terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Em Contato com o Trono - Capítulo 1 / Parte 5


Oração como Cooperação

Há ainda outros dois aspectos da oração, um dos quais iremos tratar neste capítulo, e outro que deixaremos para mais tarde.

O quarto aspecto é cooperação, e este é o principal objetivo da oração. E fica por trás de tudo mais e irá nos posicionar corretamente quanto à oração em todos os seus aspectos. Comunhão, submissão, petição e conflito são todos ajustados quando reconhecemos que orar é cooperação, pois todos esses outros aspectos e fases da oração visam a cooperação. Cooperação é o motivo, a verdade, a vida, a liberdade, o poder e a glória da oração. O motivo da oração é a cooperação com Deus. O que a oração é na verdade é cooperação com Deus. Para termos vida na oração precisamos reconhecer que ela é cooperação com Deus, e obtemos vida quando a oração entra em cooperação com Deus. Se não estamos em cooperação com Deus, podemos estar certos de que não temos vida na oração. Se estivermos de fato cooperando com Deus, saberemos que temos vida na oração.

A liberdade na oração vem ao longo da linha da cooperação com Deus, e não será até que tenhamos este ajuste, este estar alinhado ao propósito de Deus, que nós ‘teremos êxito’, como dizemos. Imediatamente ao nos alinharmos ao propósito de Deus e ativamente cooperarmos com Ele, aí, então, entramos em movimento e obtemos liberdade.

De certa forma o poder da oração está relacionada à cooperação com Deus. Cooperação com Deus é poder na oração. Pense em Elias, e outros, vindo em cooperação com Deus e da eficácia resultante de suas orações. O que é realizado!

E, então, a glória da oração. A oração se torna algo glorioso quando é inteligente e espiritualmente uma questão de cooperação com Deus. Cooperação elimina o egoísmo e tudo o que é meramente particular. Este é um de seus principais valores, pois significa que a oração deve nos trazer para o propósito Divino, para o método Divino, para o tempo Divino, e para a disposição de Deus. Todas essas coisas são importantes – não apenas conhecer o plano, mas o método de Deus para cumprir o Seu plano; não apenas conhecer o plano e o método, mas entrar no tempo de Deus; e, então, não apenas estar neste lado executivo, mas estar num espírito correto quando o tempo chegar, fazer a coisa no Espírito, do modo do Senhor. Tudo isso é cooperação. Podemos estar na coisa certa, no modo correto, no tempo correto, e, contudo, não estarmos ajudando o Senhor porque estamos numa disposição errada, não na disposição(espírito) do Senhor. Oração em cooperação com Deus é para fazer um ajuste em todas essas questões.

Há três fatores que são essenciais à oração. Em primeiro lugar, desejo; em segundo, fé; e em terceiro, vontade. Acabei de fazer esta declaração e a deixo como está.

Então, quando colocamos juntas a comunhão, a submissão e a petição, temos cooperação. Quando essas coisas seguem juntas e estão ajustadas umas às outras, alinhadas umas às outras e à vontade de Deus, então você tem cooperação.

Talvez, ao encerrarmos esta fase de coisas, precisemos lembrar a nós mesmos de que muito frequentemente o Senhor nos chama para um exercício inicial de nossa parte antes que Ele venha para o nosso lado. Ele, muito frequentemente, requer de nós uma iniciativa na questão do desejo, da fé e da volição. É como a gota de água que tem que ser colocada na velha bomba para produzir o fluxo de água, e você não recebe o fluxo até que dê algo a bomba. E o Senhor apenas pede isto de nossa parte o que pode ser, em comparação, muito pouco, mas que possibilita a Ele aparecer em Sua plenitude. Muito frequentemente a oração em seu início representa exercício de vontade e de fé da nossa parte, e, então, o Senhor responde a isso. Pode ser que o Senhor não responda até que Ele veja o desejo colocado em ação deliberada de fé para se chegar a Ele. Muito frequentemente há uma grande quantidade de desencorajamento envolvido no início da oração, e o perigo é que podemos desistir muito cedo por parecer que não estamos chegando a lugar algum. O Senhor está apenas pedindo aquela gota de água a fim de começar a fluir!


Até agora mencionamos apenas quatro aspectos da oração, e mencionamos algumas dificuldades que surgem em relação a elas, porém não esclarecemos essas dificuldades. Vamos dar dois capítulos inteiros ao quinto aspecto da oração, e, então, continuaremos a tratar grandemente das dificuldades visando buscar respostas a elas. Essas dificuldades, contudo, estão realmente somente no campo da mente, e, embora possam, algumas vezes, atravessarem-se no caminho da fé, a fé irá triunfar sobre elas, e irá deixar para trás uma história de coisas poderosas, apesar deles.

Parte do Capítulo 1 do livro "Em Contato com o Trono" - T.Austin-Sparks

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Em Contato Com o Trono - Capítulo 1 / Parte 4

Oração como Petição

Em terceiro lugar, oração é petição, solicitação, pedido. Tudo é a mesma coisa, seja qual for a palavra que você preferir. Aqui nós tocamos aquilo que é, talvez, o maior aspecto na atividade da oração. Sem dúvida alguma, este tipo de oração tem um espaço amplo nas Escrituras, e define o significado da palavra ‘oração’.

Do ponto de vista escriturístico, a oração é corretamente tomada significando petição, e, se você percorrer a Palavra de Deus, irá descobrir essa representação em uma quantidade esmagadora. Talvez não precisemos de muitos argumentos ao longo dessa linha para provar ou persuadir que é desta forma, mas estou muito convencido de que, antes de prosseguirmos, iremos ver que uma nota de ênfase é necessária, pois, afinal de contas, nossos maiores problemas surgem na direção do pedir, no campo da petição. Iremos continuar orando, naturalmente, e iremos continuar pedindo, apesar de tudo. Acredito que iremos. Porém, é bom termos a base bem colocada para a petição, o requisitar e o pedir, e precisamos reconhecer claramente, estando totalmente assegurados de que há um objetivo eficaz na oração. Eu não tenho dúvida de que todos nós, em algum momento ou outro, temos alcançado muito pouco com as nossas orações de petições devido a alguma ponderação mental que entra e enfraquece a certeza.

O que estou falando é sobre a eficácia objetiva da oração, isto é, oração que tem poder para mudar as coisas objetivamente, e não meramente ter uma influência sobre nós interiormente. Estou falando da oração que traz respostas exteriores a nós, petições, pedidos estabelecidos contra todos falsos argumentos, tais como: ‘a onisciência Divina torna a oração desnecessária’; ‘Deus conhece tudo; sabe o que irá fazer, como irá fazer, e conhece o fim de todas as coisas desde o início, assim, para que orar?’ Ou, novamente: ‘a bondade Divina torna a oração supérflua’. ‘Deus é bom, compassivo, misericordioso e longânimo. Ele somente irá fazer o melhor, pois Ele é amor, assim, a oração é supérflua.’ ‘Por que pedir ao Senhor para fazer o bem, para ser gracioso, para mostrar benignidade e para fazer o melhor para nós? Por que não confiar na bondade de Deus?’ A oração é supérflua. Ou mais: ‘a preordenação Divina torna a oração inútil’. ‘Se Deus estabeleceu as coisas eternamente, então é inútil orar.’

Ou, seguindo esta linha da soberania de Deus – ‘o fato de Deus controlar e governar, de estar no trono do governo e possuir todas as coisas em Suas mãos e em Seu poder – isto torna a oração em falta de fé’. ‘Por que pedir, por que orar, quando todas as coisas estão nas mãos de Deus e Ele está governando e dirigindo tudo em Sua soberania?’ Mais ainda: ‘a vastidão da lei e do propósito de Deus torna a oração presunçosa.’ ‘É presunção pedir a Deus para mudar as coisas quando Ele tem fixado todas as coisas de acordo com as Suas leis eternas, e as coisas estão se movendo conforme a ordem estabelecida.’ ‘É presunção esperar que o Senhor saia de Sua ordem, ou pedir a Ele para assim fazê-lo.’ (Veremos mais sobre isso no capítulo 4).

Então, você pode não ter colocado as coisas dessa maneira, e essas questões podem nunca ter surgido em sua mente desta forma, porém eu me atrevo a sugerir que, tenham aquelas palavras estado ou não em sua mente, tenha você colocado ou não as coisas desta maneira, o que está contido nelas têm, de tempos em tempos, penetrado sutilmente em sua vida de oração, tem a afetado, tem tirado um pouco da sua força.

Quando você se coloca em oração, algo indefinível tem entrado em cena: 'Bem, o Senhor sabe o que Ele irá fazer, então por que irei pedi-Lo? O Senhor é bom e gracioso, assim, por que devo eu pedir? O Senhor conhece o fim desde o princípio, então, por que não deveria eu confiar nele? O propósito do Senhor está estabelecido, então, por que deveria eu começar a lutar com Ele para mudar as coisas? Ele irá realizar o Seu propósito, e a Sua mente está determinada, então, quem pode mudá-la?’ A oração é afetada, se não pela própria definição da linguagem mental, por este senso de contradição que surge. Todas essas coisas entram na mente ou no coração, e têm uma tendência de impedir ou enfraquecer a oração, e nós teremos que lidar com estas coisas mais plenamente na medida em que avançamos. Precisamos reconhecer que o modernismo do nosso tempo realmente põe de lado a eficácia objetiva da oração, e apenas lhe dá um valor subjetivo, isto é, sua influência salutar sobre aquele que ora, fazendo uma troca de, talvez, comportamento, mente, ou razão, por certas qualidades de reverência e coisas semelhantes.

Antes de abordarmos algumas dessas coisas mais plenamente, deixe-me dizer que há duas coisas que devem ser sempre mantidas em mente na oração peticional. A primeira é a necessidade dos outros dois aspectos, comunhão e submissão. Por oração peticional, considerando tudo o que dissemos e cremos, e com o qual, afinal de contas, iremos prosseguir, a necessidade básica para ela é a comunhão com o Senhor de modo que a oração não se reduza meramente a pedir coisas, mas seja fruto de um companheirismo sincero com Ele. E isto requer submissão, de modo que as nossas petições não sejam para os nossos próprios fins ou interesses pessoais, mas que, tendo sido trazidas pela submissão em alinhamento à vontade de Deus, estejam baseadas na comunhão com a vontade de Deus. Você irá ver que estou apenas colocando de outra forma aquilo que está perfeitamente claro na Palavra de Deus, a saber: ‘Se pedirdes alguma coisa segundo a Sua vontade’. Isto é submissão.

Em seguida a outra coisa a se ter em mente na oração peticional é que, à vista de todas as dificuldades mentais que mencionei, ela torna-se proeminentemente um ato de fé. São essas dificuldades mentais que muito amplamente tornam a oração peticional um ato de fé. Sim, decida se você irá seguir ao longo dessas linhas sobre a soberania de Deus, predestinação, e assim por diante; contudo, cremos que Deus irá mudar as coisas. Apesar de todos os argumentos que poderiam minar e enfraquecer a oração, iremos continuar pedindo. Isto torna a oração peticional um ato proeminentemente de fé. Você pode dizer que é uma maneira muito simples de defini-la. Bem, nós ainda não terminamos, mas esta é a conclusão que temos que chegar. Não queremos sair disto facilmente.

Parte do Capítulo 1 do livro "Em Contato com o Trono" - T.Austin-Sparks

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Em Contato com o Trono - Capítulo 1 / Parte 3


Oração como Submissão


Então, em segundo lugar, oração é submissão. Neste ponto precisamos estar conscientes da possibilidade de, em termos, uma contradição. Oração é submissão. A inércia passiva, chamada de confiança, não é oração. Temos ouvido pessoas falarem sobre confiança, que para eles significa apenas passividade e  ausência de ação, porém, isto não é oração. Submissão é sempre algo ativo, nunca passivo. Ela sempre envolve a vontade; não a descarta. Preste muita atenção nisto. Muitas pessoas pensam que apenas se apoiar confiantemente no Senhor é submissão, e suas palavras ao Senhor assumem características a partir de tal estado, porém, isto não é oração. Aquiescência cega às coisas não é submissão. Submissão significa alinhar-se ao propósito Divino. Isto pode significar conflito, e irá, quase que invariavelmente, significar ação e irá trazer a vontade. A oração, seja qual for o ponto de vista a que você se referir, é sempre positiva. Jamais passiva. 

Confiança é uma outra coisa, e ela não entra no campo da oração. A fé entra no campo da oração, mas a fé é sempre algo ativo, nunca passivo. A fé pode exigir uma batalha - e muito frequentemente exige - para se chegar a um lugar de descanso, porém, o ‘descanso da fé’ não é o que temos chamado de aquiescência cega. O ‘descanso da fé’ significa que o último estágio de ajuste ao propósito Divino foi alcançado. Submissão não é meramente a supressão do desejo, mas o trazer o desejo alinhado à vontade de Deus, e, se for necessário, mudar o desejo. O desejo pode ser algo muito forte, uma poderosa força propulsora, porém tal força precisa estar totalmente sob controle, a fim de que possa se ajustada na direção de outra força maior. Para puxar um trem, uma tremenda quantidade de força é exigida, porém, um trem moderno está tão arranjado que uma poderosa força propulsora que o leva adiante pode, num instante, ser direcionada para os freios, a fim de pará-lo. Na oração onde a submissão está em vista, isto é o que muito frequentemente acontece. A força do desejo tem que ser detida numa direção e ser trazida para outra, de talvez nos impedir de avançar, trazer-nos a uma parada na vontade de Deus. Isto é submissão. Submissão é algo ativo, positivo.


Eu antecipo que haverão muitas questões em relação a isso, mas é muito importante reconhecer que a oração, em seu segundo aspecto, é submissão, e que isso é algo positivo. Não é apenas se prostrar diante de Deus e dizer: ‘Bem, eu creio que tudo irá sair bem. Eu apenas concordo com as coisas do jeito que estão e as deixo com o Senhor.’ Submissão é estar positivamente alinhado à vontade de Deus, ao propósito de Deus. Isto muito frequentemente significa profundo conflito, e, algumas vezes, pesar, mas é necessário. Iremos falar sobre isto mais adiante.

Parte do Capítulo 1 do livro "Em Contato com o Trono" - T.Austin-Sparks

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Em Contato com o Trono - Capítulo 1 / Parte 2



Os Cinco Aspectos da Oração


Agora estamos aptos para prosseguir com a questão da oração propriamente dita. Em primeiro lugar, quero falar um pouco sobre a natureza da oração ou daquilo que a constitui, a partir de seus diferentes pontos de vista. E, embora possam haver muitos outros aspectos, penso que podemos dizer que a oração possui cinco aspectos principais: comunhão, submissão, petição, cooperação e conflito. Oração é cada um deles, e a oração, em sua plenitude, requer ou envolve todos eles.

Oração como Comunhão


Primeiramente, oração é comunhão, é companheirismo, é amor abrindo o coração a Deus, e este é o fundamento de todas as formas verdadeiras de oração. Podemos associá-la às duas atividades principais do nosso corpo humano. Quando falamos do corpo físico, falamos de algo que é orgânico, e, então, do que é funcional. Um problema orgânico é algo muito sério, mas um problema funcional pode não ser tão sério, e a oração como comunhão, toma o lugar daquilo que é orgânico em nosso corpo. Uma parte de nossa constituição orgânica é o nosso fôlego, que chamamos de respiração. Você nunca para a fim de pensar nisto! Nunca questiona, dizendo: ‘Será que irei dar outra respirada?’ 'Será que irei respirar?’ ou 'Quantas respiradas mais irei dar hoje?’ Você pode fazer isto sobre uma refeição, pois isto é algo funcional, mas jamais sobre a sua respiração, pois é orgânico. Você pode discutir se irá caminhar, falar, pensar, e pode dizer a si mesmo que irá parar de pensar, caminhar ou falar. Isto é funcional. É controlado e deliberado, mas você não faz isto com a sua respiração. Ela continua. Mas, se a sua respiração pudesse parar, o seu caminhar, falar e pensar iria parar também, de modo que a respiração é fundamental para o resto.

E a oração como comunhão, é na vida espiritual o mesmo que a respiração é na vida física. A comunhão com Deus é algo contínuo, algo como a respiração que é incessante, ou deveria ser. Ela difere completamente das atividades funcionais periódicas tais como a alimentação. A respiração é completamente involuntária; é algo não deliberado. Nós podemos chamá-la de hábito, e um hábito é algo que facilmente foge da consciência plena de alguém que está viciado nele. Nós fazemos coisas habitualmente sem estarmos conscientes no momento em que as estamos fazendo. Quando um hábito está plenamente formado, ele simplesmente passa a fazer parte do nosso procedimento, e a comunhão com Deus é isto – algo que prossegue. Oração como comunhão é simplesmente isto: nós estamos em contato com o Senhor e, de forma espontânea e involuntária, abrimos o nosso coração para Ele. Esta é a primeira coisa fundamental em toda oração, e é algo no qual precisamos prestar atenção. Embora nunca discutimos se vamos respirar ou não, existe algo semelhante a desenvolver uma respiração correta, e neste sentido precisamos prestar atenção em nossa respiração.

Penso que, de todas as pessoas que já conheci que tivesse exemplificado esta vida orgânica de comunhão com Deus, o Dr. F. B. Meyer foi notável. Não importava onde ele estivesse, ou quais fossem as circunstâncias, ele parava de repente, talvez ao estar ditando uma carta, numa conversa, numa reunião de negócios, e apenas dizia: ‘Pare um minuto!’ e orava. E este era o seu hábito na vida. Ele parecia estar a todo o momento em contato com o Senhor. Era como a respiração para ele, e creio que isto representou um dos segredos de sua vida frutífera e do valor de seu julgamento nas coisas do Senhor. Somente aqueles que tinham contato íntimo com ele, especialmente nas reuniões executivas difíceis, sabiam o valor daquele julgamento espiritual que ele trazia para suportar as situações. E isto parecia chegar a ele simplesmente desta forma, como que do Senhor.


Bem, isto é oração em sua base. É comunhão, é companheirismo e abertura espontânea de coração ao Senhor. Não é toda a variedade de oração, mas é a vida vivida em suporte a todas as atividades deliberadas, é vida em contato com o Senhor, e é algo muito, muito valioso. Todas as demais orações só são eficazes se tivermos esta. É muito diferente daquele tipo de vida que apenas ora devido a uma emergência, e as emergências muito frequentemente são mais críticas do que precisariam ser porque precisamos encontrar o nosso caminho de volta a Deus, ao invés de já estarmos lá. Penso que muito frequentemente o Senhor permite que as emergências cheguem a nós, a fim de restaurar a nossa comunhão com Ele, comunhão esta que foi perdida. E, na mente do Senhor, o fruto que fica de tal emergência é que nós não devemos perder esta comunhão novamente. Devemos preservá-la.

Parte do Capítulo 1 do livro "Em Contato com o Trono" - T.Austin-Sparks

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Em Contato com o Trono - Capítulo 1 / Parte 1


A Base Divina de Toda a Oração Aceitável


Na medida em que contemplamos o grande ministério da oração, penso que seria de muita ajuda se inicialmente fôssemos lembrados sobre a base Divina de toda oração aceitável. Antes de chegarmos àquilo que pode ser mais técnico, precisamos reconhecer o fundamento espiritual da oração. Este fundamento tem a ver com os ingredientes e com a santidade do incenso que devia ser queimado sobre o altar referido em Êxodo 30, verso 34 em diante.

Não é minha intenção tomar esses ingredientes para exposição, mas simplesmente observar que o Senhor estipulou certas coisas para o aroma da composição, e, então, fez uma declaração muito séria em relação a elas: “...não fareis para vós mesmos conforme a composição do incenso; santo será ao Senhor. Quem fizer composição semelhante, com o mesmo aroma, será cortado dentre o povo”. Esta é a base de toda oração aceitável.

Como sabemos, os ingredientes aromáticos, a composição do incenso, tipificam as excelências morais do Senhor Jesus: Sua graça, Suas virtudes, Seus méritos e Sua dignidade. O incenso não são as orações dos santos, mas é o mérito e a dignidade do Senhor Jesus colocado nelas, misturado às orações, fazendo com que as orações se tornem eficazes e aceitáveis na presença de Deus. Há uma totalidade aqui, visto que os ingredientes são quatro: a perfeição da graça e as virtudes e excelências morais de Cristo. E, então, como você observa, o sal (que sempre fala da preservação das coisas em vida) é misturado a esses outros ingredientes, e isto me parece sugerir que até mesmo a apresentação das excelências morais do Senhor Jesus deve estar sempre livre de mera formalidade fria, que significa morte, e precisa permanecer algo vivo.

É bem possível que uma contemplação do Senhor Jesus se torne algo mecânico e formal, algo que aceitamos em nossas mentes como necessário e verdadeiro, de modo que nos achegamos a Ele mecanicamente baseados nos méritos do Senhor Jesus, enquanto o Senhor quer que isto seja continuamente vivo. A cada nova ida ao Senhor deve haver uma nova apreciação em vida do Senhor Jesus. O sal preserva as coisas da morte, para mantê-las vivas, para mantê-las frescas e ardentes, e nos é requerido ter um entusiasmo de apreciação vivo e permanente dessas excelências do Senhor Jesus. Se for desta forma, então a oração é aceitável e eficaz. O sal não é um dos ingredientes, mas é algo adicionado a eles, e este é incorruptível.

Então temos a própria condição de que nada disso deveria ser fabricado pelo homem para si próprio. Não deveria haver imitação, e não deveria haver nenhuma apropriação particular ou pessoal por parte do homem. Aquilo deveria ser apresentado somente ao Senhor e ser santo ao Senhor, e uma infração a esta regra significava morte. Como sabemos, numa ocasião, a oferta de fogo estranho resultou em julgamento e morte. Assim, somos aqui avisados de que se esta composição fosse fabricada pelo homem, uma imitação dela feita para si próprio e para seus interesses particulares, ele seria cortado de entre o seu povo. As excelências morais do Senhor Jesus não podem ser imitadas. O homem não pode tê-las em si mesmo, e tudo que é fingido não é aceito por Deus. Não há excelências, e não há glória semelhante à do Senhor Jesus.

Aqui temos Deus dizendo de maneira muito definida e positiva que há uma singularidade, uma exclusividade sobre o caráter do Senhor Jesus que é inalcançável pelo homem e que está completamente separado do melhor que o homem possa fazer de si mesmo. Deus vê no Senhor Jesus aquilo que não está em nenhum outro lugar, e, se aproximar do Senhor imitando os méritos do Senhor Jesus significa morte para qualquer homem. Não há nenhum terreno de aproximação a Deus em nossas próprias glórias morais, e é uma blasfêmia terrível falar sobre o sacrifício e entrega da vida de um homem em favor de seus iguais, separado do sacrifício do Senhor Jesus. Isto é uma blasfêmia absoluta, e deve sofrer o mais sério juízo de Deus. Não! Deus não enxerga coisa alguma semelhante as excelências morais de Seu Filho e nos proíbe de tentar trazer qualquer coisa que seja uma imitação delas, algo fabricado pelo homem, que não reconhece a singularidade do Senhor Jesus.


Assim, a base de toda oração aceitável sobre a qual nos aproximamos do Pai é aquela das excelências, glórias, graça, virtudes, méritos e dignidade do Senhor Jesus. Isto é muito simples, mas é básico, e precisamos reconhecer isto antes de podermos chegar a algum lugar em questão de oração.

Parte do Capítulo 1 do livro "Em Contato com o Trono" - T.Austin-Sparks