Com receio de que Paulo pudesse exaltar-se a si mesmo, por causa da excessiva grandiosidade das revelações, um espinho na carne foi enviado para mantê-lo humilde. O primeiro desejo de Paulo foi que o espinho fosse removido, e suplicou ao Senhor por três vezes que o espinho o deixasse. A resposta que veio foi que o sofrimento ou era uma bênção: que, na mansidão e humilhação que ele havia trazido, a graça e a força do Senhor poderiam ter sua melhor manifestação.
Paulo, então, entrou em um novo estágio em sua relação com o sofrimento: em vez de simplesmente tolerá-lo, de boa vontade gloriava-se nele; em vez de pedir pela libertação, teria prazer nele. Paulo havia aprendido que o lugar de humilhação é o lugar de bênção, de poder, de alegria.
Todo cristão possivelmente passa por esses dois estágios em sua busca de humildade. Primeiro, ele teme e foge e busca libertação de tudo o que possa humilhá-lo. Ele ainda não aprendeu a buscar humildade a qualquer custo. Ele aceitou a ordem para ser humilde, e busca obedecer, ainda que somente para descobrir quão completamente falha. Ele ora por humildade, às vezes muito seriamente; mas no seu coração, em secreto, ele ora mais — se não em palavras, em desejo — para ser livrado das coisas que irão fazê-lo humilde.
Ele não está tão apaixonado pela humildade como a beleza do Cordeiro de Deus e a alegria dos céus, a ponto de vender tudo para obtê-la. Em sua busca pela humildade, e em sua oração por isso, ainda há algo de um sentimento de fardo e de cativeiro; humilhar-se ainda não se tornou a expressão espontânea de uma vida e natureza que são essencialmente humildes. Ainda não se tornou sua alegria e único prazer.
Ele não pode dizer: "De boa vontade me gloriarei na fraqueza, tenho prazer no que quer que me humilhe".
Mas podemos esperar alcançar o estágio no qual isso ocorrerá? Sem dúvida alguma. E o que nos levará até lá? O que levou Paulo: uma nova revelação do Senhor Jesus. Nada a não ser a presença de Deus pode revelar e banir o ego. Uma percepção interior clara estava para ser dada a Paulo em relação à profunda verdade de que a presença de Jesus irá expulsar todo desejo de buscar qualquer coisa em nós mesmos, e nos fará deleitar em toda humilhação que nos prepara para Sua plena manifestação.
Nossas humilhações nos levam, na experiência da presença e poder de Jesus, a escolher a humildade como nossa maior bênção. Vamos tentar aprender as lições que a história de Paulo nos ensina.
Podemos ter crentes espiritualmente avançados, mestres eminentes, homens de experiências celestiais, que ainda não aprenderam a lição da perfeita humildade, alegremente se gloriando na fraqueza. Vemos isso em Paulo. O perigo de exaltar-se estava chegando muito perto. Ele ainda não sabia perfeitamente o que era ser nada, morrer, para que Cristo pudesse viver nele, e a ter prazer em tudo o que o trouxesse para baixo. É como se isto fosse a maior lição que ele tinha de aprender: plena conformidade ao seu Senhor naquele auto-esvaziamento em que ele se gloriava na fraqueza a fim de que Deus pudesse ser tudo.
Extraído do livro "Humildade" - Andrew Murray
Editora dos Clássicos
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