sábado, 29 de agosto de 2015

O que é o Ego?

“Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.”
Lc 14:26

Basicamente, o que é o ego? Tudo o que o homem possui e pode fazer sem buscar a Deus, sem esperar nem depender dele.

Embora o Senhor odeie tanto o "ego", a atitude dos crentes para com ele é muito diferente. Têm prazer em depender do ego, acariciá-lo e gloriar-se nele. Ignoram o seu ego verdadeiro; e também não sabem quão impuro, corrupto e fraco é o ego aos olhos de Deus. Falta-lhes conhecimento do assunto. Em resumo, não conhecem a si mesmos. Numa situação como esta, se fizerem algum progresso, se experimentarem êxitos e vitórias crescentes, sua vida do ego será alimentada e crescerá, assim tornando-se mais difícil de ser negada. Cada vez que praticam uma boa ação, afastam-se um pouco mais da vida de Deus. Um pouco mais de poder próprio significa mais distância do Espírito Santo. Mais êxito resulta em mais glória para o ego, o que prolonga a vida ímpia do ego. E por esse motivo que eu disse anteriormente que Deus preferiria ver os crentes pecarem a fazerem o bem: pois quanto mais pecam, tanto mais reconhecem quão indignos de confiança são; quanto mais fracos são, tanto mais verão a vaidade do ego; quanto mais caírem, tanto mais claramente perceberão sua insuficiência e desesperança. Deus preferiria ver os crentes pecarem, a esta altura de seu caminhar, pois o pecar possibilitá-los-á a conhecer a si mesmos mais completamente e também a depender mais do Senhor.

Deus não tem outro propósito a não ser levá-lo ao fim de si mesmo para que conheça a si mesmo. Esta é a explicação do motivo pelo qual às vezes você tem lutado e falhado. Oh, como você chorou, lutou, batalhou, orou, trabalhou e fez tudo a fim de vencer o pecado e chegar à santidade; entretanto acabou em derrota. Embora às vezes você tenha experimentado um pouco de vitória, essa vitória foi somente temporária. Você fez o melhor que pôde para conservá-la, mas voou como um pássaro. Você chegou à conclusão de ser pior do que os outros, e que por isso não podia ter a vitória. Tais experiências significam que Deus o levava a conhecer o seu próprio ego. Não é que você fosse tão corrupto que não pudesse ganhar a vitória; antes, era que você não era corrupto o suficiente a seus próprios olhos a fim de ganhar a vitória. É preciso que você reconheça que foi você mesmo quem chorou, quem lutou e prosseguiu, que foi você quem batalhou e labutou. O agente era você, e tudo fez para servir ao seu próprio ego.

Quanto você realmente depende de Deus? Você sabe que verdadeiramente não pode remir a si mesmo e assim está pronto a confiar em Deus? Afinal qual é o motivo de sua luta e labor? Não se esforça por si mesmo? Sim, você procura vencer o pecado e busca a santidade; mas para quê? Não é para dar a si mesmo mais alegria mais glória e mais terreno para a vangloria? A menos que reconheça sua própria fraqueza e erro, continuará a fracassar e a cair até reconhecer ser impotente e não merecer honra alguma.

Deus deseja que você se una a ele e dependa dele em todas as coisas para que possa fazer a sua vontade e glorificar o seu nome. Mas uma vez que você não conhece seu verdadeiro caráter como evidencia o fato de continuar a considerar-se bom e capaz, naturalmente não confiará em Deus e assim falhará em render-lhe glória. Será autoconfiante e procurará sua própria glória. Neste mesmo instante você ainda não sabe quão fraco realmente é. Por isso Deus permite que você seja derrotado repetidamente. E com cada derrota diz-lhe que você é fraco.

Entretanto você insiste em não crer; recusa-se a desprezar a si mesmo; antes, continua a ser cheio de esperança. Sua conclusão é que a derrota foi devida à falta de esforço próprio. Se fizer mais esforço da próxima vez, diz você a si mesmo, então sem dúvida vencerá. Muitas têm sido as suas derrotas, e muitas têm sido as vezes que encontrou altos e baixos. Entretanto permanece ignorante do fato de quão fraco você verdadeiramente é. Até o presente momento, você não está pronto para aprender a lição que Deus tem para você. Ainda está planejando seu último esforço para ganhar a vitória final. Tendo sofrido tantas derrotas, por que não desiste totalmente de si mesmo e se lança inteiramente sobre Deus? Quando é que não esperará mais nada de si mesmo, entregando-se completamente nas mãos de Deus? Oh! Quando isto finalmente acontecer, você dependerá dele sem planejar nem fazer nada de si mesmo. Mas por ainda não ter aprendido sua lição, terá de incorrer em maiores e mais derrotas a fim de obter o autoconhecimento que o forçará a cessar sua própria obra para que Deus possa livrá-lo. Sabemos que nenhum salva-vidas se atreve a socorrer a pessoa que acaba de cair na água com a possibilidade de afogamento. Pois nesse instante a força da pessoa que caiu na água é grande — talvez mais forte do que de costume. Ao se aproximar o salva-vidas da pessoa que se afoga, esta pode tentar agarrar-se ao salva-vidas impedindo-lhe o movimento. O resultado é que ambos podem afundar-se e se afogar. Consequentemente o salva-vidas esperto espera até que a pessoa que se afoga lute bastante na água e comece a desistir de lutar. Somente então o salva-vidas aproxima-se dessa pessoa e a leva para a segurança.

Da mesma maneira, Deus hoje permite que seus filhos lutem e batalhem até que percebam quão fútil é seu esforço. Meramente colocam-se numa posição mais perigosa. O Senhor espera até que sua força se esgote e cheguem à conclusão de estarem perecendo. Nesse momento, suas ideias são mais ou menos as seguintes: Se Deus não me livrar, não posso sustentar minha sorte nem por mais um minuto; se Deus não me salvar, certamente morrerei! Deus não estenderá a mão até que esse momento chegue. Sempre que o crente para de confiar em si mesmo, Deus o salvará inteiramente. Pois o objetivo do Senhor não é outro senão mostrar ao crente que ele é absolutamente inútil na vida e na obra divinas. À parte do depender de Deus o crente não possui vida nem obra.
Oh quão enganosos podemos ser! Quão tenazmente interessados em nós mesmos! Quem pode dizer quantos crentes hoje vivem por seu ego enganador? Muitos são os que tomam o "ego" como princípio orientador da vida. Quase tudo é para o eu e quase tudo procede do eu. Tais crentes são muito mais perigosos do que as outras pessoas. Parece que em tudo não conseguem escapar do ego. Se aprendem uma coisa a mais é para glorificar o ego. Isto não é verdade somente com respeito às coisas espirituais; é também verdade no que se refere às coisas materiais. Tudo se transforma em motivo para elevar o ego. Oh, quem pode compreender totalmente o erro da carne? Deus precisa quebrar e destruir tais crentes. Não lhes dará um ambiente cômodo para que seu ego não seja alimentado. Deixá-los-á passar por momentos difíceis para que não se gloriem em si mesmos. Permitir-lhes-á conhecer seu motivo interior verdadeiro deixando que sejam derrotados, para que na derrota possam examinar-se a si mesmos e compreender que na maior parte de seus dias, vivem para si mesmos e não para a glória de Deus. Por quarenta longos anos levou Deus os filhos de Israel pelo deserto. Deixou que caíssem e pecassem muitas vezes com o seguinte propósito em mente: que conhecessem a si mesmos. Da mesma maneira, hoje o que Deus tem feito em sua vida é para que você conheça sua imagem verdadeira. Suas derrotas passadas já o deviam tê-lo convencido da absoluta vaidade de si mesmo; no entanto até ao presente momento você insiste em apegar-se ao seu precioso ego! Por causa disso, Deus é forçado a conservá-lo no deserto um pouco mais para que você experimente mais derrotas no deserto de modo a compreender, afinal, quão totalmente corrupto, vão e fraco você é perante Deus. E se não aprender sua lição hoje, terá de continuar em derrota.


Extraído do livro “O Mensageiro da Cruz” – Watchman Nee

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