Oração como Petição
Em terceiro lugar, oração é petição, solicitação, pedido. Tudo é a mesma coisa, seja qual for a palavra que você preferir. Aqui nós tocamos aquilo que é, talvez, o maior aspecto na atividade da oração. Sem dúvida alguma, este tipo de oração tem um espaço amplo nas Escrituras, e define o significado da palavra ‘oração’.
Do ponto de vista escriturístico, a oração é corretamente tomada significando petição, e, se você percorrer a Palavra de Deus, irá descobrir essa representação em uma quantidade esmagadora. Talvez não precisemos de muitos argumentos ao longo dessa linha para provar ou persuadir que é desta forma, mas estou muito convencido de que, antes de prosseguirmos, iremos ver que uma nota de ênfase é necessária, pois, afinal de contas, nossos maiores problemas surgem na direção do pedir, no campo da petição. Iremos continuar orando, naturalmente, e iremos continuar pedindo, apesar de tudo. Acredito que iremos. Porém, é bom termos a base bem colocada para a petição, o requisitar e o pedir, e precisamos reconhecer claramente, estando totalmente assegurados de que há um objetivo eficaz na oração. Eu não tenho dúvida de que todos nós, em algum momento ou outro, temos alcançado muito pouco com as nossas orações de petições devido a alguma ponderação mental que entra e enfraquece a certeza.
O que estou falando é sobre a eficácia objetiva da oração, isto é, oração que tem poder para mudar as coisas objetivamente, e não meramente ter uma influência sobre nós interiormente. Estou falando da oração que traz respostas exteriores a nós, petições, pedidos estabelecidos contra todos falsos argumentos, tais como: ‘a onisciência Divina torna a oração desnecessária’; ‘Deus conhece tudo; sabe o que irá fazer, como irá fazer, e conhece o fim de todas as coisas desde o início, assim, para que orar?’ Ou, novamente: ‘a bondade Divina torna a oração supérflua’. ‘Deus é bom, compassivo, misericordioso e longânimo. Ele somente irá fazer o melhor, pois Ele é amor, assim, a oração é supérflua.’ ‘Por que pedir ao Senhor para fazer o bem, para ser gracioso, para mostrar benignidade e para fazer o melhor para nós? Por que não confiar na bondade de Deus?’ A oração é supérflua. Ou mais: ‘a preordenação Divina torna a oração inútil’. ‘Se Deus estabeleceu as coisas eternamente, então é inútil orar.’
Ou, seguindo esta linha da soberania de Deus – ‘o fato de Deus controlar e governar, de estar no trono do governo e possuir todas as coisas em Suas mãos e em Seu poder – isto torna a oração em falta de fé’. ‘Por que pedir, por que orar, quando todas as coisas estão nas mãos de Deus e Ele está governando e dirigindo tudo em Sua soberania?’ Mais ainda: ‘a vastidão da lei e do propósito de Deus torna a oração presunçosa.’ ‘É presunção pedir a Deus para mudar as coisas quando Ele tem fixado todas as coisas de acordo com as Suas leis eternas, e as coisas estão se movendo conforme a ordem estabelecida.’ ‘É presunção esperar que o Senhor saia de Sua ordem, ou pedir a Ele para assim fazê-lo.’ (Veremos mais sobre isso no capítulo 4).
Então, você pode não ter colocado as coisas dessa maneira, e essas questões podem nunca ter surgido em sua mente desta forma, porém eu me atrevo a sugerir que, tenham aquelas palavras estado ou não em sua mente, tenha você colocado ou não as coisas desta maneira, o que está contido nelas têm, de tempos em tempos, penetrado sutilmente em sua vida de oração, tem a afetado, tem tirado um pouco da sua força.
Quando você se coloca em oração, algo indefinível tem entrado em cena: 'Bem, o Senhor sabe o que Ele irá fazer, então por que irei pedi-Lo? O Senhor é bom e gracioso, assim, por que devo eu pedir? O Senhor conhece o fim desde o princípio, então, por que não deveria eu confiar nele? O propósito do Senhor está estabelecido, então, por que deveria eu começar a lutar com Ele para mudar as coisas? Ele irá realizar o Seu propósito, e a Sua mente está determinada, então, quem pode mudá-la?’ A oração é afetada, se não pela própria definição da linguagem mental, por este senso de contradição que surge. Todas essas coisas entram na mente ou no coração, e têm uma tendência de impedir ou enfraquecer a oração, e nós teremos que lidar com estas coisas mais plenamente na medida em que avançamos. Precisamos reconhecer que o modernismo do nosso tempo realmente põe de lado a eficácia objetiva da oração, e apenas lhe dá um valor subjetivo, isto é, sua influência salutar sobre aquele que ora, fazendo uma troca de, talvez, comportamento, mente, ou razão, por certas qualidades de reverência e coisas semelhantes.
Antes de abordarmos algumas dessas coisas mais plenamente, deixe-me dizer que há duas coisas que devem ser sempre mantidas em mente na oração peticional. A primeira é a necessidade dos outros dois aspectos, comunhão e submissão. Por oração peticional, considerando tudo o que dissemos e cremos, e com o qual, afinal de contas, iremos prosseguir, a necessidade básica para ela é a comunhão com o Senhor de modo que a oração não se reduza meramente a pedir coisas, mas seja fruto de um companheirismo sincero com Ele. E isto requer submissão, de modo que as nossas petições não sejam para os nossos próprios fins ou interesses pessoais, mas que, tendo sido trazidas pela submissão em alinhamento à vontade de Deus, estejam baseadas na comunhão com a vontade de Deus. Você irá ver que estou apenas colocando de outra forma aquilo que está perfeitamente claro na Palavra de Deus, a saber: ‘Se pedirdes alguma coisa segundo a Sua vontade’. Isto é submissão.
Em seguida a outra coisa a se ter em mente na oração peticional é que, à vista de todas as dificuldades mentais que mencionei, ela torna-se proeminentemente um ato de fé. São essas dificuldades mentais que muito amplamente tornam a oração peticional um ato de fé. Sim, decida se você irá seguir ao longo dessas linhas sobre a soberania de Deus, predestinação, e assim por diante; contudo, cremos que Deus irá mudar as coisas. Apesar de todos os argumentos que poderiam minar e enfraquecer a oração, iremos continuar pedindo. Isto torna a oração peticional um ato proeminentemente de fé. Você pode dizer que é uma maneira muito simples de defini-la. Bem, nós ainda não terminamos, mas esta é a conclusão que temos que chegar. Não queremos sair disto facilmente.
Parte do Capítulo 1 do livro "Em Contato com o Trono" - T.Austin-Sparks
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