na vida é agradar ao Senhor e que tudo mais, ao lado disso, é todo e sem valor.

Eu e você temos vivido uma vida monástica durante muitos anos. Será que empregamos esses anos para amar ao Senhor? Afinal, foi por Sua misericórdia que fomos chamados e escolhidos. E com que propósito? Para amá-lo.

Quando me dou conta dos grandes favores que Deus me concedeu, e continua concedendo, e como aproveitei tão pouco de tanta misericórdia e de tantos favores no sentido de alcançar a perfeição, sinto-me envergonhado. Mas, honre o Seu nome, pois através da Sua misericórdia Ele deu a nós dois um pouco mais de tempo. Portanto, sejamos sérios em relação a Ele. Querida irmã, recupere o tempo perdido. Retorne, com segurança, ao Único que é misericordioso e que concede graças. Retorne a seu Pai que sempre e a qualquer momento está pronto para recebê-la. E ainda digo mais: Ele a receberá com profunda afeição.

Deixemos que o nosso amor transborde e renunciemos a tudo que não seja Ele. Deus merece isso e muito mais. Pensemos Nele permanentemente e coloquemos Nele, os dois juntos, nossa confiança. Não tenho dúvidas que logo sentiremos os efeitos disso. É necessário que deixem tudo e fiquemos apenas com Cristo; mas, oh, basta-nos a abundância de suas graças! Através delas podemos fazer todas as outras coisas. Sem elas, nada podemos a não ser pecar.

Não há maneira de escapar dos perigos da vida sem a ajuda contínua da presença de Deus. Oremos, então, para que Ele continue a nos ajudar.

E como orar para Ele sem estar com Ele? E como estar com Ele sem pensar sempre Nele? E como pensar Nele sem adquirir o santo hábito de estar na Sua presença?

Você vai dizer que estou sempre repetindo a mesma coisa. É verdade, porque este é o método melhor e mais rápido que conheço. Nele está a solução para todos os problemas espirituais. E como não conheço outro método, aconselho a todos a seguirem este.

Direi isso em outras palavras: antes de podermos amar, precisamos conhecer. É preciso que conheçamos a pessoa, pra que possamos amá-la. Como poderemos manter o nosso "primeiro amor" para com o Senhor? Conhecendo-O cada vez mais! 

E como poderemos conhecer o Senhor? Estando sempre voltados para Ele, pensando Nele e O contemplando. Então, nossos corações encontrarão os seus tesouros.

Este é um argumento que merece a sua consideração!


Extratos do testemunho do Irmão Lawrence (1611 - 1691), que viveu aproximadamente 55 anos na comunidade religiosa chamada Carmelitas. Esse irmão serviu na maior parte do tempo na cozinha do hospital. Tornou-se muito conhecido dentro da comunidade e depois fora dela, por sua fé tranquila e serena e por sua experiência da "presença de Deus".


Extraído do livro "A Prática da Presença de Deus" - da Ed.Danprewan


sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Acima de Qualquer Método

"Mas o Senhor tem sido o meu alto retiro, e o meu Deus a rocha do meu alto retiro, e o meu Deus a rocha do meu refúgio." Salmo 94:22

Há poucos dias atrás estava conversando com um irmão de piedade. Ele me dizia que a vida espiritual era uma vida de paz e que ela é alcançada quando passamos por três fases. Primeiramente existe o medo; depois esse medo é substituído pela esperança e pela vida eterna; e, finalmente, vem a consumação, aquela que é o puro amor. Ele disse que cada um desses três estados é um estágio que traz a pessoa para a "consumação sagrada". 

Nunca segui esse método. Ao contrário, sempre me senti desencorajado diante de tais coisas e, quando finalmente consegui estar com o Senhor, decidi simplesmente dar-me a Ele. Este presente que fiz de mim mesmo, foi a maior satisfação que tive em relação a esperança de estar livre dos meus pecados. Compreendi que somente por amor a Ele eu poderia renunciar a tudo que se referia aos interesses deste mundo.

Durante os primeiros anos em que estava buscando a Deus não usei nenhum método. Reservei alguns momentos para pensar sobre a morte, sobre o julgamento, sobre o céu, o inferno e meus pecados. Fiz isso durante muitos anos. Mas, no resto do tempo comecei a fazer uma outra coisa. Passava o resto do meu dia, mesmo durante o horário de trabalho sintonizando a minha mente, cuidadosamente, na presença de Deus. Sempre achei que Ele estava comigo, até mesmo dentro de mim.

Finalmente, decidi usar os horários de oração para praticar qualquer tipo de devoção metódica, o que me proporcionava uma grade satisfação e um grande conforto. Depois, mesmo nesses momentos, eu me fixava na presença de Deus. Essa prática nova revelou-me muito mais sobre o Senhor. Somente com a minha fé, sem métodos e sem nenhum medo, foi o bastante para que eu me sentisse seguro e caminhasse na direção do Senhor.

Foi assim que eu comecei.

Os dez anos que seguiram forma muito duros e tive muitos problemas. Eu receava não estar sendo tão devotado a Deus como queria ser e os meus antigos pecados estavam sempre presentes em minha mente, fazendo com que me sentisse não merecedor de todos os favores que Deus me concedia! Isso é a fonte dos meus sofrimentos.

Durante esse período senti-me, muitas vezes, como se tivesse que nascer de novo. Era como se toda a criação, toda a razão e até o próprio Senhor estivessem contra mim...e só me restava a fé. A idéia de que estava sendo presunçoso em acreditar que tinha recebido do Senhor favores e graças - e essa presunção só serviria para levar-me ao ponto que outros só haviam chegado passando por estágios onde haviam encontrado muitas dificuldades - me deixavam muito perturbado. Em certa ocasião pensei até que, talvez esta minha relação com Deus fosse apenas fruto de uma ilusão de minha parte, e que eu não tinha salvação!

Espantosamente, todas essas dúvidas e medos não diminuíram a minha confiança em Deus e só serviram para aumentar a minha fé. Finalmente, descobri que poderia deixar de lado todos esses pensamentos que brotavam em momentos de cansaço e problemas. Imediatamente descobri que eu havia mudado. Minha alma, que havia sido tão perturbada, sentia uma paz interior profunda e estava descansada.

Desde então, tenho caminhado diante de Deus simplesmente com a minha fé, com muita humildade e amor. Agora, tenho apenas uma coisa a fazer: aplicar-me cada vez mais para ter sempre a presença de Deus e nada fazer ou dizer que possa desagradar a Ele.

Muitos anos se passaram desde que vivi tudo isso. Não tenho dores nem dúvidas no meu estágio atual, porque só tenho uma única vontade: a de Deus. A ela sou submisso e não pego uma palha no chão sem que seja por Sua ordem e faço isso por um único motivo: o amor a Ele.

Acabei com todas as outras formas de devoção, mas mantive o tempo para as orações, porque sou obrigado a isso. A minha única ocupação agora é perseverar na Sua santa presença. Faço isso dando ao Senhor simplesmente uma atenção amorosa. 

Atualmente tenho a experiência da presença de Deus. Para usar um outro termo, chamo a isso de conversa secreta de minha alma com o Senhor.

Frequentemente me perguntam: "O que você faz quando a sua mente se distrai com outras coisas?" Isso acontece algumas vezes quando é necessário ou quando estou enfraquecido. Mas o Senhor logo me chama de volta. Esse chamado acontece através de uma emoção interna ou de um sentimento, também interno, tão agradável e charmoso que fico até perdido e incapacitado de descreve-lo.

Não fique impressionado comigo pelo que eu estou contando. Você tomou conhecimento das minhas fraquezas, portanto lembre-se sempre delas. Sou totalmente indigno e não merecedor de tudo que o Senhor me concedeu.

Minhas horas de oração são exatamente iguais aos outros momentos do dia, para mim. Elas são uma continuação do mesmo exercício que tenho feito para obter a presença de Deus. Algumas vezes vejo-me como uma pedra antes de ser esculpida, pronta para que façam dela uma estátua. Peço a Deus que forme a Sua imagem perfeita em minha alma, tornando-me inteiramente igual a Ele. Outras vezes, enquanto estou orando, sinto que a minha alma e meu espírito se elevam, sem nenhum esforço da minha parte, para o centro de Deus.

Algumas pessoas disseram que este estado é fruto da minha inatividade, de ilusões e até mesmo do meu amor próprio. Concordo que é uma inatividade total e que seria um amor próprio feliz se a alma tivesse capacidade, nesse estado, para tê-lo. Mas agora, o oposto a tudo isso é que é verdadeiro. Quando a alma repousa em Deus não segue o seu comportamento usual de egoísmo; o seu amor é somente para Deus.

Eu não consigo olhar isso como uma "ilusão". Quando o meu eu interior está na presença do Senhor, deleitando-se com Ele, ele não quer nada mais a não ser o Senhor! Se é uma ilusão, cabe a Deus remediá-la.

Senhor, faça de mim o que achardes melhor. Eu só desejo ser totalmente devotado a Vós.


Extratos do testemunho do Irmão Lawrence (1611 - 1691), que viveu aproximadamente 55 anos na comunidade religiosa chamada Carmelitas. Esse irmão serviu na maior parte do tempo na cozinha do hospital. Tornou-se muito conhecido dentro da comunidade e depois fora dela, por sua fé tranquila e serena e por sua experiência da "presença de Deus".

Extraído do livro "A Prática da Presença de Deus" - da Ed.Danprewan

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Almejando ser Verdadeiro Adorador

"mas, assim como o Pai me ordenou, assim mesmo faço, para que o mundo saiba que eu amo o Pai." João 14:31

Vou abrir meu coração e comentar de que maneira eu vou até Deus. Tudo depende de uma renúncia sincera de todas as coisas sobre as quais você tem consciência de que não estão sendo conduzidas por Deus. Você tem de se acostumar a manter uma conversação que é simples e livre. Temos de reconhecer que Deus está sempre intimamente presente em nós e dedicar todos os momentos a Ele. Se tivermos alguma dúvida devemos pedir a Sua assistência para saber qual é a Sua vontade. E, nas coisas que sentimos que Ele está solicitando de nós, devemos ter um desempenho perfeito. Devemos oferecer todas as coisas a Ele antes mesmo de realizá-las, e agradecer quanto tivermos terminado.

Em nossa conversação com Deus, devemos mostrar que tudo o que fazemos é com a intenção de louvá-Lo e amá-Lo incessantemente, por Sua infinita bondade e perfeição.

Não devemos nos desencorajar por causa dos nossos pecados, basta orar e pedir que Ele nos conceda a Sua graça, confiando na infinita misericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristo. Deus jamais falha quando oferece a Sua graça e eu nunca deixo de perceber isso, a não ser quando meu pensamento se dispersa ou quando esqueço de pedir a Ele que me ajude.

Deus sempre nos dá luz para esclarecer as dúvidas, sobretudo quando Ele vê que não temos outro desejo a não ser o de agradá-Lo.

A nossa santificação não está condicionada a trocarmos o nosso trabalho, muito pelo contrário, basta que dediquemos a Ele todas as coisas que fazemos normalmente para nós mesmos. É lamentável constatar que muitas pessoas confundem os meios com os fins, dedicando-se somente a alguns de seus trabalhos. Elas não conseguem um desempenho perfeito por causa do egoísmo de seus propósitos humanos.

O método que encontrei para chegar à excelência na minha caminhada em direção a Deus foi o de realizar os trabalhos mais banais sem visar o interesse do homem e, quanto mais longe eu sou capaz de chegar, eu o faço puramente por amor a Ele.

É uma grande ilusão pensar que o momento de orar é diferente dos outros. Temos a obrigação de estar com Deus em todos os momentos, exatamente como estamos durante o período em que estamos orando.

Minhas orações nada mais são do que o reconhecimento da presença de Deus. Minha alma fica insensível a qualquer coisa que não seja o amor divino. Quando o momento de orar acaba, não há diferença para mim, pois continuo com Deus, louvando-O e abençoando-O com todas as minhas forças. Por isso, tenho vivido com uma alegria contínua. Espero que Deus me dê mais sofrimento para que eu me fortifique cada vez mais.

Não devemos nos desgastar fazendo pequenas coisas pelo amor de Deus, porque Ele não está olhando a grandeza do trabalho, mas, sim, a grandeza do amor com que ele está sendo feito. Se no começo falharmos no esforço de adquirir essa maneira de vida não devemos nos espantar, pois no final ganharemos um hábito que fará com que realizemos tudo, naturalmente, sem dificuldade e com grande prazer.

A essência da religião é simplesmente a virtude da fé, da esperança e do amor. Praticando isso, chegaremos a Deus. Todas as outras coisas não são importantes, são apenas meios para que possamos conseguir o nosso objetivo - para nos consumirmos em nossa união com a vontade divina, através da fé e do amor.

Tudo é possível para aquele que crê; é mais fácil para ele ter esperança e é ainda mais fácil amar e perseverar na prática das três virtudes.

Temos de nos propor a alcançar esse objetivo: nos tornarmos nesta vida os mais perfeitos adoradores de Deus (se é isso que desejarmos ser através de toda a eternidade).

Quando entrarmos para a vida espiritual, devemos considerar e examinar quem nós somos profundamente. Então, encontraremos a nós mesmos e veremos que somos até mesmo desprezíveis e que não merecemos o nome de cristãos. Estamos submissos a toda a espécie de misérias e acidentes que nos perturbam e causam mudanças frequentes em nossa saúde, humor e disposição, tanto internamente como externamente. Entretanto, não devemos achar que todos os problemas, tentações, oposições e contradições são provocados pelo próprio homem. Ao contrário, temos de nos submeter e suportar tudo isso pelo tempo que Deus achar necessários, porque só nos trará muitas vantagens.

Quanto maior é a perfeição que você aspira ter, mais dependente você fica da graça divina.


Extratos do testemunho do Irmão Lawrence (1611 - 1691), que viveu aproximadamente 55 anos na comunidade religiosa chamada Carmelitas. Esse irmão serviu na maior parte do tempo na cozinha do hospital. Tornou-se muito conhecido dentro da comunidade e depois fora dela, por sua fé tranquila e serena e por sua experiência da "presença de Deus".

Extraído do livro "A Prática da Presença de Deus" - da Ed.Danprewan

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O Momento que Tudo Mudou

"Respondeu-lhe Jesus: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento."
Mt 22:37

...Resolvi fazer do amor a Deus o objetivo de todos os meus atos. Sempre me senti satisfeito com apenas esse motivo. Fico feliz quando posso pegar um graveto no chão só por amor a Deus, buscando só a Ele e nada mais - sem a intenção de receber Dele qualquer retribuição.

Minha grande preocupação era que talvez eu pudesse ser condenado. Todos os homens do mundo não podiam persuadir-me do contrário. Então, resolvi comigo mesmo, e dediquei-me à vida religiosa em função Dele, não importava o que viesse a me acontecer, salvo ou condenado, eu continuaria a agir unicamente por amor a Deus. Achei que assim seria o melhor, ir até a morte dando tudo de mim pelo amor Dele. Esse estado de perturbação da minha mente durou anos. Sofri muito durante esse período, mas no momento em que percebi que todas essas preocupações resultavam em falta de fé, passei a viver totalmente livre e com uma alegria contínua. 

Para conseguir adquirir o hábito de conversar com Deus continuamente e remeter tudo o que fazemos à Ele, temos de nos dedicar completamente a isso. Depois de algum tempo encontraremos o Seu amor interiormente, o que nos provocará a obter a Sua presença sem nenhuma dificuldade. 

Em alguns momentos, quanto queria exercitar alguma virtude, eu me virava para Deus e confessava: "Senhor, só poderei fazer isso ajudado por Vós." Então, eu recebia uma força mais do que suficiente para fazer o que era necessário. Quando falho... simplesmente admito os meus erros dizendo para Deus: "Eu não conseguirei fazer da maneira certa, se me deixardes agir por mim mesmo. Sois Vós que tendes de fazer com que eu pare de errar e sois Vós que tendes de corrigir o que não está certo." Depois de tal oração eu me despreocupo totalmente em relação a minhas faltas.

Devemos agir com a maior simplicidade quando nos relacionamos com Deus, falando com Ele francamente, implorando Sua assistência em nossos negócios a medida em que eles acontecem. Ele nunca falha e sempre concede Sua ajuda, isso eu asseguro por experiência própria.

Recentemente, fui a Burgundy para comprar um estoque de vinho para a sociedade a qual me filiei. Isso foi uma tarefa nada agradável para mim. Eu não tenho uma habilidade natural para negociar, sou muito pouco convincente. Apesar disso, essa incumbência não me abalou. Disse ao Senhor que isso era responsabilidade Dele, e depois, tudo saiu certo.

Também é assim na cozinha (que é um lugar pelo qual eu tenho a mais profunda aversão). Acostumei-me a fazer tudo lá, única e exclusivamente por amor a Deus. Em todas as ocasiões, orando, consegui as Suas graças para realizar bem o meu trabalho, que me pareceu até fácil durante os quinze anos que tenho estado aqui. Sinto-me satisfeito com o posto que ocupo agora, mas posso até deixá-lo desde que possa sempre estar fazendo as coisas por amor a Deus.

Os meus horários de orar não são diferentes dos outros horários do dia. Embora eu tenha que me isolar (por orientação do meu superior), não necessito na realidade de isolamento e nem peço mesmo isso, porque nenhuma grande atividade pode me desviar de Deus. Tenho consciência das minhas obrigações em relação ao meu amor por Deus e me esforço para fazer todas as coisas corretamente. Tenho também a consciência dos meus erros, mas não me desencorajo por causa deles. Quando confesso minhas faltas ao Senhor, simplesmente estou resumindo a minha prática usual de amor e adoração a ele. 

Na época em que minha mente estava perturbada ... eu sabia, pela luz da fé, que Deus estava comigo em todas as coisas e eu era feliz por dirigir todas as minhas ações para Ele. Em outras palavras, eu realizava todas as coisas desejando agradar ao Senhor e deixava tudo o mais vir do jeito que viesse. 

Os nossos pensamentos usuais estragam tudo. Eles provocam sempre algum dano. Devemos rejeitá-lo logo que percebermos que são impertinentes. Devemos rejeita-los e retornar à nossa comunhão com Deus. 

No início, frequentemente, eu comprometia todo o meu tempo orando simplesmente para afastar esses pensamentos e, logo depois, caia neles de novo. Fiz muita meditação por algum tempo mas, depois parei com esse exercício - como, exatamente, eu não sei dizer. Eu nunca tive muita habilidade para regular a minha devoção através de certos métodos, como algumas pessoas fazem.

Todas as mortificações corporais e outros exercícios são inúteis, exceto se servirem para chagar a uma união com Deus, pelo amor. Eu considerei bem tudo isso e descobri que o caminho mais curto para chegar até Deus é ir diretamente a Ele através de um exercício contínuo de amor e fazendo todas as coisas através Dele. 

Todas as espécies de mortificações, não importa quais sejam, não apagam um simples pecado. Nós sempre teremos o perdão para os nosso pecados através do sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, o nosso único esforço consiste em amá-Lo com todo o nosso coração. Deus parece ter concedido esse grande favor aos grandes pecadores, como prova da Sua monumental misericórdia. 

Não tenho hesitação, porque quando eu falho, reconheço rapidamente...se eu não falho, agradeço a Deus, reconhecendo que a força vem Dele.


Extratos do testemunho do Irmão Lawrence (1611 - 1691), que viveu aproximadamente 55 anos na comunidade religiosa chamada Carmelitas. Esse irmão serviu na maior parte do tempo na cozinha do hospital. Tornou-se muito conhecido dentro da comunidade e depois fora dela, por sua fé tranquila e serena e por sua experiência da "presença de Deus".

Extraído do livro "A Prática da Presença de Deus" - da Ed.Danprewan

Mensagem aos Leitores

Nos últimos dois meses, nosso encargo foi o de publicar mensagens relacionadas ao assunto específico do "Reino dos Céus". Entendemos que esse assunto é de vital importância para todo filho de Deus que busca seriamente agrada-lo e viver para Ele.

Durante desse tempo, pudemos contemplar a grandeza do nosso Pai, de seus Planos e Propósitos para nós. Além dessas maravilhas, também fomos confrontados com nossa responsabilidade pessoal diante de uma "tão grande salvação". Hoje, em meio a teologia da prosperidade, teologia da libertação, humanismo, ecumenismo...precisamos nos apegar ainda mais às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos.

Sabemos que existe um grupo de pessoas que deseja profundamente conhecer mais e mais o Senhor Jesus, mas também existe outro que está apegado aos seus próprios conceitos e dogmas. O segundo grupo está tão firmado na tradição de sua doutrina e prática, que será praticamente impossível ao Espírito Santo conduzi-los à uma maior plenitude de Cristo. Cabe lembrar que essas condições marcaram o Judaísmo nos tempos em que viveu o nosso Senhor Jesus. Deles se originou um forte antagonismo ao Senhor durante os dias de Seu ministério terreno, culminando em Sua crucificação.

Mas sabemos que Deus, em sua bondade e soberania não fica sem o Seu testemunho, portanto "quer ouçam, quer deixem de ouvir ..." (Ez.2:5), a mensagem da Palavra de Deus nunca morrerá.

"Deus no passado falou em fragmentos e de formas diversas, mas Hoje nos falou em plenitude. Ele não vai falar de novo ou adicionar algo mais àquilo que disse de forma final. O discurso fragmentado de Deus nas eras passadas, levou à severas consequências os envolvidos de acordo com sua atitude e reação a elas; mas aquilo era pequeno se comparado com Seu Discurso final. 

Em resumo: Você teve à sua disposição uma plena Revelação da vontade de Deus. Então é responsável por ela. Essa Revelação foi e é dirigida para trazer você a uma posição espiritual e governar toda a sua vida. A medida da sua vida espiritual - naquilo que traz satisfação ao Pai - será determinado pela sua obediência e apreensão viva daquela Revelação. O grau de sua efetividade e frutos vai declarar o grau de sua vitória ou derrota em sua apreensão.

A carta aos Hebreus descreve a revolução e reconstituição completa que Deus fez quanto trouxe Seu Filho, Jesus Cristo, ao mundo - uma revolução religiosa. No entanto, ela foi rejeitada pelo Judaísmo, desprezada e descartada até mesmo pela Cristandade desde os tempos Apostólicos. A grande marca do Judaísmo foi a de resumir uma série de coisas celestiais e espirituais a um mero sistema terreno. Trazer as coisas de Deus ao nível da alma: da visão, audição, emoção, razão, sentimentos, com os numerosos e complexos elementos da constituição humana. Mas esse sistema terreno, natural e temporal foi suplantado por um sistema celestial, espiritual e eterno. O Cristianismo, que confunde e mistura tantas vezes a alma com o espírito, poderá sofrer a mesma destruição do Judaísmo. " (Resumido de God Hath Spoken - T.Austin-Sparks)

Então nos perguntamos o que devemos fazer para agradar ao Pai, viver essa vida. O grande problema é que somos sempre levados a buscar em nós mesmo os recursos para isso, enquanto que a grande revelação do Pai é que o Seu Filho é o centro e objetivo de todo o universo.

Nesse período desejamos seguir esse encargo, de discorrer sobre esse COMO, como poderemos ser fiéis a essa tão grande Salvação - desfrutar do Senhor em plenitude.

Desejamos ser conduzidos à meditações sobre essa verdade tão abençoada - que não somos nós que vivemos, mas CRISTO VIVE EM NÓS. Essa verdade que foi tão real para o Apóstolo Paulo e o conduziu em triunfo em direção à coroa, uma verdade tão abençoada e visível apenas aos olhos do coração iluminados pelo Espírito Santo.

Portanto essa é a nossa oração: "… para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, (18) iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos (19) e qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder; (20) o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais"
Ef.1:17-20

A Ele toda a Glória! 

terça-feira, 10 de novembro de 2015

O Fim é Ser Queimado

Quantas coisas há em nós que ainda não foram tratadas? Quantas coisas não foram limpas pelo sangue do Senhor, e quantas coisas ainda não foram confessadas, tratadas e resolvidas com os irmãos e as irmãs? São esses os cardos e abrolhos a que o Senhor se refere. Mateus 5 diz que ninguém poderá sair dali enquanto não pagar o último centavo. Toda dívida terá de ser paga. Quando tudo houver sido queimado, toda dívida terá sido paga. 

Um cristão é semelhante a um campo, e seu comportamento indevido é comparado a cardos e abrolhos. Suponha que eu possua um terreno de cinco alqueires. Seria possível, depois da queimada, que somente dois alqueires tenham sido deixados intactos e três tenham sido queimados? Isso é impossível. O que é queimado são os cardos e abrolhos. O terreno em si não pode ser queimado. Em outras palavras, somente aquelas coisas que foram amaldiçoadas em Adão e deveriam ser removidas, mas não foram, é que serão queimadas. Elas serão o material que será queimado na Geena de fogo. A vida que Deus nos concedeu não pode ser tocada pelo fogo. Portanto, depois que os cardos e abrolhos forem queimados, o terreno ainda permanecerá. Nenhuma parte dele será tirada. Não há absolutamente nenhum problema com a nossa salvação, mas sim com o que vier a crescer sobre ela, com o que for proveniente da carne. Se tais coisas não forem tratadas com o sangue de Jesus, deveremos sofrer algum tratamento. 

Agora vejamos Hebreus 10:26-29: 
“Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários. Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés. De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança”. 

Esses versículos referem-se a alguém que rejeitou a Cristo e voltou ao judaísmo. Ele acha que gastando alguns dólares pode comprar um touro ou um bode como oferta pelo pecado. Se, porém, alguém conheceu a Cristo e voltou ao judaísmo, ele calcou aos pés o Filho de Deus e considerou Seu sangue como algo comum. Ele está tratando o Senhor como um touro ou um bode. Para ele não existe diferença entre o Senhor e um touro ou um bode. O versículo conclui: “E ultrajou o Espírito da graça”. Enquanto o Espírito Santo está lhe dando graça, ele O está insultando por voltar ao judaísmo. Esses versículos nos mostram o caminho de um apóstata. Eu não diria que tal pessoa seja salva; somente diria que pode ser que ela seja salva; talvez nem seja salva. O apóstolo não nos diz se tal pessoa é salva ou não. Ele diz apenas que, se uma pessoa veio a Cristo e depois voltou ao judaísmo, ela sofrerá pior punição. Seu fim é uma expectação de juízo e fogo vingador. Aqui vemos uma espécie de fogo. 

Juntamente com todas essas passagens, temos também as próprias palavras do Senhor em João 15. O versículo 2 diz: “Todo ramo em Mim que não der fruto, Ele o corta; e todo o que dá fruto Ele o limpa”. Esses não são ramos que nada têm que ver com Ele; são ramos que estão Nele. O que é mostrado aqui, pode não referir-se à punição temporária, mas à disciplina nesta era. Mas atente para o versículo 6: “Se alguém não permanece em Mim, é lançado fora, como o ramo, e seca; e os apanham, lançam no fogo, e são queimados”. Alguns ramos serão lançados no fogo e queimados. Alguns ramos cresceram e produziram folhas verdes, mas não têm fruto. Embora tenham vida interiormente, eles não têm fruto exteriormente. O Senhor Jesus disse que eles serão lançados fora, secarão, e queimarão no fogo. Aqui vemos claramente que os cristãos podem ter de passar pelo fogo. 

Tendo lido todas essas passagens, podemos concluir que se um cristão não lidar adequadamente com seus pecados, haverá punição à sua espera. A Bíblia nos mostra nitidamente que tipo de punição será. Não será uma punição comum, mas a punição da “Geena de fogo”. Contudo será o fogo no reino, não o fogo na eternidade. 

A questão agora é esta: Que tipo de pecado levará a essa condição? Desde que uma pessoa seja salva, é importante que ela lide com seus pecados. Nenhum dos pecados que ela tenha confessado, se arrependido, tratado e feito remissão pelo sangue do Senhor Jesus, voltará a ela no trono de julgamento. Tais pecados terão passado. Até mesmo o maior dos pecados terá passado. Mas existem muitos pecados que não serão omitidos; são os pecados que alguém contempla em seu coração. O Salmo 66:18 diz: “Se eu no coração contemplara a vaidade, o Senhor não me teria ouvido”. Quais são os pecados que o coração contempla? O coração é o lugar onde residem nosso amor e nossos desejos. O coração representa nossa emoção. Ele representa o homem psicológico. Se o coração contemplar a vaidade, o Senhor não nos ouvirá. Muitas confissões são feitas só porque a pessoa sabe que pecou, não há aversão pelo pecado, tampouco condenação do pecado. Tal pessoa o Senhor não ouvirá. Além disso, se temos com alguém um problema que não foi resolvido, ou se há coisas que precisam ser perdoadas e não foram, ou se procedemos mal com as pessoas ou com o Senhor, temos de tratar com estas coisas de modo específico. Ao mesmo tempo, temos de colocá-las debaixo do sangue do Senhor. Só então tais coisas estarão tratadas, e estaremos livres do julgamento vindouro.

Extraído do livro “O Evangelho de Deus” – Watchman Nee


segunda-feira, 9 de novembro de 2015

O Dano da Segunda Morte

Na Bíblia existem outras passagens similares que também falam destas questões. Apocalipse 2:11 nos diz que os que vencerem não sofrerão o dano da segunda morte, e Apocalipse 20:6 diz que um grupo de pessoas não morrerá novamente e a segunda morte não terá autoridade sobre elas. A segunda morte é o lago de fogo citado no final de Apocalipse 20. Isso significa que os derrotados sofrerão o dano da segunda morte. Ainda que não sofram a segunda morte, irão sofrer o dano da segunda morte. Uma vez que uma pessoa seja salva, ela não sofrerá a segunda morte. Contudo isso não garante que ela não sofrerá o dano da segunda morte. 

Sabemos que o tempo do lago do fogo e enxofre será o tempo no qual terá início o novo céu e nova terra. Naquela época, Satanás, o mundo e a morte serão todos lançados no lago do fogo (Ap 20:10, 14). Também naquele tempo quem não tiver seu nome registrado no livro da vida será lançado no lago do fogo. Aquele será o tempo em que os incrédulos serão oficialmente postos no lago do fogo. Entretanto, durante o milênio, os cristãos derrotados sofrerão o dano da segunda morte. Obviamente tal tratamento não será igual ao que os incrédulos terão, pois não será para a eternidade. Se um cristão estiver unido ao mundo e se ele amar o mundo e as coisas do mundo, o Senhor permitirá que ele participe da corrupção, para sofrer um pouco daquilo que os incrédulos sofrerão. Este é o significado de sofrer o dano da segunda morte em Apocalipse 2, e esta palavra é dita aos cristãos. A palavra “dano” na língua original significa machucar alguém e prejudicá-lo. A segunda morte causará sofrimento em alguns. A partir do grande trono branco, haverá a própria segunda morte, que é o sofrimento eterno no lago do fogo e enxofre. No milênio, porém, haverá somente o dano da segunda morte. Se alguns cristãos não tiverem lidado com seus pecados, eles ainda sofrerão o dano e a dor da segunda morte. 

Leiamos agora duas passagens do livro de Hebreus. Hebreus 6:4-6 diz: 
“É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento”. 

Esses versículos descrevem uma pessoa que possui muitas qualificações. É impossível que ela seja uma pessoa não-salva. Ela viu a luz, e viu o Deus revelado, o Unigênito do Pai; conheceu o amor de Deus e provou o dom celestial, o único dom, Jesus Cristo. Na Bíblia, dons, como um substantivo plural, refere-se aos dons do Espírito Santo, e dom, como um substantivo singular refere-se ao único dom, o unigênito Filho de Deus, como está em João 3:16. Esse dom é diferente dos dons do Espírito Santo. Essa pessoa não apenas tem Deus e o Senhor Jesus, mas também tornou-se participante do Espírito Santo. Ela conhece a Deus, provou do Senhor Jesus e tem o Espírito Santo vivendo dentro de si. Além disso, ela provou a boa palavra de Deus e os poderes da era vindoura. Os poderes da era vindoura são os poderes do reino milenar. Os dons e os poderes do Espírito Santo são particularmente abundantes no reino milenar. O reino milenar será repleto de obras de poder, milagres, maravilhas e outras coisas semelhantes. Dizer que alguém provou os poderes da era vindoura significa dizer que ele provou as coisas do reino milenar. Portanto, esta pessoa é definitivamente uma pessoa salva. 

Se tal pessoa deixa hoje a palavra de Cristo, que ela recebeu quando creu, e escorrega e cai, não há arrependimento para ela. Ela não pode começar tudo de novo para crer no Senhor Jesus, pois já tem uma longa história com o Senhor. Ela recebeu muita chuva, porém caiu, não produz mais coisas boas para Deus, mas tem produzido cardos e abrolhos. Tal pessoa é como “a terra que absorve a chuva que freqüentemente cai sobre ela, e produz erva útil para aqueles por quem é também cultivada, recebe bênção da parte de Deus; mas, se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada, e perto está da maldição; e o seu fim é ser queimada” (vs. 7-8). 

Perceba três coisas acerca desta pessoa e seu fim. Primeira coisa, ela é “rejeitada”. A palavra “rejeitada” aqui é a mesma usada em 1 Coríntios 9:27, onde Paulo disse que temia que embora tivesse pregado o evangelho a outros, ele mesmo fosse desqualificado e não fosse mais usado por Deus nesta era e no reino. Ser rejeitado, ser desqualificado, significa que Deus rejeitará tal pessoa e não a usará mais no reino. Segunda coisa, esta pessoa “perto está da maldição”. O versículo não diz que ela receberá maldição, mas a punição que receberá é semelhante a uma maldição. Ela não perecerá eternamente, mas sofrerá o dano da segunda morte e padecerá a Geena de fogo no reino. Terceira coisa, “seu fim é ser queimada”. Que é isso? Por exemplo, há algumas semanas eu quis fazer uma queimada em algumas terras em Jen-ru. Poderia eu queimar a terra eternamente? Poderia queimar a terra pelo menos por cinco anos? O queimar aqui se refere a algo temporário. 

Aqui se fala sobre queimar, enquanto Mateus 5 diz que alguns estarão sujeitos à Geena de fogo. Se você puser essas duas passagens juntas, elas se combinarão. Se um cristão recebe todas essas coisas maravilhosas, mas não produz bom fruto para Deus, e sim, cardos e abrolhos, ele será queimado. Entretanto, esse queimar será apenas por breve tempo. Até mesmo um aluno do primário sabe que se você atear fogo em um terreno, o fogo irá parar após todo o mato ser queimado. A queimada no reino durará no máximo mil anos. Quanto tempo vai durar a queimada, na verdade, dependerá de você. Se você tiver produzido muitos cardos e abrolhos, então haverá mais queima. Se tiver produzido poucos cardos e abrolhos, então haverá menos queima. 



Extraído do livro “O Evangelho de Deus” – Watchman Nee

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Temer Aquele Que Tem Autoridade para Lançar na Geena

Vejamos o que dizem outras passagens da Bíblia acerca desta questão da Geena. Lucas 12:1 diz: 
“Aglomerando-se, entrementes, as miríades da multidão, a ponto de se atropelarem uns aos outros, pôs-se Jesus a dizer primeiro aos Seus discípulos”. 

Ele não falou a todos, mas aos discípulos primeiramente. “Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia”. A palavra do Senhor aqui prova que os discípulos não são os hipócritas; eles são o povo de Deus. A seguir, nos versículos 4 e 5, o Senhor disse:
“Digo-vos, amigos Meus: Não temais os que matam o corpo e, depois disso, nada mais podem fazer. Eu, porém, vos mostrarei a quem deveis temer: Temei Aquele que, depois de matar, tem autoridade para lançar na Geena”. 

A palavra de Deus é suficientemente clara. Ela nos diz, não uma vez, mas muitas vezes, que é possível um cristão ser “lançado na Geena”. Isso está dito claramente aqui. O Senhor disse aos discípulos para não temerem aqueles que matam o corpo, mas depois disso nada mais podem fazer. Eles não deveriam temer o que alguns poderiam fazer ao corpo deles, uma vez que isso é tudo o que conseguiriam fazer. No entanto, eles deveriam temer Aquele que pode lançá-los na Geena. 

Os versículos seguintes também provam que aqui o Senhor está se referindo aos discípulos, isto é, aos cristãos. Os versículos 6 e 7 dizem: 
“Não se vendem cinco pardais por dois asses? E nenhum deles é esquecido diante de Deus. Mas até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais; mais valeis do que muitos pardais”. 

Apenas os cristãos são pardais. Os não-salvos não são pardais; eles são corvos. Em Mateus, os lírios do campo e também os pardais referem-se aos cristãos. Os pardais não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros (Mt 6:26). Isso se refere aos cristãos e não aos incrédulos. Aqui se diz claramente que é possível os “pardais” de Deus serem “lançados na Geena”. Note também que é dito que os cabelos dessas pessoas foram todos contados. Deus não teria tamanho cuidado com incrédulos. Portanto, o que se quer mostrar aqui é que os que pertencem ao Senhor não precisam temer o que possam fazer a seus corpos. O único a quem eles devem temer é Deus, pois Ele tem autoridade para lançá-los “na Geena”. Devemos temer a Deus que possui a autoridade para lidar com nossa alma, e não os que apenas podem matar nosso corpo. 

Os dois versículos seguintes, 8 e 9, são muito preciosos. 
“Digo-vos ainda: Todo aquele que, em Mim, Me confessar diante dos homens, também o Filho do Homem, nele, o confessará diante dos anjos de Deus; mas aquele que Me negar diante dos homens, será negado diante dos anjos de Deus”.

Os cristãos podem ser divididos em duas classes: os que confessam e os que não confessam o Seu nome. Alguns confessam Seu nome, enquanto outros não. Alguns estão preparados para ser perseguidos, enquanto outros não estão. Alguns só serão cristãos secretamente; são os que desejam a glória do homem. Outros confessam o Senhor abertamente e estão prontos a ser mártires. Portanto, vocês podem ver a quem o Senhor se refere nesses versículos de Lucas 12. Não devemos temer qualquer sofrimento que venha por confessar Seu nome. Se não confessamos o Seu nome, nosso pecado é mais sério que todos os outros pecados. Conseqüentemente, Ele não confessará nossos nomes diante dos anjos de Deus. Quando você considerar os versículos 1 a 9 como um todo, verá que o “lançar na Geena” no versículo 5 é equivalente ao Senhor não confessar o nome deles diante dos anjos no versículo 9. A confissão diante dos anjos pode ser ilustrada com um exemplo. Suponha que um jovem tenha feito algo errado e termine numa cadeia. Seus pais ou outros membros da família podem pagar a fiança e livrá-lo do problema. Mas suponha que o jovem seja realmente mau, e seus pais sintam que ele precisa de algum sofrimento. Como resultado, seus pais não pagam a fiança. O mesmo ocorre com os cristãos. A não ser que o Senhor confesse nossos nomes, seremos punidos. 

Há uma palavra maravilhosa em Apocalipse 3:5: 
“O vencedor será assim vestido de vestiduras brancas, e de modo nenhum apagarei o seu nome do livro da vida; pelo contrário, confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos”. 

No início do reino, antes do trono de julgamento, os anjos de Deus levarão os cristãos até Deus. O livro da vida estará ali. No livro da vida estão registrados todos os nomes dos cristãos. Haverá muitos anjos e muitos cristãos. O Senhor Jesus também estará ali. Um ou mais anjos, então, lerão em voz alta os nomes do livro da vida, e o Senhor Jesus confessará alguns dos nomes. Aqueles cujos nomes Ele confessar, por conseguinte, entrarão no reino. Quando outros nomes forem lidos, o Senhor não dirá nada. Em outras palavras, Ele não confessará seus nomes. Os anjos, então, colocarão um sinal negativo nesses nomes. Portanto, os nomes dos vencedores estarão sem marca no livro da vida, enquanto os nomes dos derrotados estarão marcados. Quanto aos não-salvos, seus nomes nem sequer aparecem no livro da vida. Um grupo de pessoas não terá seus nomes no livro; outro grupo terá seus nomes ali, mas os nomes estarão marcados; e um terceiro grupo, à época do reino, terá seus nomes preservados tal qual quando inicialmente foram escritos no livro. 

Se o seu nome estiver marcado no trono de julgamento, isso não significa que você estará acabado e não mais será salvo. Apocalipse 20:15 diz: “E, se alguém não foi achado inscrito no livro da vida, esse foi lançado para dentro do lago do fogo”. Isso nos mostra que aqueles cujos nomes não estiverem registrados no livro da vida estarão eternamente no lago do fogo. Aqueles cujos nomes não aparecerem no livro da vida serão lançados no lago do fogo. Isso ocorrerá no início do novo céu e nova terra. Não podemos dizer que os que são citados em Apocalipse 3 não têm seus nomes escritos no livro da vida. Podemos dizer apenas que seus nomes foram marcados. Por conseguinte, eles não serão lançados no lago do fogo, pois seus nomes já estão no livro da vida. A salvação eterna é muito segura; ela jamais pode ser abalada. Por outro lado, porém, há um perigo. Se formos tolerantes com o pecado, se não perdoarmos aos outros, se cometermos adultério, se insultarmos os irmãos, se temermos sofrer, ser envergonhados, perseguidos e se temermos confessar o Senhor, temos de ser cuidadosos, pois Deus nos lançará “na Geena” para sermos punidos temporariamente.


Extraído do livro “O Evangelho de Deus” – Watchman Nee

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

A Geena de Fogo

Mateus 18 não é a única porção das Escrituras que fala do fogo eterno (geena). Em outras porções da Bíblia também há o mesmo ensinamento. Por exemplo, no Sermão do Monte em Mateus 5—7 há palavras claras do mesmo tipo. Mateus 5:21-22 diz: “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e quem matar estará sujeito a julgamento. Eu, porém, vos digo que todo aquele que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem disser a seu irmão: Raca, estará sujeito ao julgamento do Sinédrio; e quem lhe disser: Moré, estará sujeito à Geena de fogo”. No início do capítulo cinco, lemos que o Senhor Jesus viu a multidão, contudo Ele não ensinou à multidão. Pelo contrário, Ele ensinou aos discípulos (v. 1). O Sermão no Monte é para os discípulos. Portanto, aquele que insulta a outro, no versículo 22, é um irmão. Ele chama outro irmão de “Raca”, que quer dizer “imprestável” ou tolo. Quando chama seu irmão dessa forma, ele fica sujeito à Geena de fogo. Isso não se refere a uma pessoa não-salva, pois um não-salvo irá ao inferno mesmo que não chame ninguém de tolo. Toda vez que a Bíblia fala sobre obras, ela se refere a alguém que pertence a Deus. Se uma pessoa não pertence a Deus, não há necessidade de mencionar tais coisas. Aqui, se trata de uma pessoa salva, um irmão, mas por ter ofendido a seu irmão ele está sujeito à Geena de fogo. 

O versículo 23 diz: “Se estiveres apresentando a tua oferta no altar e, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti”. Muitas vezes as pessoas guardam coisas contra nós de propósito, e não há nada que possamos fazer sobre isso; mas se alguém se queixar por causa do nosso insulto, devemos ser cuidadosos ao trazer a oferta ao altar. Se pensar mal de um irmão e falar algo contra ele, você deve ir a ele e lidar com essa questão. “Deixa ali perante o altar a tua oferta e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, vem apresentar a tua oferta” (v. 24). O importante é reconciliar-se com seu irmão. O versículo 25 diz: “Entra em acordo sem demora com o teu adversário enquanto estás com ele a caminho”. Seu irmão é quem se queixa, e você é o réu. Agora ele o está levando ao tribunal: “Para que o adversário não te entregue ao juiz, o juiz ao oficial de justiça, e sejas lançado à prisão” (v. 25). Tal fato ocorrerá no reino. O reino será muito rigoroso. 

Agora direi algumas palavras francas e sérias. Dois irmãos ou duas irmãs que estejam em discórdia não podem estar juntas no reino. No reino vindouro, haverá somente amor e misericórdia; apenas os que amam e têm misericórdia dos outros poderão estar no reino dos céus. Se estou envolvido em uma discussão com um irmão, e se a questão não for resolvida nesta era, então, no futuro, ou ambos seremos excluídos do reino, ou somente um de nós entrará. Não será possível ambos entrarmos. É impossível termos problemas uns com os outros e ainda reinar ao mesmo tempo no milênio futuramente. No reino todos os cristãos serão unânimes. Não haverá absolutamente quaisquer barreiras entre duas pessoas. Se hoje enquanto estamos na terra, tivermos algum atrito com qualquer irmão ou irmã, se tivermos obstáculos com qualquer irmão ou irmã, temos de ser cuidadosos. Poderá ocorrer de nós entrarmos e o outro ser excluído, ou de o outro entrar e de nós sermos excluídos, ou de ambos sermos excluídos. O Senhor diz que enquanto estiver com seu irmão a caminho, você deve reconciliar-se com ele. Isso significa que enquanto você e ele estiverem vivos e antes que o Senhor Jesus volte, você tem de reconciliar-se com seu irmão. O Senhor não irá tolerar que dois inimigos fiquem queixando-se um do outro no reino. Hoje podemos fazer queixas sobre os outros com muita facilidade; mas tais queixas vão manter a nós, ou a outros, ou a ambos, do lado de fora do reino. Parece que hoje a igreja é muito livre, mas não será assim naquele dia. “Enquanto estás com ele a caminho”, diz o Senhor. Se você morrer, se ele morrer ou se o Senhor Jesus voltar, esse caminho terá acabado. Portanto, você deve resolver a questão rapidamente, antes que o Senhor volte e enquanto você e ele estão a caminho. “Para que o adversário não te entregue ao juiz”, o juiz é o Senhor Jesus; “o juiz ao oficial de justiça”, o oficial de justiça é o anjo; “e sejas recolhido à prisão”. Isso nos mostra claramente que um irmão que tenha ofendido a outro irmão sofrerá uma punição muito severa.

Se estudar esta passagem cuidadosamente, você verá que a prisão aqui é a Geena de fogo no versículo 22, porque o versículo 23 começa com “portanto”. As palavras do versículo 23 em diante são uma explicação das palavras do versículo 22. O versículo 22 diz que qualquer um que chame seu irmão de Moré estará sujeito à Geena de fogo. Os versículos 23 a 25 seguem dizendo que aqueles que não se reconciliarem com seus irmãos serão lançados na prisão. Portanto, a prisão no versículo 25 é evidentemente a Geena de fogo do versículo 22. Está claro que não existe possibilidade de um cristão perecer eternamente; contudo, se um cristão tiver qualquer pecado de que não tenha se arrependido e confessado, o qual não foi perdoado, ele estará sujeito à Geena de fogo. Note quão severas são as palavras do Senhor no versículo 26: “Em verdade te digo: De modo algum sairás dali, enquanto não pagares o último centavo”. Existe a possibilidade de sair, se a pessoa pagar tudo. Na era vindoura, ainda há a possibilidade de perdão, mas a pessoa não poderá sair até que pague o último centavo e ponha tudo em ordem com seu irmão. 


Extraído do livro “O Evangelho de Deus” – Watchman Nee

terça-feira, 3 de novembro de 2015

A Entrada e a Posição no Reino

Há muitas passagens na Bíblia que mencionam a punição de Deus para os cristãos derrotados, no reino milenar. Examinaremos agora essas passagens e, posteriormente, chegaremos a uma conclusão sobre elas. 

Consideremos primeiramente Mateus 18:1-3: 
“Naquela hora, aproximaram-se de Jesus os discípulos, perguntando: Quem é o maior no reino dos céus? E Jesus, chamando a Si uma criança, colocou-a no meio deles, e disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus”. 

Aqui os discípulos fizeram uma pergunta sobre o reino dos céus, uma pergunta acerca da posição no reino. Não se trata de uma pergunta envolvendo salvação e perdição, mas diz respeito a ser grande ou pequeno, superior ou inferior, no reino. O Senhor Jesus mostra-nos que, a menos que nos convertamos e nos tornemos como crianças, não poderemos entrar no reino dos céus. A seguir, o versículo 4 diz: “Portanto, aquele que a si mesmo se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus”. O versículo 3 nos dá a condição para entrar no reino, enquanto o versículo 4 nos dá a maneira de ser grande no reino. O versículo 3 diz que devemos converter-nos e tornar-nos como crianças antes de poder entrar no reino, e o versículo 4 diz que se continuarmos a ser crianças e nos humilharmos, seremos os maiores no reino dos céus. Isso nos mostra que no reino devemos continuar da mesma maneira que começamos. A direção que tomamos para entrar no reino deve ser a mesma para continuar nele. Para entrarmos no reino dos céus, temos de converter-nos e tornar-nos como crianças; e para sermos grandes no reino dos céus, temos de continuar a ser humildes como crianças. Aqui o Senhor continua a ressaltar a questão de sermos como crianças. 

Em seguida, o Senhor diz: “E qualquer que acolher uma criança, tal como esta, por causa de Meu nome, a Mim Me acolhe” (v. 5). Quem quer que acolha alguém como esta criança por causa do nome de Cristo, isto é, alguém que se converte e se torna como uma criança e continua a ser humilde como esta criança, recebe a Cristo. “Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar” (v. 6). Essa palavra indica que fazer alguém tropeçar é um problema maior do que sofrer e ser morto. Suponha que alguém o matasse e atirasse seu corpo ao mar. Você nem mesmo seria enterrado adequadamente, o que sem dúvida seria uma tragédia. No entanto, se você fizer alguém tropeçar, seu destino será pior do que esse. O versículo 7 diz: “Ai do mundo por causa dos tropeços; porque é necessário que venham tropeços, mas ai do homem por quem vem o tropeço.”

Os versículos 1 a 7 de Mateus 18 são palavras gerais do Senhor, e podemos mencioná-las de maneira breve. Queremos dar maior atenção às palavras que iniciam o versículo 8. Aqui o Senhor Jesus estende o assunto para dar ênfase que não apenas é errado fazer os outros tropeçarem, mas até mesmo fazer tropeçar a si mesmo é questão séria e grave. O versículo 8 diz: “Se a tua mão ou o teu pé te faz tropeçar, corta-o, e lança-o de ti”. A quem se refere o “ti” aqui? Nos versículos 3 a 7, “vos” refere-se aos discípulos que fizeram a pergunta no versículo 1. Após o Senhor Jesus responder-lhes, Ele lhes disse para serem vigilantes e não serem tropeço para os outros. As palavras do Senhor o versículo 8 são dirigidas às mesmas pessoas. Se sua mão ou seu pé faz com que você tropece, é melhor cortá-los e lançá-los fora. É claro que isso não deve ser tomado literalmente. Se as suas mãos roubam e seus pés andam por caminhos indevidos, isto é, se existe pecado e lascívia em você, você deve lidar com eles. “Melhor te é entrar na vida aleijado ou coxo do que, tendo duas mãos ou dois pés, ser lançado no fogo eterno” (v. 8). 

O Senhor mostra-nos aqui que se os cristãos cometerem pecados e os tolerarem, eles sofrerão: ou serão lançados no fogo eterno com as duas mãos e os dois pés, ou entrarão na vida com uma mão ou um pé. Há também os que não controlarão suas concupiscências e serão lançados no fogo eterno. O fogo é um fogo eterno, mas aqui não diz que eles permanecerão no fogo eterno para sempre. O que o Senhor Jesus não disse é tão significativo quanto o que Ele disse. Se uma pessoa tornou-se cristã, mas suas mãos ou pés pecam o tempo todo, ela sofrerá a punição do fogo eterno na época do reino dos céus; ela não sofrerá essa punição eternamente, mas apenas na era do reino. 

Que significa cortar uma mão ou um pé? A intenção do Senhor não é que cortemos a mão ou o pé, pois mesmo que cortemos uma mão, ainda podemos não remover nossa lascívia. Portanto, esta palavra não deve referir-se ao corpo exterior, mas à concupiscência interior. O que temos de arrancar é aquilo que nos força a pecar. 

A seguir, o versículo 9 diz: “Se o teu olho te faz tropeçar, arranca-o e lança-o fora de ti; melhor te é entrar na vida com um só olho do que, tendo dois olhos ser lançado na Geena de fogo”. Isso nos mostra que se uma pessoa salva não lida com sua lascívia, ela não será capaz de entrar na vida, mas irá para o fogo eterno. O fogo eterno aqui é a Geena de fogo. A Bíblia nos mostra que um cristão tem a possibilidade de sofrer a Geena de fogo. Evidentemente, embora possa sofrer a Geena de fogo, ele não sofrerá para sempre, mas sofrerá somente durante a era do reino.


Extraído do livro “O Evangelho de Deus” – Watchman Nee