Por T.Austin-Sparks
Vamos prosseguir um pouco mais no assunto que estávamos meditando anteriormente. Estamos refletindo a respeito da distância que está na natureza da diferença entre nós e o Senhor. Tal diferença e distância constituem a peregrinação espiritual ou jornada do povo de Deus. Os onze dias se desenvolveram em quarenta anos no deserto por causa dessa imensa diferença que existe entre o Senhor e Seu povo. A nossa jornada é estendida ou reduzida de acordo com a nossa conformidade com Ele. A jornada está inteiramente relacionada em deixarmos o que somos e sermos transformados no que Ele, o nosso Senhor, é. Na nossa meditação anterior, estávamos especialmente refletindo a respeito do final da jornada, o alvo, que é o descanso, o descanso de Deus.
Existe uma questão em ênfase na carta aos Hebreus - de fato é o ponto que define essa carta – que está relacionada a avançar, "Avancemos à maturidade". Seguindo o que foi dito no final de Hebreus 5, sobre comida sólida para homens maduros, agora, diz o apóstolo, deixemos determinadas coisas que são elementares, e avancemos. Novamente aqui está a jornada espiritual - avançando em direção a um final. Este avanço e esta maturidade formam um todo com a entrada no descanso, o descanso de Deus. Sabemos o que é avançar, é avançar em descanso. Sabemos o que é maturidade, é entrar no descanso.
Muitos do povo de Deus têm a ideia e certamente transmitem a impressão de que crescimento espiritual, aumento espiritual, maturidade espiritual, avanço espiritual, é marcado por uma tremenda intensidade, um grande esforço, uma tensão que trazem nas suas vozes e nas suas aparências. A impressão que eles dão é que a vida cristã é um assunto árduo e quanto mais intenso você se torna, mais espiritual você é. Deixe-me logo dizer que isso é de fato um grande equívoco. Todos nós sabemos que o povo que representa a maior medida da verdadeira vida espiritual, que têm alcançado algo da plenitude de Cristo, que de fato representa maturidade espiritual, são pessoas cheias de descanso. Existe um sossego neles, não há aparência de esforço na conduta, na voz ou na impressão que eles dão. São pessoas que conhecem algo do descanso interior, e nos sentimos descansados, tranquilos, confortados e acalmados ao estarmos com eles; sentimos que eles têm uma força na qual queremos nos refugiar. Eles são como a sombra de uma grande rocha. Uma grande rocha representa a personificação do espírito do descanso. Se você mora entre colinas e montanhas, sabe que só por ficarmos diante delas ou nos assentarmos e olharmos para elas, isso já nos traz uma sensação de consolidação e sossego; elas estão lá inalteradas através das gerações. E isso é algo acerca de Deus. Acabamos de cantar - "pois Deus é descanso", e crescimento espiritual significa que o esforço espiritual desaparece de nosso olhar, de nossas faces e de nossas vozes. Essa terrível intensidade ou tensão se vai e ela não é de modo algum uma marca de crescimento espiritual. Portanto, livremo-nos das falsas ideias sobre o que significa ser um cristão maduro. Cristão maduro significa estar entrando no descanso Dele; todos nós precisamos disso.
Assim, esta carta traz à luz a jornada que, neste sentido, não é necessariamente uma longa jornada. Sua duração depende de nós, da nossa apropriação pela fé daquilo que é provido para o descanso da nossa alma.
Então, devemos juntos meditar um pouco mais sobre algumas coisas que são necessárias para o crescimento, consecução, atingimento do fim, avanço.
Arrependimento De Obras Mortas
A carta aos Hebreus deixa algo muito claro, e se a única coisa que conseguirmos fazer hoje for alcançar e compreender a essência disso, teremos feito uma boa coisa. Nela vemos claramente que é extremamente necessário se ter um bom começo. Temos que alcançar o ponto de estarmos livres, desimpedidos logo no início. Isso é o que nos é dito, em outras palavras, em Hebreus 6. Dissemos que avançar está em consonância com a jornada, o alcançar do objetivo de Deus. Hebreus 6, como sabemos, diz: "Por isso, deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até à perfeição, não lançando de novo o fundamento do arrependimento de obras mortas e de fé em Deus, e da doutrina dos batismos, e da imposição das mãos, e da ressurreição dos mortos, e do juízo eterno. E isto faremos, se Deus o permitir". Este começo equivale a entrar numa posição perfeitamente livre com o Senhor, e a origem judaica do povo a quem a carta foi escrita deixa bastante claro para nós o que isso quer dizer - entrar numa posição livre com o Senhor.
Sabemos que a carta foi escrita para os cristãos judeus ou crentes judaicos, aqueles que chegaram a Cristo, vindos do Judaísmo. Isso significa que eles haviam, com efeito, saído de um sistema externo de religião estabelecido aqui na terra, e tinham entrando numa posição espiritual muito livre, de natureza e caráter celestial. Em Hebreus 8 percebemos como o apóstolo fala sobre essas coisas, o modelo e a realidade celestial: "ministro do santuário, e do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor erigiu, e não o homem" (Hb. 8:2). "Os quais servem de exemplo e sombra das coisas celestiais, como Moisés divinamente foi avisado, estando já para acabar o tabernáculo; porque foi dito: Olha, faze tudo conforme o modelo que no monte se te mostrou" (Hb 8:5).
Depois, em Hebreus 9, temos mais uma referência - "De sorte que era bem necessário que as figuras das coisas que estão no céu assim se purificassem; mas as próprias coisas celestiais com sacrifícios melhores do que estes. Porque Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu" (Hb. 9:23,24).
Existe um modelo e existe uma realidade. Um modelo estava aqui na terra, dado a Moisés, mas as realidades celestiais permaneceram no céu.
O Judaísmo era simplesmente esse modelo de coisas que estão céus, estabelecidas aqui na terra. Tudo formal e externo, apontando para uma realidade celestial, na qual tudo é Cristo: Cristo - o tabernáculo de Deus, a habitação de Deus; Cristo - o sacerdote de Deus; Cristo - o sacrifício de Deus; Cristo - a nova aliança de Deus; Cristo - o Cristo celestial, "Eu desci do céu" (João 6:38) "Eu sou de cima" (João 8:23). Cristo - a realidade celestial; no modelo judaico, tudo apontava para Ele, e quando aqueles irmãos vieram a Cristo, eles saíram de um modelo terreno de coisas para uma realidade celestial livre. No entanto, isso provou ser um caminho muito custoso, porque estas coisas terrenas, mesmo que sejam relacionadas com Deus e para Deus, e embora, na sua inserção, tenham vindo de Deus, foram fixadas aqui, como coisas muito rigorosas. Elas têm uma influência cruel, e nas mãos do homem, se tornam um meio de governar e dominar, e se as abandonarmos, inferindo que as repudiamos, não poderemos escapar facilmente. Descobriremos que elas têm tanta influência, que podem exercer um efeito tremendamente prejudicial em nossa vida temporal aqui. O Judaísmo estava totalmente estabelecido na terra e totalmente difundido em cada povoado e cidade, e por toda a zona rural. Em todo lugar estavam os que pregavam Moisés, e eles poderiam tornar impossível a realização de negócios - a concretização do comércio poderia se tornar impossível para aqueles que não se conformassem àquele sistema.
Esse tipo de coisa é o que estes crentes enfrentaram. Eles perceberam que haviam sido deixados de lado, bloqueados, excluídos, exilado, banidos em suas vidas corriqueiras e sociais. Com este sofrimento e estas dificuldades sobrevindo sobre eles e suas famílias, eles eram fortemente pressionados, a ponto de olhar em volta, buscando um caminho mais fácil. Em todo o tempo havia o forte argumento de que eles tinham abandonado Deus, de que eles tinham deixado o que Deus trouxe à existência, o que Deus havia selado através de longas gerações. Quando você tem argumentos como esse em tempos de intenso sofrimento, quando você vê seus filhos em privações e toda a sua vida se tornando extremamente difícil, não é fácil permanecer firme em sua posição.
Assim eles contemplaram um caminho mais fácil e, no mínimo, estavam em perigo de fazer concessões, ao tentar permanecer com Cristo e ainda continuar com a velha ordem, tendo as duas coisas juntas. Desta forma, para livra-los de voltarem para as obras mortas, esta carta foi escrita, a fim de mostrar quão impossível é chegar à plenitude de Cristo pela linha das coisas terrenas e delimitadas, mesmo que estejam ostensivamente relacionadas com Deus; coisas religiosas.
Portanto, havia esta ênfase na necessidade de uma posição absolutamente livre e desimpedida logo no início, de estar com o Senhor onde tudo fosse de caráter celestial, vivo e orgânico. Orgânico significa ser governado pelo princípio da vida, não da forma, repetição, ritual ou tradição, mas somente a vida operando livremente e se expressando de acordo sua natureza. Dando a forma da sua própria natureza ao organismo.
É por isso que a vida cristã começa com ressurreição. A ressurreição é a entrada para uma nova vida. Mas, mesmo na ressurreição, tem que haver um despir e um abandonar dessas coisas que nos prendem à morte. Era o costume de lá, e é no Oriente, enfaixar os cadáveres em vestimentas de sepultura, atando-os da cabeça aos pés. Quando Lázaro saiu para fora do túmulo pelo chamado do Senhor, tinha suas mãos e pés ligados com ataduras, e o Senhor disse: "Desatai-o e deixai-o ir!". Essas ataduras são o que Hebreus 6:1 quer dizer por obras mortas, "arrependimento de obras mortas". Quais são as ataduras do Judaísmo? Simplesmente as velhas formas externas e terrenas, ordenamentos da lei, da religião. Estas devem ser despidas. Tem que haver um arrependimento das obras mortas. Acredito que nossa ideia de arrependimento é geralmente definida por algum tipo de aflição, um derramamento de lágrimas penosas ou ficar extremamente pesaroso. Esse não é o significado completo da palavra "arrependimento". Arrependimento simplesmente significa "virar as costas". Quando nos arrependemos de nossos pecados, viramos nossas costas com tristeza, talvez com lágrimas, mas o arrependimento real não é lágrimas nem tristeza; é virar as costas em direção exatamente oposta, mudar a direção para onde as coisas estavam indo. Arrependimento de obras mortas é deixar as ataduras.
Talvez você esteja pensando que isto é pouco apropriado para uma reunião como esta, pois nós conhecemos essas coisas muito bem e todos nós temos sido mais ou menos libertos de tudo isso. Mas, permita-me lhe dizer que este tipo de coisa, estas obras mortas ou faixas do Judaísmo, não são somente algo externo, mas é uma tendência persistente. É tão fácil tornar qualquer coisa do cristianismo num sistema terreno e fixo, como o foi com o Judaísmo. Podemos tornar qualquer coisa aqui num sistema, em algo estabelecido e definido para que tenhamos que nos conformar a ele. Esta é uma tendência que descobrimos sempre brotando e se expressando - um conjunto de doutrinas, uma determinada interpretação, uma apresentação ou um lugar onde um determinado ensino é transmitido e se tornou estabelecido - algo relacionado àquele lugar em que eu pertenço como “nós fazemos isto e não fazemos aquilo”. Isso é puro e simples Judaísmo e pode se tornar imediatamente legal, algo trazido a esta terra, algo que se tornou estabelecido. No momento em que assim se torna, o princípio orgânico é ferido.
A abordagem é inteiramente em outra direção. Você e eu nunca erraremos e não falharemos em chegar a todo o pensamento de Deus em cada direção, conexão e aspecto, se estivermos nos movendo pelo espírito da vida em direção exclusivamente ao Senhor Jesus. Assim, as coisas simplesmente acontecerão - e esta é a beleza de tudo isso, aqui está o descanso, esta é a marca da maturidade.
Permitam-me dizer com total liberdade e de maneira bastante simples: Existem dois caminhos na experiência cristã, à medida que prosseguimos com o Senhor. No início, quando não tínhamos muita experiência, podíamos ver mais daquilo que o Senhor quer. O que ele quer, em relação às vidas crucificadas, é identificação do Seu povo em Sua morte, sepultura e ressurreição. Depois, em relação à igreja, Ele quer a natureza celestial e espiritual dela. E, em relação à igreja local, uma expressão local do Corpo de Cristo. Chegamos a ver alguma coisa a esse respeito. Mas depois veio a nossa tendência. Ó! Esta tendência persistente e crônica de tentar fazer com que as coisas aconteçam. Tentamos impor o que vimos sobre as pessoas; trabalhamos resolutamente atrás disso; trazemos uma ênfase ao assunto, a fim de impactar as pessoas para que percebam e compreendam o que estamos falando. De fato conseguimos alguma coisa, no entanto, isto não é tudo o que queremos ou o que o Senhor quer.
O Senhor lida conosco, nos conduz às profundezas, nos quebra e esvazia, e nos ensina as lições que precisamos aprender. E dentre elas, a maior de todas as lições é que, uma vez que estamos em linha com o Senhor e estamos livres para Ele, separados, sem amarras, sem conceitos pré-definidos, quando realmente estamos com o Senhor numa posição desimpedida, o próprio Senhor fará o resto para trazer à existência o que Ele quiser. Ele nos diz: "Agora deixe Comigo, mantenha suas mãos distantes; a sua parte é cooperar em oração, talvez em transmitir a palavra, mas Me veja fazê-lo; não force nada, não tente fazer com que aconteça, não tente fazer uma igreja, não tente crucificar as pessoas; mantenha suas mãos afastadas!". Há um maravilhoso descanso numa posição como essa. Você pode dizer que isso é passividade; não, não é. Você está fazendo parte; num sentido e numa maneira, você está participando do sofrimento, você está no conflito, você está pagando o preço, mas não é você que está fazendo a obra. O Senhor está realizando as coisas, tudo está silenciosamente tomando forma, e você sabe que não é você que o está realizando ou que tem a responsabilidade. Esta é a obra do Senhor, o assunto do Senhor. O Senhor o está realizando. Talvez você desejasse de que tudo fosse feito um pouco mais rápido, mas está ocorrendo, está acontecendo, o Senhor o está realizando. É algo orgânico, não algo organizado. Deus está por trás disso tudo e há descanso para nossas almas.
Ora, isso é muito simples. Existe uma diferença enorme entre nos levantarmos para fazer uma coisa, fazer com que ela aconteça, forçar algo, formar algo, realizar algo, e estarmos numa posição tão desimpedida e livre com o Senhor, que somente Ele próprio pode fazê-lo. Ó, quanto necessitamos desse início livre com o Senhor, a fim de nos libertarmos das velhas ataduras de sepultamento. Quão difícil é para muitos que têm sido conduzidos talvez numa ordem fixa, terrena e religiosa de coisas e sistemas, onde tudo é uma questão de “faça” e “não faça”, onde tudo é tão legalista e onde a consciência quase tem sido totalmente atada por causa dos prévios treinamentos recebidos. Quão difícil é se tornar livre, para dar ao Senhor uma posição absolutamente desimpedida, um caminho livre, e isso é tão necessário. Acredite, não vamos chegar a lugar algum até que o Senhor tenha obtido de nós essa posição livre e desimpedida. O problema com muitos é que eles trazem o velho sistema pegajoso das velhas ataduras. Eles ainda estão presos, existe ainda algum tipo de lei lhes agarrando firme, algumas coisas previamente estabelecidas. No entanto, uma das maiores necessidades para o crescimento e desenvolvimento espiritual é uma ajustabilidade permanente.
O pobre Pedro teve que aprender isso. "Nunca me lavarás os pés" (João 13:8). "Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá" (Mat. 16:22). Bem, Pedro, você terá que esquecer essa posição, você terá que voltar atrás no que disse e dizer: "Uma vez falei: nunca lavarás meus pés; faça como você quiser! Uma vez eu disse: Senhor, isto nunca Te acontecerá; agora compreendo que esta é a única maneira, e eu a aceito como o único caminho de saída!".
Marta tinha que aprender a ajustabilidade. Ela chegou muito esquentada e incomodada ao Senhor naquele dia e disse: "Senhor, minha irmã me deixou com todo o trabalho para fazer, mande-a vir e me ajudar!". Bem, Marta, você terá que aprender a esquecer, você deve aprender a ser ajustável! E ela aprendeu. Ela não deixou de servir o Senhor. Não, ela continuou servindo, mas na última ocasião, ela estava servindo em ressurreição. Podemos chamar isso de serviço orgânico, ao passo que anteriormente era um serviço organizado. Era o exterior, as tensões e pressões externas conduzindo. Marta tinha que aprender o descanso em serviço, a obra da vida.
Arrependimento de obras mortas. Logo no início, antes de sairmos em qualquer direção, esta posição celestial, espiritual e viva é muito necessária. Precisamos nos desfazer daquelas muitas coisas que nos têm segurado firmemente de forma religiosa e que não nos conduz ao descanso. Aquilo que nos faz ficar dando voltas o tempo todo. Para isso, o Senhor dirigiu Suas palavras sobre encontrar descanso para a alma. Ele não estava falando para o mundo em geral, mas para o pobre povo judeu a Sua volta, para Israel. Ele disse: "Todos os que estais cansados e sobrecarregados". E continuou: "Tomai sobre vós o meu jugo... o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve" (Mt 11:28-30). Se quisermos entender a que Ele estava se referindo, precisamos nos voltar para outro lugar e O ouvir falando aos Fariseus, os lideres judeus religiosos: eles "atam fardos pesados e difíceis de carregar, e os põem sobre os ombros dos homens" (Mt 23:4). O que eram os fardos pesados e difíceis de carregar? O sistema legalista religioso. A introdução de tudo o que era simplesmente um modelo de coisas celestiais, tornando-as o ápice, algo final e definitivo, ao invés de ser apenas aquilo que apontava para algo mais; fazendo de tudo isso o ponto principal e impondo-o sobre os homens, dizendo: "Agora então, isto e aquilo sim, e isto e aquilo não!".
O pobre povo judeu estava sob esse jugo desgastante de um sistema rígido trazido à terra. Então o Senhor diz: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados!". Pela carta aos Hebreus, podemos entender o que o Senhor quis dizer com essas palavras. Lá está a explicação: "Estas pessoas estão produzindo um jugo pesado e sobrecarregado de sacrifícios, sacerdócios e sistema sacerdotal, para ser guardado e mantido à custa de vocês. Vinde a Mim, Eu sou tanto o Sacerdote como o Sacrifício feito de uma vez por todas. Vinde a Mim e encontrareis descanso para as vossas almas. Meu jugo é suave, Meu fardo é leve!". O peso de uma rígida ordem terrena religiosa é retirado pela vida interior, e não precisamos nos preocupar se vamos perder algo. Esse é o caminho para realizar, atravessar e chegar ao final estabelecido por Deus.
Se formos realmente impulsionados por um relacionamento vivo com o Senhor Jesus, tendo dado à Ele um lugar absolutamente livre, onde não temos nada trazido de uma ordem rígida e o Ele tem um caminho livre conosco, tudo que está na mente do Senhor pode ser realizado e o será. Operará espontaneamente, vai funcionar. Chegaremos ao conhecimento da Cruz e sua operação interior. Não teremos que estudar essas coisas - nós chegaremos até elas. O Senhor fará com que conheçamos a verdade. Chegaremos ao significado do Senhor sobre a igreja, o Corpo de Cristo, sua natureza, sua vocação e sua ordem. Chegaremos lá; irá acontecer e isso é tudo. Enquanto mantivermos um caminho aberto com o Senhor, tudo o que o Senhor tenha em mente virá. Seremos guiados a isso. Irá acontecer porque o Senhor tem este assunto em mãos e tudo isto se volta para a necessidade absoluta de estarmos livres para o Senhor.
Se tivermos algum 'mas' e perguntas - "Mas fui ensinado... e é assim que fui formado!". Se introduzirmos esse tipo de coisa, colocaremos algo no caminho do Senhor. Não quero dizer que vamos simplesmente abandonar e jogar fora as coisas que são vitais, mas você e eu temos que manter, em todo o caminho, uma posição onde o Senhor esteja livre para nos mostrar que mesmo coisas que anteriormente tínhamos pensado e acreditado serem finais e últimas eram, afinal de contas, apenas degraus para algo mais. Elas vinham sendo importantes, mas sua importância era apenas comparativa. O Senhor, por esse processo, estava soberanamente nos conduzindo para algo mais. Não devemos permanecer ali só porque o Senhor nos levou até lá. Devemos nos manter completamente livres para o Senhor nos conduzir além. Essa é a jornada espiritual, uma posição livre com o Senhor.
Vemos muitos do povo do Senhor grudados, fixos, estagnados. Nunca se movem além de um determinado ponto, simplesmente porque encerraram tudo num tipo de conclusividade e, tudo o que não está de acordo a isso, deve estar errado, deve ser suspeito. O Espírito diz, através de João: "A unção que vós receberam Dele, habita em vós, e ninguém precisa que vos ensine; mas... a sua unção vos ensina... todas as coisas" (1 João 2:27). Podemos entender esse versículo erradamente. Podemos dizer: "Muito bem. Eu dispenso os mestres, dependerei da unção!". Não é isso o que João está dizendo. Se olharmos ao contexto, veremos que João está falando sobre Anticristos, "Mesmo agora surgiram muitos anticristos" (1 Jo 2:18). O espírito de Anticristo já está operando. Nessa conexão é que João diz: "A unção que vós recebestes habita em vós e Ele vos ensinará acerca deste assunto; vocês conhecerão, pela unção em vocês, se este é Cristo ou se este é Anticristo, se isto está certo ou errado; a unção os ensinará. Vocês não precisam que alguém chegue e lhes diga: 'tenha cuidado com esse e aquele, ele é um anticristo, um falso mestre'. A unção que vocês receberam os tornará conscientes do que não está de acordo com Cristo. O Espírito em vocês dará testemunho de Cristo, os guardará de acordo com Cristo". Isso é o que João está dizendo. Então lembrem-se do contexto. Ele não diz que você não precisa de nenhum mestre em absoluto. Ele está dizendo que o Espírito em você lhe ensinará todas as coisas em conexão com Cristo, lhe tornará consciente do que é Cristo e o do que não é Cristo. O Espírito lhe trará tudo o que se relaciona a Cristo, se Ele tiver um caminho livre em você. Esse é o caminho do descanso.
É algo muito abençoado, muito repousante, muito agradável, algo pelo qual devemos estar muito agradecidos ao Senhor, quando podemos dizer: "O Senhor me ensinou isso, o Senhor me conduziu nessa direção; foi algo em que o Senhor me deu luz!". Isso significa medida. O oposto disso é quando tudo o que você tem vem de um homem, e tudo o que você é, simplesmente equivale a soma total do que você recebeu de segunda mão. O Senhor não quer que seja assim, mesmo no ministério para o povo do Senhor. O Senhor não o quer porque alguém diz que você deve crer, sair e fazer alguma coisa. O valor do ministério é que o próprio Senhor pode dar testemunho da verdade. O ministério ficará aquém e perderá seu valor para você, a menos que o Espírito Santo torne tudo vivo para você, e você seja capaz de dizer: "Bem, o Sr. Fulano de Tal disse e eu acreditei, ou não, mas o Senhor me mostrou agora que ele estava certo, o Senhor tratou comigo agora, para tornar isso uma realidade muito viva para mim!". E assim crescemos.
Mas a questão é que tudo tem de ser assim: vivo, orgânico, não externamente imposto, mas algo operando no interior. No entanto, isso nunca poderá acontecer até que venhamos para o terreno da ressurreição, o que significa que para começarmos, precisamos estar numa posição completamente nova, desimpedida e livre para o Senhor - o princípio orgânico da vida. Arrependimento de obras mortas, fé para com Deus, fundamentos estabelecidos. Estando então numa posição livre com o Senhor, avancemos, prossigamos, e, tendo em conta essa posição desimpedida, a jornada não precisará ser tão longa.
Este é o caminho do descanso; a vida é o caminho do descanso, e a vida é a expressão do que o Senhor está fazendo livremente em nós, não aquilo que estamos assumindo vindo de fora para dentro. É uma questão de se deixar ser levado pelo Senhor e não de se agarrar tenazmente a alguma ordem de coisas rígidas e estabelecidas; sendo os filhos do Senhor, andando com o Senhor. Acredito que essa nossa pequena meditação servirá de ajuda em relação a esse assunto, abrindo um caminho em nossos corações para o Senhor nos conduzir à maturidade.
Editado e suprido por the Golden Candlestick Trust.