sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A Humildade no nosso mestre Jesus


No Evangelho de João, temos a vida interior de nosso Senhor exposta a nós. Jesus ali fala frequentemente de Seu relacionamento com o Pai, dos motivos pelos quais Ele é guiado, de Sua consciência do poder e espírito nos quais Ele atua. 

Ainda que a palavra "humilde" não apareça, não há qualquer outro lugar nas Escrituras onde vemos tão claramente em que consistia Sua humildade. 

...essa graça, na verdade, nada é senão o simples consentimento da criatura em permitir que Deus seja tudo, em virtude de entregar-se exclusivamente a Sua operação. Em Jesus, veremos que, tanto como Filho de Deus nos céus como homem na terra, Ele tomou o lugar de total subordinação e deu a Deus a honra e a glória que Lhe são devidas. 

E o que Ele ensinou tão frequentemente tornou-se verdade para Ele mesmo: "Quem a si mesmo se humilhar será exaltado  (Mt 23.12). Como está escrito: "A Si mesmo se humilhou (...) pelo que também Deus O exaltou sobremaneira" (Fp 2.8, 9).

Ouça as palavras em que o Senhor fala de Seu relacionamento com o Pai, e veja como incessantemente Ele usa as palavras "não" e "nada" para referir-se a Ele mesmo. O "não eu", no qual Paulo expressa sua relação com Cristo, é o mesmo espírito no qual Cristo fala de Sua relação com o Pai.

"O Filho nada pode fazer de Si mesmo" (Jo 5.19).

"Eu nada posso fazer de Mim mesmo (...).
  O Meu juízo é justo, porque não procuro a Minha pró­pria vontade" (v. 30).

"Não aceito glória que vem dos homens" (v. 41).

"Eu desci do céu, não para fazer a Minha pró­pria vontade" (6.38).

"O Meu ensino não é Meu" (7.16).

"Não vim de Mim mesmo" (v. 28 - RC).

"Nada faço por Mim mesmo" (8.28).

"Não vim de Mim mesmo, mas Ele Me enviou"(8.42 - RC).

"Eu não procuro a Minha própria glória" (v. 50).

"As palavras que Eu vos digo, não as digo por Mim mesmo" (14.10).

"A palavra que estais ouvindo não é Minha" (v. 24).

Essas palavras abrem para nós as raízes mais profundas da vida e da obra de Cristo. Elas nos fa­lam como foi que o Deus Todo-Poderoso pôde trabalhar Sua maravilhosa obra de redenção por meio Dele, Cristo.

Elas mostram o que Cristo considerou como o estado de coração que Lhe cabia como o Filho do Pai. Elas nos ensinam o que são a natureza e vida essenciais dessa redenção que Cristo cum­priu e agora transmite. É isto: Ele não era nada para que Deus fosse tudo. Ele renunciou a Si mesmo totalmente, com Sua vontade e Suas forças, para que o Pai trabalhasse Nele. De Seu próprio poder, Sua própria vontade, Sua própria glória, de toda a Sua missão com todas as Suas obras e Seu ensinamento — de tudo isso, Ele disse: "Não sou Eu, não sou nada. Eu Me dei totalmente ao Pai para trabalhar; não sou nada, o Pai é tudo".

Cristo descobriu que essa vida de total abnegação  de absoluta submissão e dependência da vontade do Pai era uma vida de perfeita paz e alegria. Ele não perdeu nada dando tudo para Deus. Deus honrou Sua confiança e fez tudo para Ele, e, então, O exaltou à Sua mão direita em glória. E porque Cristo se humilhou assim diante de Deus, e Deus estava sempre diante Dele, Ele achou possível humilhar-se diante dos homens também e ser o Servo de todos. Sua humildade era simplesmente o entregar a Si mesmo a Deus para permitir que Deus fizesse Nele o que O agradasse, não importando o que os homens à Sua volta dissessem Dele ou fizessem a Ele.

Aqui temos a raiz e natureza da verdadeira hu­mildade. Por não entender ou buscar isso é que nossa humildade é tão superficial e tão débil. Temos de aprender de Jesus, que é manso e humilde de cora­ção. Ele nos ensina onde a verdadeira humildade tem origem e acha sua força: no conhecimento de que é Deus quem opera tudo em todos, que nosso dever é render-nos a Ele em perfeita resignação e dependên­cia, em pleno consentimento de não ser e não fazer nada por nós mesmos. 

Esta é a vida que Cristo veio revelar e conceder: uma vida para Deus que veio através da morte para o pecado e para o ego. Se senti­mos que essa vida é elevada demais para nós e está além de nosso alcance, isso tem de nos tanger ainda mais por buscá-la Nele; o Cristo que nos habita interi­ormente vai viver essa vida, essa mansidão e essa humildade em nós.

Se desejarmos ardentemente por isso, vamos, acima de todas as coisas, buscar o santo segredo do conhecimento da natureza de Deus, en­quanto Ele trabalha, a todo momento, tudo em todos: o segredo do qual toda a natureza e todas as criaturas e, sobretudo, todo filho de Deus, deve ser a testemu­nha: nada são senão um vaso, um canal, através do qual o Deus vivo pode manifestar as riquezas de Sua sabedoria, poder e bondade. A raiz de toda virtude e graça, de toda fé e adoração aceitável, é que sabemos que não temos nada que não tenhamos recebido, e reverenciamos, na mais profunda humildade, espe­rando em Deus para isso.

Extraído do livro "Humildade" - Andrew Murray
Editora dos Clássicos


Nenhum comentário:

Postar um comentário