A mensagem de Paulo é a cruz, e ele próprio é uma
pessoa crucificada. Ao pregar a cruz, ele adota a maneira da cruz. A pessoa
crucificada prega a mensagem da cruz no espírito da cruz. Mui frequentemente o
que pregamos é, de fato, a cruz; mas nossa atitude, nossas palavras e nossos
sentimentos não parecem testemunhar do que pregamos. Muito da pregação da cruz
não é feita no espírito da cruz! Paulo escreveu aos crentes Coríntios:
"...quando fui ter convosco, anunciando-vos
o testemunho de Deus, não fiz com ostentação de linguagem, ou de sabedoria."
Aqui, o testemunho de Deus refere-se à palavra da
Cruz. Paulo não empregou palavras difíceis de sabedoria ao proclamar a cruz mas
foi ter com eles no espírito da cruz: "A
minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de
sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder." Esse é,
verdadeiramente, o espírito da cruz.
A cruz é a sabedoria de Deus, embora para os
incrédulos seja loucura. Quando proclamamos a mensagem "louca",
devemos assumir a maneira "louca", adotar a atitude
"louca", e usar palavras "loucas". A vitória de Paulo
encontra-se no fato de ser ele, deveras, uma pessoa crucificada. Ele pode,
portanto, proclamar a cruz com a atitude e também com o espírito da cruz.
Aquele que não experimentou a crucificação não está cheio do espírito da cruz
e, consequentemente, não é digno de proclamar a mensagem da cruz.
Depois de examinarmos a experiência de Paulo, será
que ela não nos mostra a causa de nosso fracasso? A mensagem que pregamos pode
estar certa, mas examinemos a nós mesmos à luz do Senhor, discernindo se somos
realmente homens e mulheres crucificados. Com que espírito, palavras e atitudes
pregamos a cruz? Ah! Que nos humilhemos profundamente perante estas perguntas
para que Deus possa ser gracioso a nós e que os que nos ouvem possam receber a
vida.
O fracasso das pessoas em receber a vida deve ser
falha dos pregadores! Não é que a palavra tenha perdido seu poder; é que os
homens têm falhado. Os homens têm impedido o transbordar da vida de Deus, não
que a palavra de Deus tenha perdido sua eficácia. Pessoas que não possuem a
experiência da cruz e portanto têm falta do espírito da cruz, são incapazes de
conceder aos outros a vida da cruz. Como podemos dar a outrem aquilo que nós
mesmos não possuímos? A não ser que a cruz se transforme em vida para nós, não
podemos conceder essa vida aos outros. O fracasso em nossa obra é devido ao
fato de estarmos ansiosos para pregar a cruz sem que essa cruz esteja dentro de
nós. Aquele que verdadeiramente sabe pregar deve primeiro ter pregado a palavra
para si mesmo. Doutra forma o Espírito Santo não operará por seu intermédio.
A palavra da cruz que tantas vezes proclamamos, na
realidade não é nossa, mas emprestada — conseguimo-la, pelo poder mental, em
livros ou examinando as Escrituras.
As pessoas inteligentes e os que estão acostumados
a pregar têm, em particular, tendência para esse perigo. Receio que toda sua
pesquisa, estudo, leituras, assistência a palestras sobre o mistério da cruz em
seus aspectos vários sejam para as outras pessoas e não para si mesmas, em
primeiro lugar. Pensar consistentemente nos outros e negligenciar nossa própria
vida poderá resultar em fome espiritual!
... Ou talvez o pregador conheça muito bem a
psicologia das massas de forma que fala com eloquência e sinceridade. Pode até
mesmo aconselhar o auditório a não ficar satisfeito com a mera compreensão intelectual
do que ouviu, mas procurar a experiência. Entretanto, embora seus ouvintes possam
ser despertados temporariamente, falham, não obstante, em receber a vida. O que
possuem permanece teoria, não se torna experiência.
Que nós, portanto, possamos não estar satisfeitos
com nós mesmos, pensando que nossa eloquência pode dominar o auditório. Embora
possam ser estimulados momentaneamente, compreendamos que o que recebem de nós
são simplesmente pensamentos e palavras. O fracasso em conceder vida nada
contribui em absoluto para a caminhada espiritual do homem. Que proveito há em
dar às pessoas somente pensamentos e palavras? Minha oração é que isto penetre
profundamente em nossos corações e nos faça refletir sobre a vaidade de nossas
obras anteriores!
Como já vimos, pois, os dois motivos principais por
que não concedemos vida enquanto pregamos a cruz são: (1) nós mesmos não
possuímos a experiência da cruz, e (2) não pregamos a palavra da cruz no
espírito da cruz.
Continua amanhã com o texto “Motivos do Fracasso da
Mensagem da Cruz”...
Extraído do livro “O Mensageiro da Cruz” – Watchman
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