quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O Momento que Tudo Mudou

"Respondeu-lhe Jesus: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento."
Mt 22:37

...Resolvi fazer do amor a Deus o objetivo de todos os meus atos. Sempre me senti satisfeito com apenas esse motivo. Fico feliz quando posso pegar um graveto no chão só por amor a Deus, buscando só a Ele e nada mais - sem a intenção de receber Dele qualquer retribuição.

Minha grande preocupação era que talvez eu pudesse ser condenado. Todos os homens do mundo não podiam persuadir-me do contrário. Então, resolvi comigo mesmo, e dediquei-me à vida religiosa em função Dele, não importava o que viesse a me acontecer, salvo ou condenado, eu continuaria a agir unicamente por amor a Deus. Achei que assim seria o melhor, ir até a morte dando tudo de mim pelo amor Dele. Esse estado de perturbação da minha mente durou anos. Sofri muito durante esse período, mas no momento em que percebi que todas essas preocupações resultavam em falta de fé, passei a viver totalmente livre e com uma alegria contínua. 

Para conseguir adquirir o hábito de conversar com Deus continuamente e remeter tudo o que fazemos à Ele, temos de nos dedicar completamente a isso. Depois de algum tempo encontraremos o Seu amor interiormente, o que nos provocará a obter a Sua presença sem nenhuma dificuldade. 

Em alguns momentos, quanto queria exercitar alguma virtude, eu me virava para Deus e confessava: "Senhor, só poderei fazer isso ajudado por Vós." Então, eu recebia uma força mais do que suficiente para fazer o que era necessário. Quando falho... simplesmente admito os meus erros dizendo para Deus: "Eu não conseguirei fazer da maneira certa, se me deixardes agir por mim mesmo. Sois Vós que tendes de fazer com que eu pare de errar e sois Vós que tendes de corrigir o que não está certo." Depois de tal oração eu me despreocupo totalmente em relação a minhas faltas.

Devemos agir com a maior simplicidade quando nos relacionamos com Deus, falando com Ele francamente, implorando Sua assistência em nossos negócios a medida em que eles acontecem. Ele nunca falha e sempre concede Sua ajuda, isso eu asseguro por experiência própria.

Recentemente, fui a Burgundy para comprar um estoque de vinho para a sociedade a qual me filiei. Isso foi uma tarefa nada agradável para mim. Eu não tenho uma habilidade natural para negociar, sou muito pouco convincente. Apesar disso, essa incumbência não me abalou. Disse ao Senhor que isso era responsabilidade Dele, e depois, tudo saiu certo.

Também é assim na cozinha (que é um lugar pelo qual eu tenho a mais profunda aversão). Acostumei-me a fazer tudo lá, única e exclusivamente por amor a Deus. Em todas as ocasiões, orando, consegui as Suas graças para realizar bem o meu trabalho, que me pareceu até fácil durante os quinze anos que tenho estado aqui. Sinto-me satisfeito com o posto que ocupo agora, mas posso até deixá-lo desde que possa sempre estar fazendo as coisas por amor a Deus.

Os meus horários de orar não são diferentes dos outros horários do dia. Embora eu tenha que me isolar (por orientação do meu superior), não necessito na realidade de isolamento e nem peço mesmo isso, porque nenhuma grande atividade pode me desviar de Deus. Tenho consciência das minhas obrigações em relação ao meu amor por Deus e me esforço para fazer todas as coisas corretamente. Tenho também a consciência dos meus erros, mas não me desencorajo por causa deles. Quando confesso minhas faltas ao Senhor, simplesmente estou resumindo a minha prática usual de amor e adoração a ele. 

Na época em que minha mente estava perturbada ... eu sabia, pela luz da fé, que Deus estava comigo em todas as coisas e eu era feliz por dirigir todas as minhas ações para Ele. Em outras palavras, eu realizava todas as coisas desejando agradar ao Senhor e deixava tudo o mais vir do jeito que viesse. 

Os nossos pensamentos usuais estragam tudo. Eles provocam sempre algum dano. Devemos rejeitá-lo logo que percebermos que são impertinentes. Devemos rejeita-los e retornar à nossa comunhão com Deus. 

No início, frequentemente, eu comprometia todo o meu tempo orando simplesmente para afastar esses pensamentos e, logo depois, caia neles de novo. Fiz muita meditação por algum tempo mas, depois parei com esse exercício - como, exatamente, eu não sei dizer. Eu nunca tive muita habilidade para regular a minha devoção através de certos métodos, como algumas pessoas fazem.

Todas as mortificações corporais e outros exercícios são inúteis, exceto se servirem para chagar a uma união com Deus, pelo amor. Eu considerei bem tudo isso e descobri que o caminho mais curto para chegar até Deus é ir diretamente a Ele através de um exercício contínuo de amor e fazendo todas as coisas através Dele. 

Todas as espécies de mortificações, não importa quais sejam, não apagam um simples pecado. Nós sempre teremos o perdão para os nosso pecados através do sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, o nosso único esforço consiste em amá-Lo com todo o nosso coração. Deus parece ter concedido esse grande favor aos grandes pecadores, como prova da Sua monumental misericórdia. 

Não tenho hesitação, porque quando eu falho, reconheço rapidamente...se eu não falho, agradeço a Deus, reconhecendo que a força vem Dele.


Extratos do testemunho do Irmão Lawrence (1611 - 1691), que viveu aproximadamente 55 anos na comunidade religiosa chamada Carmelitas. Esse irmão serviu na maior parte do tempo na cozinha do hospital. Tornou-se muito conhecido dentro da comunidade e depois fora dela, por sua fé tranquila e serena e por sua experiência da "presença de Deus".

Extraído do livro "A Prática da Presença de Deus" - da Ed.Danprewan

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